Assistência integral ao paciente com câncer
Com a construção do Edifício Don Luigi Verzé, o Hospital São Rafael intensificou o conceito de foco no paciente e, agora, o paciente oncológico pode fazer uma consulta e sair com todas as suas necessidades clínicas agendadas e resolvidas em um só local. Isso inclui a realização de cirurgias, exames laboratoriais, de anatomia patológica, medicina nuclear e bioimagem. Além disso, o paciente oncológico também conta com um serviço de transfusão altamente especializado, internação e atendimento de emergência com fluxo preferencial.
O atendimento integrado tem o suporte de uma ala de observação da Unidade de Emergência Adulto, com instalações modernas e leitos preparados para a assistência do paciente com câncer, além de uma unidade exclusiva para cuidados da Leucemia Aguda e de Transplantados de Medula Óssea (TMO) que conta com oito leitos individuais, antecâmara e filtros de ar especiais, além de uma equipe transdisciplinar que possui profissionais altamente qualificados nas áreas de Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia, Nutrição, Farmácia, Serviço Social e Odontologia, com cirurgiões dentistas habilitados para realizar abordagens em situações especiais.
O Transplante de Medula Óssea (TMO) pelo mundo
O nome transplante, por si só, já assusta. Com a elevada mortalidade relacionada ao procedimento, nos anos 70, o transplante ganhou um ar de temor. Longe de ser um procedimento simples e sem riscos, hoje, com o passar do tempo e com a evolução da medicina, o procedimento tem um índice de mortalidade com taxas abaixo dos 5%, nos casos de Transplantes Autólogos (AUTOTMO), quando a medula utilizada é a do próprio paciente. Nos casos dos Transplantes Alogênicos (ALOTMO), quando a medula utilizada é oriunda de um familiar ou do banco de medula óssea, o índice de mortalidade é inferior aos 15%.
A redução dos riscos fez do TMO um procedimento utilizado amplamente, em todo o mundo, tornando-se parte integrante e obrigatória dos grandes centros de Hematologia do planeta. A maior parte das doenças de Oncohematologia terá o TMO como parte do tratamento.
Por que os grandes centros mundiais de Oncohematologia são integrados com seus próprios centros de TMO?
Hoje quase todas as doenças oncohematológicas podem ter no TMO parte importante do seu tratamento. Uma vez que o tratamento do paciente tenha indicação para TMO, é muito importante que este procedimento seja planejado desde o diagnóstico. O transplante hoje faz parte da terapêutica planejada, não é um procedimento que deve ser feito de urgência ou de última hora. Portanto, requer planejamento, preparo do paciente e do doador (no caso do TMO Alogênico), autorização por parte dos planos e operadoras de saúde, entre outras ações.
Quais as principais indicações de TMO?
O que é a medula óssea?
A coleta de medula gera sempre muitas perguntas e, às vezes, a ansiedade por parte dos pacientes e familiares. Existe um medo de que a coleta da medula seja uma cirurgia de grande porte e que a sua retirada cause um dano significativo ao doador. Na verdade, a medula óssea é um tecido líquido e esponjoso encontrado dentro de alguns ossos como a bacia (ou quadril), conhecido popularmente como o tutano do osso. É riquíssima em células-troncos, as quais dão origem à maioria das células do sangue, sendo as grandes responsáveis pelo sucesso dos Transplantes de Medula Óssea.
As células-tronco dão origem aos glóbulos brancos (leucócitos), para combater as infecções; aos glóbulos vermelhos (hemácias) para o transporte de oxigênio; e às plaquetas, que permitem a coagulação do sangue.
Como é feita a coleta das células-tronco?
Antes da coleta, um cateter venoso (geralmente, um cateter de Sorensen, Hickman ou Permcath) é inserido por um cirurgião vascular, em uma veia calibrosa, geralmente na femural (virilha), ou subclávia (pescoço), em um procedimento realizado apenas com anestesia local. Através desse cateter, é possível realizar a coleta das células-tronco sem a necessidade de puncionar mãos ou braços, onde as veias são menos calibrosas e não costumam apresentar um fluxo satisfatório. Este mesmo cateter pode ser utilizado para administrar a quimioterapia de alta dose, outros medicamentos, soro e até mesmo para coleta de amostras de sangue para exames. Se as células-tronco forem coletadas da corrente sanguínea, o procedimento é chamado de coleta de células-tronco do sangue periférico. Este tipo de coleta não é um procedimento cirúrgico.
Ainda antes da coleta, são administradas medicações injetáveis (Filgrastim e/ou o Plerixafor) para estimular a produção e a mobilização das células-tronco para o sangue periférico. Alguns pacientes também recebem quimioterapia associada ao Filgrastim, previamente à coleta, como forma de potencializar a mobilização das células para o sangue periférico, além de ajudar no combate à doença.
As coletas duram geralmente entre três e cinco horas, podendo ser necessária mais de uma coleta para atingir a quantidade suficiente de células-tronco, sendo realizadas sessões posteriores, nos dias subsequentes, conforme a necessidade.
A coleta geralmente é realizada em camas ou poltronas confortáveis. O sangue sairá lentamente pelo cateter e passará por fios flexíveis até chegar a um equipamento chamado Máquina de Aférese, que separa as células-tronco e as armazena em uma bolsa. O restante do sangue é devolvido simultaneamente ao paciente. As células-tronco, em alguns casos, são reinfundidas, após a quimioterapia, ainda “a fresco” (sem congelar). Em outros casos, a bolsa de células-tronco é criopreservada (congelada em baixas temperaturas) até o dia do transplante.
Alguns pacientes se queixam de leve tontura, frio ou formigamento em torno dos lábios. Outros relatam câimbras nos membros, devido ao uso de um anticoagulante, que causa redução transitória do Cálcio. As câimbras geralmente param após a suplementação com Cálcio. Outros possíveis efeitos colaterais incluem dor óssea, dor de cabeça, fadiga ou náusea.
Alguns pacientes são submetidos à coleta de medula óssea central, ao invés de coleta de células-tronco periféricas. Ocasionalmente, um paciente pode precisar realizar os dois tipos de coleta para alcançar o número suficiente de células para o transplante.
A coleta de medula óssea central é um procedimento realizado no Centro Cirúrgico, provoca um desconforto mínimo e poucos riscos. Sob anestesia, uma agulha é inserida na crista ilíaca do paciente (osso primário que compõe a maior parte do osso do quadril), onde há grande quantidade de medula óssea. A medula, um líquido vermelho espesso, é extraída com agulha e seringa, depois encaminhada para criopreservação, ficando armazenada até o dia do transplante.
Múltiplas punções cutâneas e ósseas são necessárias para extrair material suficiente para o transplante. Não são feitas incisões cirúrgicas ou utilizados bisturis, apenas punções cutâneas no local onde a agulha é inserida.
A quantidade de medula coletada depende do peso do paciente e da concentração de células-tronco na medula. Geralmente, um a dois terços da medula são coletados. Apesar de parecer um grande volume, o organismo pode refazer este material em quatro semanas.
Passado o efeito da anestesia, pode haver algum desconforto no local da coleta. A dor é similar à de uma queda e costuma ser controlada com analgésicos comuns. Os pacientes submetidos a esse tipo de procedimento retomam suas atividades normais em poucos dias. Entretando, atividades como subir escadas ou permanecer sentado por longos períodos podem incomodar durante a primeira semana após a realização da coleta.
Regime Preparatório – Condicionamento Quimioterápico
Após a coleta de células tronco periféricas ou de medula óssea central, o paciente é submetido à quimioterapia e/ou radiação (dependendo da doença, podendo durar de um a sete dias), para combater a doença. Este é chamado de regime preparatório ou de condicionamento. A exata combinação e dosagem da quimioterapia e/ou radiação varia de acordo com a doença que está sendo tratada e o protocolo, ou esquema de tratamento preconizado por aquele serviço de transplante.
O Transplante Propriamente Dito
O transplante ocorre entre o primeiro e terceiro dia após o condicionamento, quando as células-tronco coletadas do sangue periférico ou da medula óssea são infundidas através de um cateter central ou periférico. Durante o procedimento, que dura, geralmente, entre 30 e 60 minutos, o paciente pode permanecer acordado, porém um pouco sonolento, devido às medicações administradas antes da infusão (como antialérgicos). Durante a infusão, os dados vitais são verificados com frequência, para observar sinais de febre, calafrios, urticária ou dor torácica. Quando termina o transplante, inicia-se o período de espera para a “pega” medular.
Enxertia – “Pega Medular”
As duas ou três semanas após o transplante são um período crítico. O condicionamento terá destruído sua medula “antiga”, suprimindo temporariamente sua imunidade. Até o momento em que as células-tronco transplantadas migrem para as cavidades dos ossos e iniciem a produção normal de células sanguíneas, há suscetibilidade a infecções e sangramentos.
Drogas chamadas fatores de crescimento (como o Granulokine) podem ser administradas para acelerar a recuperação das contagens celulares. Múltiplos antibióticos e transfusões sanguíneas também serão utilizados para prevenir e combater infecções e anemias agudas. Transfusões de plaquetas ajudam a prevenir sangramentos, caso haja intensa queda plaquetária.
Algumas precauções devem ser tomadas para evitar exposição a vírus e bactérias.
Por que o Hospital São Rafael criou uma unidade exclusiva para cuidados da Leucemia Aguda e de Transplantados de Medula Óssea
A evolução da Medicina mostrou que equipe especializada aliada a uma estrutura física apropriada pode fazer a diferença na assistência de determinadas situações clínicas. Os pacientes hematológicos, por exemplo, sobretudo aqueles com doenças como leucemia aguda, além de transplantados de medula óssea, apresentam situações de imunossupressão e alta complexidade farmacológica. Daí, vem a necessidade de se ter profissionais qualificados, ambientes acolhedores e equipamentos adequados para realizar um atendimento diferenciado, o que inclui a filtragem e o controle da pressão do ar. Em uma unidade como essa, o ar é todo filtrado para reduzir ao máximo as taxas de infecção no paciente. A complexidade da assistência para esse tipo de paciente requer a formação de um TIME de profissionais altamente qualificados e especializados.
Quais profissionais compõe a equipe Transdisciplinar da Oncohematologia e TMO?
A equipe transdisciplinar é composta por profissionais de diversas áreas que trabalham juntos, colocando sempre o paciente como centro da atenção de todo grupo. Formada por médicos hematologistas, infectologistas, odontologistas, nutricionistas, farmacêuticos, assistentes sociais, psicológicos, fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos em enfermagem e pessoal de apoio administrativo, a equipe busca realizar uma abordagem moderna na assistência ao paciente oncológico: a individualização do cuidar. Cada paciente tem uma demanda específica que precisa ser valorizada e atendida. Quando um paciente tem um problema a ser resolvido, uma doença a ser enfrentada, não é só ele quem necessita de atenção: toda a família precisa do cuidado e das orientações adequadas.
Qual a grande novidade da Oncohematologia do HSR para o início de 2017?
O Hospital São Rafael concluirá, no início do próximo ano, a última etapa do ambicioso projeto de Oncohematologia e TMO, com a criação da primeira Unidade Semi-Intensiva para cuidados hematológicos do país, com oito leitos individuais, antecâmara e filtros de ar especiais. Com isso, o HSR será pioneiro neste elevado conceito de assistência de excelência ao paciente imunossuprimido. O foco da unidade será a prestação de cuidados ainda maiores para os pacientes com necessidades especiais, devido a suas doenças de base, como leucemias agudas e transplantes complicados, linfomas e mielomas muito agressivos, entre outros.
Prof. Dr. Marco Aurelio Salvino
Dr. Tiago Thalles de Freitas
Dr. Alessandro de Moura Almeida
Dra. Bruna Magalhaes Gotardo Salvino
Dra. Luciene Oliveira