Pesquisador do IDOR e finalista do Jabuti Acadêmico na área de Divulgação Científica, neurocientista comenta sobre ciência e memória em livro autobiográfico

Em sua sala no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), o neurocientista Roberto Lent comenta que um certo dia teve um “clique”. Era hora de transformar suas centenas de crônicas, publicadas entre 2019 e 2023 no jornal O Globo, em algo que unisse memória e ciência, vivência e divulgação. Assim nasceu Existo, logo penso – Histórias de um cérebro inquieto, obra que hoje o coloca entre os finalistas da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, na categoria Divulgação Científica.

O prêmio, criado em 2024 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), celebra a excelência da produção acadêmica nacional, e os vencedores serão anunciados no dia 5 de agosto, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.

A dispersão e a conectividade entre vida e ciência

Mais do que um livro sobre neurociência, Existo, logo penso é um convite à mente de Lent. A obra é descrita como uma autobiografia científica em forma de crônicas, com linguagem acessível ao público geral. Entre reflexões sobre plasticidade cerebral, inteligência artificial e educação, surgem também lembranças pessoais, como se o leitor folheasse não apenas um livro, mas um diário de um cérebro sempre em movimento.

Além de pesquisador do IDOR, Lent é Professor Emérito da UFRJ, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e um dos fundadores da revista e do Instituto Ciência Hoje e da Rede Ciência para a Educação (Rede CpE). Em menor palavra, o neurocientista é o que chamamos de polímata, o tipo de estudioso que transita entre várias áreas do conhecimento.

Para muitos cientistas, essa pluralidade de interesses nem sempre era vista com bons olhos. “Na minha trajetória, já fui chamado de dispersivo por colegas e isso me incomodou por muito tempo. Mas existe valor em trabalhar transversalmente, buscar articular os segmentos do conhecimento humano e não focar apenas nos aspectos super específicos e microscópicos da coisa. Hoje me orgulho do meu perfil ‘dispersivo’, mas coloquei inquieto no título do livro, para ficar mais elegante”, brinca o pesquisador.

A inquietude da mente de Roberto Lent define não apenas sua escrita como também sua jornada acadêmica, sua atuação em movimentos estudantis e sua gestão científica. Esse espírito inquieto é também o motor da sua missão de aproximar ciência e cotidiano.

“Divulgar neurociência para um público leigo era o objetivo da série de crônicas que publiquei no Globo. No livro eu acrescento o objetivo de aproximar a neurociência do cotidiano das pessoas. Cada crônica versa sobre um aspecto da neurociência e a parte autobiográfica que acompanha puxa para uma perspectiva vivencial. É o que eu tenho a dizer sobre mim, mas também são coisas que cada um vivencia na sua própria vida”, explica o autor, que aborda temas como saudade, educação, inteligência artificial e plasticidade cerebral em sua obra.

Sobre estar concorrendo ao Jabuti Acadêmico, Lent comemora mais o fato de haver um prêmio dedicado ao crescente reconhecimento da divulgação científica no país. “Qual o impacto de ser finalista? Todos os agraciados representam iniciativas de grande contribuição à divulgação científica. Eu acho que, mais importante do que eu ser finalista, é ver um prêmio para divulgação científica sendo conferido a cada ano”, revela o pesquisador, que tem outra obra de grande visibilidade na área, o livro “Cem bilhões de neurônios?”, publicado em 2001 e agraciado em 2003 com Menção Honrosa do Prêmio Jabuti.

Aos jovens cientistas e a todos os estudiosos que se sentem inseguros com sua pluralidade de interesses, Roberto Lent oferece um conselho simples e provocativo: “Façam as duas coisas. Pesquisem e divulguem. Ser um pouquinho dispersivo é bom. Sejam inquietos.”

Aprendendo a aplicar a neurociência no cotidiano

Além de sua trajetória como autor e divulgador científico, Roberto Lent também é o idealizador e coordenador do curso Neurociência Translacional: Saúde, Educação e Sociedade do IDOR, uma iniciativa voltada à formação interdisciplinar de profissionais que desejam aplicar os conhecimentos da neurociência em diferentes contextos sociais, clínicos e educacionais. O curso, estruturado em 10 módulos semanais, oferece uma base sólida em neurociência associada a três ênfases aplicadas, Saúde, Educação e Sociedade, permitindo que cada participante direcione sua jornada de aprendizado conforme seus interesses e atuação profissional.

A proposta é conduzida por uma nova geração de neurocientistas do IDOR e da UFRJ, que compartilham as descobertas mais atuais da área em encontros interativos e materiais complementares. O curso busca formar profissionais críticos, éticos e preparados para enfrentar os desafios contemporâneos com uma compreensão profunda do funcionamento cerebral. A iniciativa reforça o compromisso de Lent não apenas com a produção de conhecimento, mas com sua circulação qualificada e acessível entre diferentes setores da sociedade. Saiba mais e inscreva-se clicando aqui!

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Escrito por Maria Eduarda Ledo Martins de Abreu