Biomarcadores plasmáticos devem trazer novas perspectivas para o diagnóstico dessas doenças no Brasil
Biomarcadores plasmáticos devem trazer novas perspectivas para o diagnóstico dessas doenças no Brasil
A demência tem se tornado uma das maiores preocupações de saúde pública, especialmente em países de baixa e média renda, como o Brasil. Com o envelhecimento da população, espera-se que a demanda por diagnósticos precisos e tratamentos para doenças como a Doença de Alzheimer (DA) cresça consideravelmente. Publicado na Nature Communications, um estudo recém realizado por pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Neurolife e Queen’s University (Canadá) apresenta avanços promissores na identificação de biomarcadores sanguíneos que podem melhorar o diagnóstico da DA e de outros tipos de demência.
A Doença de Alzheimer é a principal causa de demência no mundo. Com o aumento da expectativa de vida, 70% das pessoas com diagnóstico de demência viverão em países de baixa ou média renda até 2050, segundo estimativas. Nos últimos anos, cientistas têm buscado entender as bases biológicas relacionadas ao desenvolvimento da DA. Parte dessas pesquisas está concentrada em investigar biomarcadores presentes no plasma sanguíneo que podem atuar na detecção da doença de forma rápida, segura e acessível. Isso seria importante, principalmente, para diferenciar a DA de outros tipos de demência.
Vale mencionar que dados recentes do estudo ELSI-Brasil demonstraram que aproximadamente 77% dos adultos com demência no Brasil não chegaram a ser diagnosticados. Além disso, a avaliação do desempenho de biomarcadores na população brasileira ainda é escassa, diferentemente do progresso apresentado em países desenvolvidos.
O presente estudo, liderado pelas pesquisadoras Fernanda Tovar-Moll e Fernanda De Felice, investigou o perfil de biomarcadores sanguíneos em uma coorte de 145 pacientes avaliados na Memory Clinic do IDOR e diagnosticados com diferentes tipos de demência, incluindo a DA, comprometimento cognitivo amnéstico leve, demência com corpos de Lewy e demência vascular, além de controles cognitivamente saudáveis.
Luis Santos, primeiro autor do estudo, usou a plataforma SIMOA (do inglês Single Molecule Array) para analisar moléculas presentes no sangue, como NfL, GFAP, pTau181 e pTau217. Esses biomarcadores têm se mostrado eficazes na detecção precoce de alterações no cérebro relacionadas à demência e podem ser uma alternativa acessível a exames caros como tomografia por emissão de pósitrons (PET) e coleta de líquido cefalorraquidiano (LCR).
Os resultados do estudo mostraram que pTau217 plasmático permitiria a identificação de alterações cerebrais associadas ao Alzheimer, com uma acurácia de 94%. Isso significa que ele pode ser uma ferramenta eficaz para auxiliar o diagnóstico da doença, especialmente em contextos em que exames mais complexos não estão disponíveis.
Outro achado importante foi que o pTau181 se mostrou capaz de distinguir o Alzheimer de outros tipos de demência, mostrando potencial para ajudar os médicos na distinção entre as doenças neurodegenerativas. Além disso, a análise combinada de biomarcadores, como as razões entre pTau e Aβ42, apresentou um desempenho ainda melhor, sugerindo que testes combinados podem tornar o diagnóstico mais preciso e confiável.
A pesquisa ainda apontou a relevância do GFAP, um biomarcador que demonstrou estar relacionado ao declínio cognitivo em pacientes com Alzheimer. Indivíduos com níveis plasmáticos elevados de GFAP e níveis elevados de pTau181 ou pTau217 têm maior probabilidade de apresentar pior desempenho cognitivo do que aqueles com elevação de apenas um desses biomarcadores.
Este estudo é um avanço na validação de biomarcadores sanguíneos para diagnóstico da DA e de outras demências no Brasil e na América Latina, áreas onde o acesso a exames como análise do líquido cefalorraquidiano (líquor) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) são limitados. Com a evolução das terapias, como os anticorpos contra o amiloide, a possibilidade de diagnóstico precoce por meio de biomarcadores acessíveis se torna ainda mais essencial. A introdução desses biomarcadores poderia transformar a forma como as demências são diagnosticadas, ajudando a reduzir o subdiagnóstico e a promover um tratamento mais eficaz.
Escrito por Manuelly Gomes
Revisado por Claudio Ferrari