Projeto iniciado pela Fiocruz, com apoio do IDOR, realiza divulgação científica em periferias através do Rap.
Em junho do ano passado, ocorria o 1º Hackathon da Divulgação Científica em Saúde. Promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com apoio do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), o evento buscava incentivar a criação de projetos inovadores para a popularização da ciência, oferecendo fomento para as iniciativas mais votadas na competição. Dentre os vencedores, estava a ideia do Rap e Ciência, uma proposta de trazer a aplicabilidade do conteúdo científico através de letras e músicas realizadas na periferia.
O projeto foi idealizado por três participantes do Hackathon, Bárbara Pires, Doutoranda do IDOR, Renata Fortanetto, associada ao Museu da Vida (Fiocruz) e Mariana Souza, da Farmanguinhos (Fiocruz). Após receberem o prêmio para tirar o plano do papel, as então coordenadoras do projeto buscaram participantes que pudessem representar e produzir as músicas de forma legítima, mesclando o conhecimento científico com a realidade das comunidades e da periferia. Os 5 escolhidos para o Rap e Ciência foram os intérpretes Elaiô Vavío, Helen Nzinga, Alexandre Campos (Xandy MC) e Lucas Barbosa (Chaga$), que contam com a produção cultural de Janina Felix, também selecionada para compor o grupo.
Processo criativo e procedimento científico
O Rap e Ciência faz jus ao nome no momento que a composição de suas das músicas passa primeiro pela conversa com cientistas, de forma que os artistas possam entender melhor os temas e tirar suas dúvidas. Em uma das temáticas sugeridas para criação, as arboviroses (doenças transmitidas por insetos, como o mosquito Aedes aegypti), a equipe do Rap e Ciência fez uma visita ao IDOR para ouvir a opinião de cientistas, mas também para falar da aplicabilidade da ciência no cotidiano que veem e que compartilham nas favelas. O resultado foi o rap InsetRima, letra informativa e acessível sobre a prevenção contra doenças como a Dengue, Zika e a Chikungunya, mas que não deixou de fazer críticas ao saneamento nas comunidades, fator que aumenta a incidência dessas arboviroses.
Além de temas sobre as epidemias locais, o grupo também já escreveu sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e circulam por centros de estudo e escolas públicas, dando palestras sobre o projeto e trazendo representatividade em temas como realidade social, sexualidade e etnia, fatores que influem diretamente no conceito amplo da saúde. A saúde mental, por exemplo, também perpassa as rimas dos rappers.
Conheça os Integrantes
Em um bate-papo com cada participante do grupo, nós perguntamos sobre o cenário de cada um na música e da importância de projetos como esse para o cenário cultural. Confira os relatos:
Alexandre Campos (Xandy MC)
A Fiocruz fica localizada em uma região de bastante conflito, conhecida como “Faixa de Gaza”, e ao mesmo tempo tem um cenário de cultura urbana muito forte. A cena do Hip Hop, do Rap, da Poesia e do Slam é bem presente nessa região. É muito complicado fazer a galera entender o que é a Fiocruz, a ciência e a pesquisa quando esses espaços não falam a mesma linguagem da periferia. A oportunidade de trabalhar junto ao Museu da Vida (Fiocruz), conhecer grandes instituições e conversar com pesquisadores era um tanto distante da minha realidade. Mas, a gente viu que a conversa com os cientistas acabou sendo linear, porque eles também aprendiam bastante com a gente. Ao mesmo tempo, foi muito enriquecedor ser “tradutor” da galera periférica através do ritmo e da poesia.
Elaiô Vavío
Fiquei sabendo da criação do projeto quando estava iniciando minha carreira como Rapper. Ao conhecer o Rap e Ciência, rapidamente me interessei, pois eu tenho uma relação muito viva com a ciência: sou autodidata e estudo ciência e tecnologia por conta própria há uns 4 anos. Tenho o desejo de me tornar Neurocientista.
E o impacto do projeto é sempre positivo, voltado para sensibilização e abertura. Sempre somos bem recebidas e recebidos nos espaços por sermos pessoas que dialogam com esses dois mundos. Seja na comunidade ou no laboratório, o Rap e Ciência é sempre bem-vindo. Nas escolas, nosso maior impacto é em relação a diversidade do grupo e a forma como as crianças e adolescentes se identificam com isso. Sempre saímos desses encontros muito emocionadas, pois encontramos ali muitas histórias e sonhos que nos dão forças pra continuar fazendo arte.
Helen Nzinga
Eu sou Rapper. Fiquei sabendo do projeto através de um amigo, que compartilhou comigo a chamada para o Rap e Ciência e eu me inscrevi. Acho que o impacto é sempre positivo: primeiramente, nas nossas vidas, como participantes. Porque a gente percebe uma outra possibilidade de fazer ciência e de faze arte. O papel do Rap nesse projeto é traduzir e difundir de uma forma mais simples esses conhecimentos que geralmente fica em locais e espaços que parte da população não tem acesso, até por causa da linguagem. Então acho muito legal trazer essa possibilidade das pessoas terem acesso à informação de forma simples, que aí elas vão poder entender e se apropriar. Nas escolas públicas, o Rap é uma linguagem que o jovem se identifica muito, e isso ajuda a eles receberem de forma mais aberta essas informações. Essa é a inovação do projeto. E ainda convida outras pessoas a repensar como fazer a ciência e como fazer a arte.
Lucas Barbosa (Chaga$)
Eu já fazia Rap. Comecei a participar de batalhas de rima em 2013, e isso me deu muita vontade de escrever músicas. Vindo da favela, eu mesmo, e as pessoas ao redor não tinham conhecimento sobre certos assuntos da ciência. O projeto proporcionou para a gente o contato com pessoas e locais que talvez não tivéssemos chance de conhecer. Alguns assuntos são tabu, e é bom ver as pessoas e as crianças começam a se interessar e até se inspiram a rimar. Em uma oficina que fizemos, tinha uma professora que tinha parado de escrever depois que perdeu alguém na família, e enquanto falávamos da nossa história e fazíamos nossas rimas ela voltou a escrever. Um texto muito emocionante! A forma teórica às vezes é muito complicada de entender, mas do jeito que colocamos na nossa música damos visibilidade para algo com a linguagem que os jovens gostam de ouvir. Agradeço muito às coordenadoras e ao Museu da Vida pela oportunidade de participar de algo tão bonito.
Janina Felix
O Rap de fato é um gênero musical periférico, a ciência mesmo sendo importante, até mesmo para nosso dia a dia, é um tema pouco desfrutado por nós da periferia. A Fiocruz que é considerada uma das principais instituições mundiais de pesquisa em saúde pública, se localiza ao lado de diversas favelas, inclusive Manguinhos, onde eu moro, e infelizmente quem menos desfruta de tudo são os moradores. Expandir isso para todos é essencial e estar em diversas escolas públicas levando o Rap e Ciência está sendo sensacional! Isso sim é uma grande divulgação científica, compartilhar ciência e arte a quem mais tem sede disso. Em breve iremos produzir um festival para o “encerramento” do projeto e será incrível, com bastante entretenimento, palestras, aulas, e será no Pac de Manguinhos. Continuar levando eventos culturais para dentro da minha favela é prazeroso demais!
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.
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