Estudo identifica sobrecarga neural simpática e redução da capacidade de exercício em pacientes com insuficiência cardíaca pós-quimioterapia

Um trabalho conjunto de pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), do Hospital Sírio Libanês, do Instituto do Coração (InCor), do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, ambos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Centro Paulista de Oncologia – Oncoclínicas, analisou a relação entre a sobrecarga neural simpática e a capacidade de exercício em pacientes com insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida (ICFEr) relacionada à quimioterapia com antraciclina. O estudo foi divulgado na revista American Journal of Physiology-Heart and Circulatory Physiology.

A ICFEr é um tipo de insuficiência cardíaca em que os ventrículos do coração não contraem de forma apropriada a cada batimento, resultando em um bombeamento sanguíneo ineficaz para fora do coração. O sistema nervoso simpático, entre outras funções, desempenha um papel na regulação da pressão arterial, frequência cardíaca e na atividade do músculo liso dos vasos sanguíneos que fornecem sangue aos tecidos do nosso corpo. A atividade nervosa simpática muscular (ANSM) e a vasoconstrição periférica estão significativamente aumentadas em pacientes com ICFEr, o que contribui para a miopatia esquelética e a usual diminuição da capacidade de exercício.

Medicamentos usados no tratamento do câncer, como a antraciclina, estão diretamente associados ao desenvolvimento de cardiotoxicidade, causando disfunção ventricular sistólica e diastólica, entre outros efeitos cardiológicos.

No entanto, ainda era necessário esclarecer se o tônus nervoso simpático está alterado em pacientes com ICFEr relacionada à quimioterapia com ou sem radioterapia torácica (ICFErCA).

Dezesseis pacientes com ICFErCA, fração de ejeção ventricular menor que 50%, estáveis e em tratamento específico para insuficiência cardíaca foram incluídos no estudo. Além disso, também foram incluídos dez pacientes com ICFEr e dezesseis controles saudáveis pareados por idade, provenientes de estudos anteriores.

Os resultados mostraram que os pacientes ICFEr e ICFErCA apresentaram níveis aumentados de ANSM quando comparados ao grupo saudável. Além disso, a capacidade de exercício se apresentou diminuída nos dois grupos de insuficiência cardíaca, sugerindo que a ativação simpática desempenha um papel na intolerância ao exercício.

O estudo ainda demonstrou que pacientes com ICFErCA apresentam um aumento na frequência de picos de atividade nervosa simpática. Essa informação tem uma implicação clínica, pois se sabe que o aumento da atividade nervosa simpática e a redução do fluxo sanguíneo muscular estão associados a um pior prognóstico nesta população.

Embora tenha sido identificado um aumento na atividade nervosa simpática em pacientes com ICFErCA, os autores informam que as causas subjacentes a essa ativação ainda são complexas e requerem mais estudos. Possíveis mecanismos incluem o controle barorreflexo diminuído, este responsável pelo controle da pressão arterial, ajustando a frequência cardíaca e o tônus simpático vascular. Ainda pode estar relacionado ao controle quimiorreflexo sensibilizado, que desempenha um papel no controle e na regulação das respostas respiratórias às alterações nas concentrações de oxigênio e dióxido de carbono no sangue arterial. Ambas as alterações já foram descritas em pacientes com ICFEr.

Esses resultados são importantes pois podem ajudar a identificar pacientes com maior risco de desenvolver insuficiência cardíaca relacionada à quimioterapia com antraciclina. Além disso, podem levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para melhorar a capacidade de exercício em pacientes com essa condição.

Escrito por Manuelly Gomes
Revisão: Dr. Claudio Ferrari