Diretor de Anatomia Patológica da Rede D’Or falou sobre a importância de conjugar o conhecimento tradicional e já consolidado às modernas técnicas da biologia molecular no atendimento do paciente com câncer.
Uma das especialidades mais tradicionais da medicina, a patologia, no início, tinha como foco principal o estudo dos cadáveres para compreender o funcionamento e as disfunções dos órgãos humanos. No século 20, porém, primeiro com o advento da microscopia eletrônica e depois com a biologia molecular, a disciplina precisou se reinventar. Hoje, tem papel fundamental, por exemplo, na identificação de tumores malignos e nas decisões sobre o melhor tratamento dos pacientes. “Nunca foi tão bom ser patologista”, confessou Fernando Augusto Soares, diretor de Anatomia Patológica da Rede D’Or São Luiz e professor titular da Universidade de São Paulo, em palestra no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) na última quinta-feira (25/10). “Muito diferente do que era 35 anos atrás, hoje, o patologista tem uma participação grande na melhora do paciente”, afirmou.
Soares contou que, da observação dos órgãos, o foco da patologia se deslocou para a célula, com a observação de tecidos ao microscópio, e, em seguida, para componentes moleculares como as proteínas, utilizadas como marcadores para uma série de doenças, inclusive os cânceres. A utilização de técnicas como imunofluorescência e imunohistoquímica reduziu a subjetividade que havia na interpretação das imagens morfológicas e permitiu abordagens terapêuticas mais precisas. Para o palestrante, a patologia não perdeu sua essência tradicional – em suas palavras, “meio arte, meio ciência”, de olhar um padrão histológico e em poucos segundos identificar a doença –, mas ganhou novas ferramentas para complementá-la.
Uma dessas ferramentas é a utilização de biomarcadores, como proteínas que ajudam a classificar, por exemplo, tipos específicos de tumor. O grupo de pesquisa de Soares descreveu uma série de biomarcadores para cânceres de cabeça e pescoço, e busca aplicações práticas para esse conhecimento, como auxiliar os oncologistas nas decisões terapêuticas. “O que queremos é um teste que ajude a determinar a melhor terapia para aquele paciente”, ressalta, explicando que o desenvolvimento de biomarcadores como testes diagnósticos, indicadores prognósticos ou como fatores preditivos à resposta terapêutica está entre as atuais prioridades de pesquisa em patologia.
Essa nova abordagem leva, também, a novos desafios, especialmente no que Soares descreveu como a “transformação de doenças frequentes em doenças raras”, uma vez que se conhece muito bem a particularidade de cada tumor e se pode observar que, embora tenham características gerais em comum, os casos – e as terapias – podem diferir enormemente. “Esse cenário faz com que o patologista esteja cada vez mais na interface investigação-aplicação”, argumentou.
Abordagem translacional e formação profissional
Soares destacou também como a patologia pode, hoje, estar no centro de uma mudança na maneira como encaramos a aplicação do conhecimento científico na prática médica. Para isso, citou como exemplo a abordagem do adenocarcinoma de pulmão, tipo de câncer que mais mata no Brasil. Por muito tempo, havia pouco o que o patologista pudesse fazer em relação à doença; hoje, porém, com a biologia molecular, o profissional da área pode identificar o tipo de mutação genética que deu origem ao tumor e, assim, ajuda a encontrar a melhor terapia para cada caso.
Transformações como essa acontecem, na prática, quando se consegue estreitar a relação entre os profissionais que atuam nos hospitais ou clínicas e aqueles que estão nos laboratórios de pesquisa. Nesse sentido, o palestrante ressaltou a importância das pesquisas translacionais, cuja preocupação maior é levar o conhecimento obtido nos laboratórios até o atendimento direto dos pacientes, nos hospitais e clínicas especializadas. “Como patologista, não vejo possibilidade de desenvolvimento da medicina sem o tripé assistência, pesquisa e ensino”, assegurou, enfatizando que a interação entre médicos de diferentes especialidades e cientistas básicos, bem como a formação de novos profissionais nesse novo modelo de trabalho, é o que fará a medicina avançar. “A integração entre cientistas e o corpo assistencial é fundamental para que passemos a ter perguntas e projetos focados em translação”, apostou.
Essa nova perspectiva da atuação do patologista requer, também, mudanças na formação dos futuros especialistas da área. “Para a nova geração assimilar isso tudo, a gente precisa ensinar patologia de uma forma diferente”, argumentou. “O treinamento de patologistas em formação deve incluir um amplo conhecimento das moléculas de interesse, da genômica até a estrutura proteica, para evitarmos que a nova geração seja reprodutora de testes sem ter ideia do que está testando”.
O palestrante também acredita que é necessário ensinar os futuros patologistas a trabalharem em times multidisciplinares. “Não se pode ensinar, nem aprender, patologia sem a integração de múltiplas ciências, tanto biológicas como em administração e informática”.
?
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |