Pacientes com neoplasias hematológicas apresentaram menor risco de pneumonia associada à ventilação mecânica em comparação a outras situações de imunossupressão 

Um estudo internacional e multicêntrico, publicado na revista Critical Care Medicine, trouxe novas evidências sobre a relação entre diferentes tipos de imunossupressão e o risco de infecções respiratórias em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A pesquisa, que contou com a participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), mostrou que pessoas com câncer hematológico têm menor incidência de infecções bacterianas pulmonares associadas à ventilação mecânica do que outros pacientes imunossuprimidos. 

Infecções respiratórias: um desafio crítico na UTI 

Entre os pacientes que precisam de ventilação mecânica, as infecções respiratórias estão entre as complicações mais comuns e graves. Elas podem se manifestar como pneumonia ou traqueobronquite, condições que aumentam o tempo de internação, os custos hospitalares e, em muitos casos, a mortalidade. 

Com o avanço dos tratamentos contra o câncer e outras doenças, cresce o número de pacientes imunocomprometidos que necessitam de cuidados intensivos. No entanto, até agora, havia dúvidas sobre como diferentes formas de imunossupressão impactavam o risco de desenvolver essas infecções. 

O estudo MIMOSA 

A pesquisa, batizada de MIMOSA, reuniu dados de 118 UTIs em nove países, analisando 854 pacientes imunocomprometidos que precisaram de ventilação mecânica por mais de 48 horas. Entre eles, quase 20% tinham neoplasias hematológicas, enquanto os demais apresentavam outras condições de imunossupressão, como câncer (tumor sólido), transplante de órgãos, uso de medicamentos imunossupressores ou infecção pelo HIV. 

A análise revelou um dado surpreendente: apenas 13,6% dos pacientes com câncer hematológico desenvolveram infecção bacteriana respiratória associada ao ventilador em até 28 dias de internação. Já entre os outros pacientes imunossuprimidos, a taxa chegou a 20,1%. A diferença foi especialmente significativa no caso da pneumonia. 

Bactérias multirresistentes e impacto clínico 

Entre os micro-organismos mais comuns encontrados estavam Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli e Staphylococcus aureus. O estudo também destacou que a presença de bactérias multirresistentes foi semelhante nos dois grupos, ultrapassando 60% dos casos. 

Embora o risco de desenvolver a infecção tenha variado, uma vez instalada, a pneumonia teve impacto semelhante para todos os pacientes: maior risco de morte e mais tempo de permanência na UTI. 

Implicações para o tratamento 

Os pesquisadores destacam que os resultados trazem implicações importantes para o manejo clínico. Em pacientes com câncer hematológico, as infecções bacterianas parecem ser menos frequentes, mas as infecções causadas por vírus ou fungos podem ser uma ameaça ainda maior. Por isso, diagnósticos mais precisos e estratégias de prevenção específicas para esse grupo tornam-se cada vez mais necessários. 

O estudo é considerado um marco por ser o primeiro grande levantamento internacional voltado a comparar como diferentes tipos de imunossupressão influenciam o risco de infecções respiratórias em pacientes críticos. Os autores defendem que futuras pesquisas aprofundem a compreensão desses mecanismos e auxiliem no desenvolvimento de protocolos mais eficazes para reduzir complicações na UTI.