IDOR participa de maior
estudo já realizado no mundo que revela novas alterações cerebrais no Transtorno do
Déficit de Atenção.
O transtorno do déficit de atenção
e hiperatividade (TDAH) é uma condição muito comum que afeta cerca de 5% das
crianças, e na maioria dos casos, os sintomas persistem na vida adulta. Ainda muito
estigmatizado, o transtorno se manifesta como desatenção, agitação e
impulsividade. No maior estudo já conduzido, médicos e cientistas de 23 centros
de pesquisa ao redor do mundo observaram atraso no desenvolvimento do cérebro
dos pacientes com TDAH. Para o Dr. Paulo Mattos, representante brasileiro do
único centro de pesquisa da América Latina do estudo, o Instituto D’Or de
Pesquisa e Ensino no Rio de Janeiro, “esses achados são importantes para
médicos e pais, pois demonstram claramente que o TDAH não é “uma doença
inventada” nem meramente um “rótulo” para crianças difíceis, e não se deve a
falhas na educação pelos pais”.
Até então, estudos anteriores também
haviam identificado algumas alterações, mas devido ao pequeno número de
pacientes estudados, era difícil generalizar os resultados. Mais ainda, devido
a diferentes metodologias, grupos de pesquisa ao redor do mundo obtinham
resultados distintos.
Neste estudo, mais de 3 mil pessoas
(pacientes com TDAH e indivíduos saudáveis) entre 4 e 63 anos, foram submetidos
a exames de neuroimagem estrutural por Ressonância Magnética, técnica que
permite estudar com precisão a estrutura do cérebro. Em seguida, cada região
cerebral foi avaliada através de um mesmo protocolo padronizado de análise em
todos os diferentes centros, obtendo-se informações específicas, como o tamanho
e volume de cada região. Desse modo, os pesquisadores puderam comparar cada uma
das estruturas cerebrais de indivíduos com e sem o transtorno.
Os resultados revelaram que
estruturas como a amígdala cerebral, acúmbens e hipocampo, responsáveis pela
regulação das emoções, motivação e o chamado sistema de recompensa (que
modifica nosso comportamento através de recompensas) são menores nos pacientes
com TDAH. Quando se levou em conta a idade dos pacientes, observou-se que estas
alterações são mais leves em pacientes adultos, o que sugere que existe uma
compensação, ao menos parcial, com o passar dos anos. Esses resultados são a
sustentação mais sólida até o momento que o TDAH é um transtorno relacionado ao
atraso na maturação de regiões cerebrais reguladoras das emoções, pois essas
estruturas estão menos desenvolvidas, principalmente nas crianças.
Outro achado muito importante foi
destacado no estudo: tais alterações não se devem ao uso de medicamentos para
tratamento do TDAH e nem à presença de outros problemas que podem surgir
associados ao transtorno, como ansiedade e depressão.
“É preciso deixar claro que o TDAH
é um transtorno do desenvolvimento associado a alterações no nosso cérebro, e
que precisa perder o estigma e ser tratado de modo apropriado”, completa Dr.
Paulo Mattos, que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).
Para
acessar a página da revista científica The Lancet Psychiatry e o artigo,
clique em: http://www.thelancet.com/pdfs/journals/lanpsy/PIIS2215-0366(17)30049-4.pdf
09.03.2017