Estudo do IDOR revela impacto da resistência a antibióticos em 500 pacientes internados em UTIs durante a pandemia 

As infecções hospitalares por bactérias resistentes a antibióticos são um dos maiores desafios da medicina moderna. Um estudo conduzido pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e publicado no Critical Care Science analisou pacientes internados em 52 unidades de terapia intensiva (UTIs) brasileiras entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020, revelando que infecções causadas pela espécie Enterobacterales resistentes a antibióticos dobraram o risco de morte hospitalar. 

O papel da covid-19 na resistência microbiana 

O estudo comparou de maneira retrospectiva os dados de 250 pacientes com infecção causada por Enterobacterales resistentes a carbapenens, que são uma classe de antibióticos de amplo espectro utilizados em infecções graves. Como parâmetro, outros 250 pacientes infectados por Enterobacterales foram analisados no grupo controle, mas nesses casos as bactérias eram suscetíveis aos antibióticos.  

Os resultados mostraram que o grupo com infecções resistentes apresentou uma taxa significativamente maior de sepse (infecção hospitalar generalizada), apresentando 58% contra 35% do grupo controle. Além disso, o risco de infecção pelas bactérias resistentes foi associado a fatores com maior dependência de assistência e equipamentos e maior taxa de reinternação na UTI. Um dos achados mais alarmantes foi que os casos com bactérias resistentes duplicavam as chances de morte para pacientes internados com covid-19 em um intervalo de até 60 dias após sua admissão. 

Vale destacar que a pandemia de covid-19 teve um impacto expressivo na disseminação de bactérias resistentes. Durante a crise sanitária, o uso excessivo e muitas vezes inadequado de antibióticos levou a um aumento significativo de infecções hospitalares por patógenos multirresistentes. A análise do IDOR evidencia a necessidade de protocolos rigorosos para o uso racional de antimicrobianos nas UTIs. 

Perfis bacterianos e resistência genética 

A pesquisa também mapeou os principais perfis genéticos das bactérias resistentes nas UTIS nacionais. Os resultados apontaram a Klebsiella pneumoniae como espécie mais prevalente em 79% das análises, e ponderam que alguns genes, como o NDM (New Delhi metallo-beta-lactamase, em inglês), podem ser responsáveis por conferir às bactérias maior resistência às principais classes de antibióticos, tornando o tratamento dessas infecções extremamente desafiador. 

O estudo comenta que aumento da presença do gene NDM é particularmente preocupante, pois sugere uma disseminação mais ampla desse mecanismo de resistência, que antes era menos comum no Brasil. A capacidade dessas bactérias de compartilhar genes de resistência agrava ainda mais o problema, dificultando o controle dessas infecções no ambiente hospitalar. 

Como combater a resistência a antibióticos? 

Os achados reforçam a necessidade de medidas urgentes para conter a resistência bacteriana, especialmente nas UTIs. Programas de uso racional de antimicrobianos e monitoramento constante dos perfis de resistência são fundamentais para evitar a disseminação de patógenos multirresistentes. 

A identificação rápida dos genes de resistência é essencial para orientar o uso adequado de antibióticos e melhorar os desfechos clínicos. Tecnologias avançadas de genotipagem permitem detectar esses genes rapidamente, possibilitando intervenções precoces e mais eficazes. 

Além disso, medidas como isolamento de pacientes infectados, higienização rigorosa das mãos e adoção de protocolos de controle de infecção são essenciais para mitigar o avanço da resistência microbiana. A luta contra as bactérias resistentes é um desafio global e requer a colaboração de toda a comunidade científica e médica. 

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.