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Um estudo recente, publicado pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e pela Universidade Federal do ABC (UFABC), em parceria com a
Associação Viva e Deixe Viver (Viva), evidenciou que o ato de contar histórias é capaz de trazer benefícios fisiológicos e emocionais para crianças que se encontram em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Sabendo que o processo de internação é um momento delicado, as instituições uniram-se para, através deste estudo, comprovar que a leitura e contação de histórias apresentam resultados palpáveis e com cunho científico, corroborando beneficamente para o quadro do paciente.
De acordo com o Dr. Guilherme Brockington, primeiro autor do estudo, “durante a contação de histórias acontece algo que chamamos de ‘transporte da Narrativa’, ou seja, a criança, por meio da fantasia, pode experimentar sensações e pensamentos que a transportam, momentaneamente, para outro mundo, outro lugar, diferente do quarto do hospital e, portanto, longe das condições aversivas de uma internação”.
Para que pudessem comprovar cientificamente a prática, foram selecionadas, ao todo, 81 crianças, com idades entre 2 e 7 anos e que apresentavam condições clínicas similares, internadas em UTI do
Hospital São Luiz Jabaquara, São Paulo. As crianças foram divididas em dois grupos, onde um participava das leituras de histórias junto à voluntários do Viva e o outro participava de enigmas e adivinhações
propostas pelos mesmos profissionais e durante o mesmo intervalo de tempo. Como ferramenta de comparação entre ambos grupos, foram coletadas amostras de saliva de cada participante com o objetivo de analisar as oscilações de cortisol e ocitocina – substâncias relacionadas ao estresse e à empatia, respectivamente –, antes e depois de cada
sessão.
Ainda que os dois grupos tenham apresentado resultados positivos, uma vez que ambos reduziram seus níveis de cortisol e elevaram os de ocitocina, os resultados do grupo que participou da contação de histórias foram duas vezes melhores do que o grupo das adivinhações, o que levou os pesquisadores à conclusão de que este contraste só poderia se dar em função da atividade narrativa.
Contudo, o estudo mostra não só um novo método terapêutico com cunho científico mas, também, estimula a prática em outros ambientes. Mesmo que a pesquisa tenha contado com profissionais contadores de história associados à Viva e Deixe Viver, os autores afirmam que a prática de contar histórias é uma atividade que pode, e deve, ser praticada de forma igualmente benéfica por pais e educadores, dando espaço para as crianças participarem da escolha e da interação com a história.
Além da redução de ansiedade e estresse, a atividade possibilita estreitar laços entre a criança, o narrador e as outras pessoas presentes na prática.