Estudo em roedores revela consequências do isolamento na celularidade do cérebro e na capacidade de reconhecimento social
A depressão é uma condição complexa e multifatorial que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. O isolamento social é um dos múltiplos fatores que induzem à depressão em humanos e em outros animais, mas não se sabe detalhadamente como a privação de contato com outros iguais pode afetar a estrutura do cérebro, favorecendo problemas de saúde mental.
Para entender melhor esse mecanismo, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em colaboração com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) investigaram as mudanças cerebrais causadas pelo isolamento social em roedores, encontrando diferenças significativas em comparação aos cérebros de animais que não foram isolados. O estudo foi publicado na revista científica Brain Structure and Function. A pesquisa foi conduzida pelo Dr. Daniel Menezes Guimarães, pesquisador do Laboratório de Processamento de Imagens (LPI) do IDOR, como parte de sua tese de Doutorado na UFRJ.
Para entender o impacto do isolamento social nos roedores, os cientistas isolaram filhotes de camundongo de seus pares logo após o desmame. A partir de então, foram avaliados diferentes aspectos comportamentais e anatômicos ao longo do período de isolamento.
roedores isolados exibiram menor peso e prejuízos comportamentais leves, como um declínio na habilidade de perceber, lembrar e interagir com outros membros de sua espécie. O comprometimento da cognição social sugere que o isolamento social durante o desenvolvimento pode ter efeitos duradouros na vida dos indivíduos.
Além de avaliar o comportamento e a cognição dos animais, os cientistas se debruçaram nas mudanças físicas que o isolamento social poderia causar no cérebro dos roedores, analisando alterações na composição celular e na estrutura da substância branca cerebral, responsável pelas conexões neuronais.
Os pesquisadores avaliaram o efeito do isolamento social mais particularmente nos oligodendrócitos, um tipo de célula do sistema nervoso central que é essencial para a produção da bainha de mielina, a estrutura facilitadora da condução dos impulsos nervosos.
Para essa análise da celularidade cerebral, os pesquisadores utilizaram o método conhecido como fracionador isotrópico, que permite uma estimativa robusta do número de neurônios e oligodendrócitos em regiões cerebrais dissecadas. Além disso, eles empregaram técnicas de neuroimagem para analisar a microestrutura da substância branca.
Os animais isolados mostraram menor número de oligodendrócitos em diferentes partes do cérebro, quando isolados socialmente a partir do vigésimo primeiro dia de idade. A redução foi mais pronunciada quando o isolamento foi mantido até a idade de 90 dias, quando comparada a um isolamento mais breve (até a idade de 60 dias).
O tempo de isolamento também impactou o número de neurônios, principalmente no hipocampo, uma região cerebral relacionada ao aprendizado e à memória. Alterações relevantes na substância branca, contudo, não foram detectadas no exame de neuroimagem, mas a redução paralela no número de neurônios e oligodendrócitos pode indicar uma relação direta entre ambas as populações de células.
O estudo aponta que o isolamento social afeta o comportamento e a composição celular do cérebro de camundongos. Embora seja um estudo em roedores, os resultados revelam processos que podem ajudar a orientar futuras investigações e abordagens terapêuticas para a depressão em seres humanos.
Essa pesquisa destaca principalmente a importância de entender os mecanismos biológicos associados à depressão e como os fatores externos, como o isolamento social, podem influenciar no desenvolvimento dessa e de outras patologias. A melhor compreensão dessas conexões pode ser um passo essencial no desenvolvimento de intervenções eficazes para ajudar aqueles que sofrem com essa doença debilitante e estigmatizada.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.
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