Qual a contribuição das bancadas de laboratório para o atendimento direto aos pacientes? Sessão temática no VI Congresso Internacional Oncologia D’Or debateu o tema com especialistas.
Na medicina, o conceito de pesquisa translacional representa uma preocupação com o extenso caminho que um novo conhecimento obtido em laboratório precisa percorrer para chegar até hospitais, consultórios e outros espaços de atendimento aos pacientes. Estamos falando, portanto, de soluções para encurtar essa distância e acelerar a implementação de novas técnicas e produtos médicos. Este foi o tema de uma sessão promovida pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) no VI Congresso Internacional Oncologia D’Or, que aconteceu nos dias 9 e 10 de novembro no Rio de Janeiro. De maneira particular, os especialistas falaram sobre o diagnóstico molecular em oncologia e como os avanços científicos na área da genética e dos biomarcadores revolucionaram o tratamento do câncer.
“Estamos na era da medicina personalizada e das terapias-alvo”, iniciou a conversa a médica patologista Isabela Werneck da Cunha, do AC Camargo Cancer Center, em São Paulo, e da Rede D’Or São Luiz. Dá-se o nome de terapia-alvo aos tratamentos desenvolvidos a partir do avanço no conhecimento dos genes, das proteínas e de outras moléculas presentes nas células tumorais, cuja ação é específica sobre elas. Assim, espera-se que os tratamentos, além de mais eficazes, causem menos enjoos, vômitos e queda de cabelos do que as quimioterapias tradicionais – embora tenham também sua cota de efeitos colaterais.
Cunha citou como exemplo importante de pesquisa básica com alto potencial de aplicação o Atlas do Genoma do Câncer (TCGA, na sigla em inglês), coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos e que, de 2008 a 2018, mapeou geneticamente mais de 33 mil casos da doença, descrevendo cerca de 3 milhões de mutações associadas às células tumorais – portanto, um prato cheio para o desenvolvimento de terapias-alvo. Ainda segundo a especialista, os exames genéticos estão cada vez mais baratos e, portanto, mais acessíveis, embora ainda haja desafios para que se tornem, de fato, disponíveis à toda a população. “Precisamos reduzir o contraste que há entre os atendimentos oncológicos nas redes pública e privada”, ressaltou.
Em seguida, o também patologista Fernando Soares, diretor de Anatomia Patológica da Rede D’Or e professor da Universidade de São Paulo, destacou a importância dos biomarcadores e de seu papel na imunoterapia, tratamento contra alguns tipos de câncer que funciona a partir da estimulação do sistema imunológico dos pacientes – e que rendeu o prêmio Nobel de Medicina deste ano ao americano James P. Allison e ao japonês Tasuku Honjo, pioneiros na área. “O advento da imunoterapia na prática diária é fruto de 120 anos de estudos que constituem um fundamento sólido”, afirmou Soares. “O potencial de uso das imunoterapias em pacientes com câncer (e com outras doenças) é praticamente ilimitado, e a adoção de técnicas de associação com outras estratégias deve prevalecer nos próximos anos”.
Biópsia líquida
Médico e pesquisador do IDOR, Marcelo Reis se dedica ao estudo das alterações genéticas presentes nos tumores para desenvolver novos alvos terapêuticos contra o câncer e, também, métodos não invasivos de detecção da doença. Ele apresentou seu trabalho sobre biópsia líquida – a identificação de características tumorais a partir de uma amostra de sangue, em vez do tecido tumoral usado nas biópsias convencionais –, em particular no câncer de pulmão.
“O câncer de pulmão é amplamente estudado do ponto de vista molecular e diversos genes relacionados a ele já foram descritos”, explicou o palestrante. “Porém, é uma doença subinvestigada no Brasil do ponto de vista mutacional”. Segundo o especialista, poucos pacientes realizam testes genéticos. Reis está à frente de um estudo que pretende traçar uma epidemiologia molecular do câncer de pulmão no país, de modo a identificar a prevalência de mutações que caracterizam a resistência do tumor às terapias-alvo. De 2013 a 2018, foram coletados testes em mais de 7 mil casos da doença – o maior levantamento brasileiro sobre o tema.
Oncologista clínico do Hospital São Luiz, Marcelo Fanelli fechou a sessão com a perspectiva do médico que atua bem próximo aos pacientes. “A partir de dificuldades que encontrei na prática clínica, me interessei pelo estudo das células tumorais circulantes (CTC)”, contou. O princípio por trás desses estudos é que os tumores formam metástases a partir da migração de células do tumor original para outras partes do corpo, via corrente sanguínea.
A observação das CTC tem diversas aplicações, como a avaliação prognóstica e a caracterização do câncer, e já vem sendo utilizada em casos de tumores de mama, cólon e pulmão. “As CTC, como biomarcador, têm uma boa sensibilidade e uma boa especificidade, além de serem um método culturalmente aceitável – pois utiliza apenas alguns mililitros de sangue – e de valor clínico validado por alguns bons ensaios prospectivos”, defendeu Fanelli. O médico ressalvou, por outro lado, que ainda é necessário definir alguns valores de referência para disseminar a utilização desse exame, e que se trata de um teste ainda caro, o que dificulta seu uso em larga escala.
?
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |