IDOR participa de duas publicações que podem auxiliar na prescrição de antipsicóticos

A esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico que afeta 21 milhões de pessoas em todo o mundo. Seus sintomas são divididos categoricamente em produtivos (alucinações), negativos (déficits de sociabilidade) e cognitivos, sendo estes últimos relacionados a dificuldades de atenção e execução de atividades rotineiras. O tratamento da esquizofrenia é ainda um desafio, pois o método mais eficaz, que envolve o uso de antipsicóticos, atua apenas no controle dos sintomas produtivos, e cerca da metade dos pacientes ou apresentam respostas limitadas a essa terapia ou acabam abandonando os medicamentos.

Visando aprofundar o conhecimento dessa doença que afeta a qualidade de vida de tantas pessoas, o pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Unicamp, Dr. Daniel Martins-de-Souza, coordenou duas pesquisas recém-publicadas no periódico científico Journal of Proteomics. Os estudos foram endereçados a otimizar a prescrição de medicamentos antipsicóticos e investigar as bases moleculares de alterações cerebrais já observadas em pacientes com esquizofrenia.

A literatura científica já afirma que três estruturas cerebrais estão associadas a sintomas cognitivos e negativos da doença, são elas o cerebelo, o núcleo caudado e o córtex cingulado posterior. No entanto, ainda faltam estudos que investiguem uma base molecular para justificar essas diversidades encontradas nos pacientes. Uma das pesquisas realizadas pela equipe do Dr. Daniel realizou justamente uma análise proteômica dessas estruturas, uma investigação de grupos proteicos encontrados em cérebros de pacientes já falecidos, que foram depois comparados com as proteínas encontradas em cérebros saudáveis.

As descobertas deste estudo relataram desregulações em vias moleculares de todas a estruturas. O córtex cingulado posterior apresentou imparidades em seu metabolismo energético, enquanto o cerebelo foi afetado em seus transportes moleculares e o núcleo caudado mostrou problemas em suas sinapses . Além disso, essas áreas também apresentaram disfunções em seus processos metabólicos e nos oligodendrócitos, células essenciais para o bom funcionamento das sinapses do nosso sistema nervoso central, constatações que podem ser úteis para a criação de novas abordagens clínicas para a esquizofrenia.

No segundo estudo publicado, os cientistas se debruçaram no êxito ainda insatisfatório dos antipsicóticos no tratamento psiquiátrico. Os pesquisadores acreditam que o que dificulta esse sucesso pode estar relacionado ao conhecimento ainda incompleto a respeito do efeito molecular desses medicamentos. Através de outro método de análise proteômica, eles buscaram identificar no plasma sanguíneo de pacientes assinaturas moleculares que pudessem indicar com antecedência a eficácia de dois antipsicóticos atípicos, a olanzapina e risperidona. “A cada surto psicótico, o paciente sofre um declínio em suas funções cognitivas, como capacidade de raciocínio e memória, e esses declínios são difíceis de reverter na psiquiatria. Portanto, predizer quais pacientes responderão bem a cada medicamento é uma descoberta que pode melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas e evitar esses danos. Nosso estudo é um indicador de caminhos para que, no futuro, sejam desenvolvidos testes que possam fazer essa predição”, afirma Dr. Daniel.

Segundo o pesquisador, ambos os estudos apresentam resultados positivos, mas ainda preliminares em relação aos obstáculos encontrados no tratamento da esquizofrenia. Considerando a presente situação pandêmica causada pela Covid-19, pacientes com o distúrbio podem ter seus quadros agravados devido ao aumento de estresse e do isolamento social, o que demanda que cientistas estejam ainda mais atentos para essa e outras doenças psiquiátricas e psicológicas que poderão assolar a população mundial em decorrência da atual crise sanitária.

Escrito por Maria Eduarda Ledo.

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