IDOR recebeu, na última terça-feira, representante da Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade, que tem como objetivo aferir a confiabilidade da ciência realizada no país.
Um resultado científico é confiável se for possível, ao reproduzi-lo de forma independente, obter resultados compatíveis com os originais. Porém, o conceito de reprodutibilidade, embora reconhecido como importante pela comunidade científica, não é colocado em prática com frequência e não costuma ser utilizado, por exemplo, pelas agências de fomento à pesquisa para aferir a qualidade dos resultados de um projeto financiado. Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) decidiu virar esse jogo. Com a Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade, eles querem fazer um estudo sistemático sobre o tema, com foco nas ciências biomédicas. Na terça-feira (27/11), o neurocientista Kleber Neves, que faz parte da equipe do projeto, esteve no Instituto D’Or para apresentá-lo.
Criada em 2018 sob a liderança do também neurocientista Olavo Amaral, professor do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da UFRJ, e com apoio do Instituto Serrapilheira, a Iniciativa tem como meta criar uma rede de laboratórios no Brasil para replicar algo entre 50 e 100 experimentos anteriormente publicados por cientistas brasileiros em revistas revisadas por pares. Cada experimento – usando técnicas bem disseminadas de ensaios celulares e moleculares ou ensaios comportamentais em roedores – será realizado por três laboratórios diferentes, para comparação dos resultados.
O objetivo não é avaliar os autores dos artigos originais nem seus laboratórios, mas a forma como os experimentos são descritos e controlados. “Sabemos que a ciência precisa de um gatekeeper, e normalmente esse papel é da revisão por pares durante o processo de publicação do artigo. Mas não tem funcionado”, alertou Neves. “O artigo não mostra tudo sobre a pesquisa, e os revisores não têm como descobrir o que não está no paper”. A preocupação maior do especialista não são as fraudes nem a má-fé, mas a falta de rigor metodológico.
Para Neves, as formas que temos de avaliar a atuação dos pesquisadores – notadamente, a publicação de artigos – podem levar a algumas distorções, como exacerbar os resultados positivos dos experimentos, pois emplacam mais facilmente nas revistas científicas, e varrer para debaixo do tapete os negativos, mais difíceis de publicar. A falta de formação em estatística entre pesquisadores da área biomédica foi outro fator destacado como responsável pela crise de reprodutibilidade enfrentada por essa área da ciência.
Embora o trabalho da Iniciativa esteja voltado para a ciência brasileira, é possível dizer que o problema da baixa reprodutibilidade não tem fronteiras, e não é novo. Em 2005, o pesquisador greco-americano John Ioannidis, da Universidade Stanford (EUA), publicou um artigo com o polêmico título “Why Most Published Research Findings Are False” (em tradução livre, “Por que a maioria dos resultados de pesquisa publicados são falsos”), em que abordou questões como vieses de investigação, conduta e interpretação de resultados.
Apesar de ser um problema reconhecido, há poucas iniciativas no mundo que procuram medir ou aumentar a reprodutibilidade da ciência – pelo menos de forma organizada. Com a Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade, Neves e colaboradores esperam contribuir para que o Brasil se torne uma referência nessa área. “Seremos o primeiro país com uma iniciativa nacional e sistemática de reprodutibilidade”, afirmou. “Esperamos disseminar esse debate e contribuir para a criação de uma cultura da reprodutibilidade dentro da comunidade científica”.
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