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Sobreviventes de formas graves da covid-19 podem apresentar risco vascular aumentado associado ao estresse

Sobreviventes de formas graves da covid-19 podem apresentar risco vascular aumentado associado ao estresse

Pesquisa liderada pelo IDOR identificou que sequelas da doença podem interferir nas respostas neural, vascular e cardíaca de pacientes mesmo após a recuperação.

Recém-publicado no periódico científico American Journal Physiology, um estudo brasileiro demonstrou pela primeira vez que os sobreviventes de apresentações graves da covid-19 podem ter um aumento da atividade neural simpática em resposta a situações de estresse mental. O estudo foi realizado pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Colorado Boulder, nos Estados Unidos. Seus resultados são um alerta para a chamada covid longa, sequelas deixadas pela doença a longo prazo e que podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares.   

Embora muitos pacientes se recuperem completamente da doença, estudos anteriores da equipe de cientistas observou sequelas cardiovasculares em pacientes que sobreviveram a infecções graves de covid-19. Foi concluído na pesquisa que essa população passou a apresentar fatores de risco aumentados para complicações cardiovasculares, como excesso da atividade nervosa simpática muscular (ANSM), que tem a aceleração dos batimentos cardíacos como uma de suas incumbências, além de outros problemas, como maior rigidez na principal artéria do corpo humano e disfunções nos vasos sanguíneos periféricos, que são responsáveis pela regulação do fluxo do sangue e da pressão arterial. Esses resultados estimularam a equipe a aprofundar a pesquisa e entender a reação desses pacientes à exposição ao estresse e atividades físicas, fatores que também interferem na saúde cardiovascular. 

A publicação atual analisou 15 pacientes que haviam sobrevivido a internações graves de covid-19, em UTIs ou enfermarias, com diagnóstico confirmado por RT-PCR e níveis de oxigenação equivalentes ou mais baixos que 93%. Como grupo controle, foram escolhidos 15 voluntários que nunca tiveram a doença, não apresentavam comorbidades e possuíam idade e índice de massa corpórea (IMC) semelhantes. A pesquisa foi realizada entre setembro de 2020 e outubro de 2021, na época em que as variantes dominantes eram Beta e Gama, e nenhum participante dos grupos havia sido vacinado. 

Para mensurar os efeitos do estresse, os pacientes e o grupo controle foram expostos a uma atividade de 3 minutos em que slides eram projetados em sua frente e mudavam de imagem a cada 2 segundos, acompanhados de sons conflitantes que eram entregues continuamente através de fones de ouvido. Ao fim da análise, foi concluído que todos os participantes perceberam um aumento similar no nível de estresse, mas que nos pacientes que tiveram covid-19 algumas reações fisiológicas eram discrepantes.  

Para embasamento, os autores comentam que a ANSM desses sobreviventes já é em média 65% maior do que daqueles que não tiveram a doença. Contudo, durante a atividade de exposição ao estresse, o aumento da ANSM em pacientes que tiveram covid-19 foi 128% maior que no grupo controle. 

Respostas vasculares a essa indução de estresse também foram medidas pelos autores, que analisaram o fluxo sanguíneo, função vascular e pressão arterial média através do antebraço de cada participante. A análise mostrou que nos dois primeiros quesitos os aspectos estavam atenuados nos pacientes da covid-19, chegando a ser mais que 100% menor quando comparados com o grupo controle, enquanto a pressão arterial média se mostrou similar em todos os indivíduos. 

O outro teste realizado com os participantes buscou analisar os mesmos marcadores durante estímulos musculares, que eram realizados a partir da contração voluntária das mãos, em movimento de preensão manual (ato de apertar). Neste caso, os resultados observados foram diferentes: a ANSM, o fluxo sanguíneo e a função vascular foram similares entre os grupos, sugerindo que os mecanismos de controle do fluxo sanguíneo no sistema vascular permanecem preservados em sobreviventes de covid-19.  

A única discrepância entre os grupos no teste de preensão manual foi referente à pressão arterial média, que se mostrou reduzida nos pacientes da covid-19, aspecto que os autores acreditam ter relação com as disfunções nos vasos sanguíneos que já eram observadas no grupo. Contudo, os cientistas ressaltam que, mesmo que a resposta neurovascular não tenha mostrado alterações relevantes entre os grupos no exercício de força, outras avaliações com exercícios aeróbicos são interessantes para entender melhor sua relação com a saúde dos pacientes que superaram a covid-19. 

Este estudo foi o primeiro a comprovar que alguns sobreviventes da covid-19 possuem uma ANSM exagerada em resposta ao estresse mental, assim como uma reação atenuada de vasodilatação em comparação com indivíduos que não tiveram a doença. Essa descoberta demonstra, principalmente, que existe um alerta referente ao risco aumentado para doenças cardiovasculares, e que pacientes que sobreviveram a formas graves da covid-19 devem manter-se atentos aos exames de rotina e cuidados com a saúde, mesmo após a aparente superação da infecção. 

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu

24.08.2023

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