Ferramentas matemáticas para análise de risco de pacientes ajudam a avaliar qualidade e eficiência no atendimento intensivo
Os escores prognósticos são amplamente utilizados há mais de 40 anos para estimar riscos de pacientes individuais e, mais recentemente, passaram também a ser empregados para avaliar o desempenho das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Estudo publicado no Critical Care Science e realizado com participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) detalha como essas métricas podem ser interpretadas e aplicadas para aprimorar a gestão hospitalar.
O que são os escores de prognóstico da UTI
Sistemas de pontuação como o APACHE IV (Acute Physiology and Chronic Health Evaluation) e o SAPS 3 (Simplified Acute Physiology Score) não são específicos para doenças, mas medem a gravidade das condições dos pacientes no momento da admissão em uma unidade de emergência ou de terapia intensiva. Esses escores combinam variáveis fisiológicas, laboratoriais e clínicas para calcular a probabilidade de mortalidade hospitalar e o tempo de internação previsto na UTI.
A partir destes números, são calculados indicadores de performance da unidade, como a taxa padronizada de mortalidade (SMR), obtida dividindo-se a mortalidade observada pela mortalidade esperada, e o uso padronizado de recursos (SRU), que avalia se o tempo médio de internação foi maior ou menor do que o esperado.
Como interpretar indicadores de performance na UTI
Estes escores prognósticos devem ser usados para avaliar grupos de pacientes, e não indivíduos. O percentual de mortalidade previsto, por exemplo, significa que, dentro de um grupo de 100 pacientes com as mesmas características, uma determinada porcentagem não sobreviverá. Dessa forma, esses índices não serão empregados para decidir intervenções clínicas em casos específicos, mas sim para monitorar e comparar o desempenho das UTIs ao longo do tempo.
Além disso, existem desafios na interpretação dessas métricas. Algumas distorções podem ocorrer, como o viés de transferência hospitalar, em que pacientes transferidos para outros hospitais são considerados vivos, reduzindo artificialmente o SMR. Outras variáveis, como a gravidade média dos casos em uma UTI, podem impactar a precisão das previsões.
Benchmarking e melhoria contínua no atendimento crítico
Para que esses indicadores sejam úteis, é essencial compará-los com padrões reconhecidos e acompanhar tendências ao longo do tempo. Comparações com UTIs de perfis similares são mais relevantes do que com unidades gerais, pois a complexidade dos casos pode variar bastante entre diferentes hospitais e especialidades.
Com o avanço das tecnologias digitais, é possível utilizar plataformas eletrônicas multinacionais, como Epimed, ANZICS e NICE, para benchmarking (comparação de métricas de performance e processos entre UTIs) em tempo real. Esses sistemas possibilitam que gestores identifiquem áreas críticas de melhoria e acompanhem a eficácia de intervenções com dados atualizados constantemente.
Além disso, modelos específicos para diferentes regiões vêm sendo desenvolvidos e implementados para fornecer previsões ainda mais precisas. Essas adaptações levam em conta variações demográficas, epidemiológicas e estruturais, garantindo que os escores reflitam melhor a realidade de cada localidade e aumentando a eficácia da tomada de decisões.
O estudo reforça que o uso rigoroso e pragmático de métricas como SMR e SRU é essencial para a avaliação da performance das UTIs. Compreender as vantagens e limitações desses escores permite otimizar a gestão hospitalar e garantir melhor qualidade e eficiência no atendimento intensivo. O aprimoramento contínuo dessas ferramentas é um passo fundamental para melhorar os desfechos dos pacientes e o uso dos recursos disponíveis.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.
23.06.2025