O Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e Queen’s University do Canadá, publicou um estudo na revista científica The Journal of the Alzheimer’s Association que avaliou o papel que o hormônio irisina e a molécula lipoxina A4 desempenham em pacientes com depressão.
A depressão tem alta incidência na população idosa e é um fator de risco para a demência. Estudos sugerem que alguns fatores biológicos podem relacionar ambas as condições, entre eles estão a inflamação cerebral, a diminuição do volume do hipocampo, sendo essa uma região do cérebro envolvida com o aprendizado e a memória, além dos déficits no fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, do inglês brain-derived neurotrophic factor) que é uma proteína relacionada à manutenção e sobrevivência dos neurônios.
A Dra. Fernanda de Felice, pesquisadora do IDOR e da Queen’s University, no Canadá, vem há anos investigando o papel da irisina, que é um hormônio liberado durante o exercício físico, e por consequência, é capaz de reduzir a inflamação. Em pacientes e em modelos animais com Alzheimer, os níveis de irisina se apresentam reduzidos tanto no cérebro quanto no líquor cefalorraquidiano (LCR) – fluido presente em todo o sistema nervoso. Esse resultado sugere que o aumento de irisina pode auxiliar na memória e na capacidade de adaptação das sinapses neuronais, protegendo o cérebro do envelhecimento. Esse estudo liderado por De Felice foi reconhecido no Prêmio Inge Grundke-Iqbal na Pesquisa de Alzheimer – Associação de Alzheimer do Estados Unidos (EUA), em 2021. Além disso, o grupo de pesquisa também demonstrou, em estudo anterior, que os níveis de irisina e BDNF se correlacionam no LCR.
Já a lipoxina A4 é uma molécula anti-inflamatória, ou seja, atua na resolução de respostas inflamatórias. Estudos sugerem que quando essa molécula apresenta seus níveis reduzidos, o paciente se torna incapaz de atuar em um processo inflamatório e dessa forma, pode contribuir para o desenvolvimento do Alzheimer. Além disso, experimentos com camundongos observaram que quando ocorre a restauração dos níveis de lipoxina A4, gera uma melhora no desempenho cognitivo desses animais.
Levando essas informações em consideração, os pesquisadores analisaram a relação entre irisina, lipoxina A4 e BDNF no LCR de idosos sem depressão (grupo controle) e com depressão que apresentavam comprometimento cognitivo ou não. Os pacientes receberam o diagnóstico na Memory Clinic, serviço do IDOR especializado em problemas de memória em adultos. Para o estudo, amostras de líquor de 61 pessoas foram coletadas por punção lombar e foi avaliado os níveis dessas três moléculas.
O estudo observou que os níveis de irisina, lipoxina A4 e BDNF se mostraram reduzidos nessas amostras. A redução dessas moléculas sugere um mecanismo compartilhado entre o transtorno psiquiátrico, como a depressão e a demência, com o Alzheimer, demonstrando indícios de novos caminhos para estudos.
Os autores do estudo informam que a prevenção da inflamação cerebral anormal nos pacientes com depressão e/ou demência exige a estimulação de respostas anti-inflamatórias. Por isso, são necessárias mais avaliações dos efeitos dessas moléculas no organismo humano. Além disso, fatores como qualidade do sono, eventos estressantes da vida, status socioeconômico e dieta, são associados ao risco de depressão e podem resultar na variabilidade dos níveis de irisina, lipoxina A4 e BDNF observados no estudo. O exercício físico pode ser usado como uma valiosa ferramenta para a depressão e demência, aliviando os sintomas e suavizando o declínio cognitivo. Uma proposta terapêutica à base de irisina pode ser importante para pacientes idosos com depressão grave e demência, além de pessoas com problemas de locomoção ou outras condições relacionadas ao envelhecimento, pois a adesão ao exercício é baixa nesses pacientes. Ensaios clínicos randomizados ainda são necessários para avaliar a segurança, viabilidade e dose ideal para o tratamento de irisina em humanos.
Escrito por Manuelly Gomes
Supervisão: Maria Eduarda Ledo de Abreu
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