No último dia 14 de
maio, o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino recebeu a primeira edição
brasileira do Biotech Tonic, evento científico que visa estimular a inovação e a
colaboração. A principal atração do dia foi um bate-papo com o bioquímico Pablo
Valenzuela, da Universidade do Chile, que guarda no currículo feitos como a
invenção da vacina recombinante contra hepatite B e o descobrimento do vírus da
hepatite C. O cientista falou sobre sua trajetória de pesquisa e
empreendedorismo, em conversa com o público mediada pelo biotecnólogo Cristián
Hernandez, da Fundação Ciência e Vida – organização chilena criadora do Biotech Tonic e dedicada à promoção da ciência pelo
desenvolvimento.
A carreira de Valenzuela
exemplifica bem como é possível misturar pesquisa científica e
empreendedorismo. Por um lado, o bioquímico publicou mais de mil artigos nos
principais periódicos mundiais e recebeu láureas como o Prêmio Nacional Chileno
de Ciências Aplicadas e Tecnologia, em 2002. Por outro, foi um dos fundadores,
em 1981, da Chiron Corporation, que mais tarde se tornaria a segunda maior
empresa de biotecnologia do mundo, e responsável por pelo menos 50 patentes.
Parte da explicação pelo grande sucesso que atingiu pode ser explicada por um
período que passou nos Estados Unidos, onde a relação entre pesquisa e inovação
é estreita.
Na década de 1970, o
pesquisador fez estágio de pós-doutorado na Universidade da Califórnia em São
Francisco (UCSF). Naquela época, dedicava-se a entender o funcionamento
molecular de fungos unicelulares conhecidos como leveduras, que, por serem organismos
muito semelhantes às células do nosso organismo, constituem importante modelo para
entender a expressão genética humana. Nesses estudos, injetava vírus nas
leveduras, a fim de identificar alterações moleculares específicas decorrentes
da infecção – foi assim que passou a estudar o material genético do vírus da
hepatite B, utilizado em seus experimentos. Era o primeiro passo para a criação
da vacina.
O processo para a
formulação do imunizante consiste em inserir uma pequena fração do material
genético do vírus na levedura. O fungo passa, então a produzir partículas virais,
inofensivas à saúde humana, mas suficientes para disparar resposta do sistema
imunológico. “O produto das leveduras é tão semelhante ao vírus que tem um
potencial imunológico imenso”, contou Valenzuela. Como o processo é seguro, a
vacina é, atualmente, recomendada para pessoas de todas as idades, inclusive recém-nascidos.
Sua popularização derrubou drasticamente o número de mortes no mundo causadas
pela doença. “Existe grande possibilidade de a hepatite B desaparecer, tendo em
vista a eficiência da vacina”, apostou.
Ciência que vira negócio
Distribuída amplamente
para proteção contra hepatite B e carcinoma hepatocelular – um tipo de câncer
no fígado que pode se desenvolver a partir da infecção pelo vírus –, a vacina
garante hoje para a UCSF uma das maiores receitas entre as universidades
norte-americanas. “A ciência é fundamental para a inovação. Tudo começa com ciência
básica, quando se entende o que se faz. Nesse caminho, é possível identificar
oportunidades”, refletiu Valenzuela, que nem imaginava desenvolver a vacina
contra hepatite B ao iniciar seus estudos com leveduras. Bem-humorado, o
cientista confessou que, na época em que começou o pós-doutorado, sequer sabia
que não existia vacina contra a doença.
Ainda na Califórnia,
Valenzuela criou a Chiron Corporation, em parceria com outros dois cientistas
da universidade, William J. Rutter e Edward Penhoet. A proposta era desenvolver
uma empresa de cientistas para cientistas, concedendo espaço a novas pesquisas
e descobertas, além de fomentar a criação de produtos na área de biotecnologia.
As últimas etapas do desenvolvimento da vacina contra hepatite B foram
realizadas por lá.
A Chiron também esteve
envolvida em outros projetos de grande relevância para a saúde pública mundial.
Por exemplo, foi pioneira no sequenciamento genético dos vírus da hepatite C e da
Aids (HIV), em um momento em que a comunidade médica internacional enfrentava
um grande desafio: frear a ocorrência da transmissão desses vírus durante
transfusões de sangue. Na Chiron, foi desenvolvida a primeira tecnologia capaz
de identificar a presença do HIV e do vírus da hepatite C em bolsas de sangue,
o que aumentou a segurança das transfusões.
Depois dessas
iniciativas de sucesso, a Chiron foi comprada pela gigante da indústria farmacêutica
Novartis em 2006. Valenzuela criou, então, a Fundação Ciência e Vida, instituto
de pesquisa, ensino e inovação ao qual se dedica até hoje.
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18.05.2018
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