Testes no Brasil contam com a parceria do IDOR. Segundo estudos, a vacina experimental é segura e produziu resposta imune em voluntários saudáveis. A eficácia e tempo de proteção ainda precisa ser comprovada.
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A vacina experimental contra o novo coronavírus feita em parceria pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca é segura e produziu resposta imune em voluntários saudáveis que participaram de ensaios clínicos iniciais, segundo artigo publicado na segunda, 20/07/2020, na revista médica inglesa Lancet.
Não houve evidências de efeitos adversos graves e observou-se respostas imunes de anticorpos e das células T, outras células de defesa do corpo humano.
“Esperamos que isso signifique que o sistema imune se lembrará do vírus e que a vacina conseguirá proteger as pessoas por um longo período”, disse o principal autor do estudo, Andrew Pollard, da Universidade de Oxford. “No entanto, precisamos de mais pesquisas antes de confirmar que a vacina é eficaz em proteger contra o coronavírus e por quanto tempo a proteção vai durar.”
Michael Ryan, diretor-executivo da OMS (Organização Mundial da Saúde), afirmou que é uma boa notícia ver publicados dados de estudos sobre as vacinas e que o trabalho de Oxford é bem-vindo. “É um bom resultado, mas ainda se refere a adultos saudáveis, em condições controladas. Temos que passar a uma escala maior, para dar novos passos no processo de obter uma vacina.”
A vacina de Oxford e da AstraZeneca é uma das mais avançadas entre as candidatas na corrida pela sonhada imunização contra o coronavírus Sars-CoV-2. Além dela, há apenas outra imunização também em fase 3 (última etapa antes da aprovação final): a desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, feita a partir de vírus inativados. Ambas têm testes previstos no Brasil, um polo de interesse nessa área devido às altas taxas de infecção.
Os resultados publicados com a chancela de uma revista científica de prestígio nesta segunda (20), já anunciados pelas instituições envolvidas anteriormente, se referem à fases iniciais 1 e 2, que em geral têm como objetivo analisar a segurança de uma droga ou vacina. Os testes foram realizados entre 23 de abril e 21 de maio com 1.077 voluntários saudáveis entre 18 e 55 anos do Reino Unido.
A imunização de Oxford usa um vírus para levar material genético do coronavírus para dentro das células. Trata-se do adenovírus ChAdOx1, que causa gripe comum em chimpanzés, mas foi geneticamente modificado e enfraquecido.
A ideia é expor o organismo humano à proteína S (de “spike” ou espícula, o gancho molecular usado pelo Sars-CoV-2 para se conectar às células humanas). Assim, quando a pessoa entrar em contato com o vírus real, seu corpo já terá montado um sistema de defesa contra ele.
Os participantes foram distribuídos em quatro grupos e acompanhados por 28 dias após a vacinação para que a segurança da vacina fosse avaliada.
Efeitos colaterais foram observados nos primeiros dias, e os mais comuns foram dor e sensibilidade no local da injeção e fadiga e dor de cabeça. A intensidade dos efeitos foi maior no primeiro dia logo após a vacinação e diminuiu nos dias seguintes. Nenhum paciente apresentou efeitos considerados de risco à saúde e não houve nenhuma hospitalização relativa à imunização.
Um dos grupos de voluntários, denominado grupo 3, recebeu uma segunda dose da vacina 28 dias após a primeira injeção. Os pacientes apresentaram uma quantidade elevada de anticorpos específicos contra o novo coronavírus Sars-CoV-2 no sangue 56 dias após primeira dose.
Os autores do estudo afirmam, no entanto, que um aumento similar foi observado nos pacientes que receberam apenas uma dose da injeção. A diferença é que naqueles que receberam uma segunda dose houve também aumento de anticorpos neutralizantes no organismo.
Segundo os autores, a presença de anticorpos específicos para a proteína S do coronavírus foi também observada em estudos pré-clínicos com macacos rhesus e pode indicar eficácia na imunização contra a Covid-19.
As fases 2 e 3 do estudo de Oxford pretendem recrutar mais de 10 mil pessoas. No Brasil, essa vacina já está sendo testada desde o mês passado em São Paulo e no Rio, por meio de parcerias com o Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. Os voluntários serão cerca de 2.000 profissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate à Covid-19 e, portanto, têm mais risco de contrair o vírus.
No fim de junho, o Ministério da Saúde anunciou que assinou uma carta-compromisso com a empresa e com a Universidade de Oxford para que a vacina seja produzida no Brasil com a transferência da tecnologia para a Fiocruz, no Rio de Janeiro.
A empresa alemã de biotecnologia BioNTech e a farmacêutica norte-americana Pfizer divulgaram também nesta segunda-feira dados adicionais de sua vacina experimental contra o coronavírus que mostraram que ela é segura e induziu resposta imunológica nos pacientes.
Os resultados se referem a um teste feito na Alemanha com 60 voluntários saudáveis e são divulgados após as companhias anunciarem, mais cedo neste mês, dados de um teste em estágio inicial correspondente feito nos Estados Unidos.
Acesse a reportagem completa de Ana Bottallo e Ana Estela de Sousa Pinto no Jornal Folha de São Paulo.