Embora represente uma pequena fração dos tumores malignos — entre 1,4% e 4% segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) —, a gravidade desta condição é desproporcional à sua incidência. A cada ano, surgem no Brasil cerca de 11 mil novos casos de tumores do sistema nervoso central, que incluem cérebro e medula espinhal. Entre crianças e adolescentes, o câncer cerebral é a segunda principal causa de morte por câncer, atrás apenas das leucemias.
Quando falamos em câncer cerebral, é essencial entender que existem tumores primários, originados no próprio cérebro (como os gliomas e meningiomas), e tumores secundários, também chamados de metástases cerebrais, que resultam da disseminação de cânceres de outros órgãos, como pulmão, mama e pele (melanoma). Entre os tumores primários, o glioblastoma multiforme é o mais agressivo e de evolução rápida, enquanto os meningiomas são geralmente benignos e exigem acompanhamento contínuo para evitar complicações.
A dificuldade no diagnóstico precoce é um dos grandes obstáculos no enfrentamento dessa doença. Isso ocorre porque os sintomas iniciais são muitas vezes sutis ou confundidos com condições comuns, como estresse, enxaqueca ou ansiedade. Essa demora no reconhecimento pode comprometer significativamente as chances de um tratamento eficaz.
Sintomas de alerta: o corpo fala
O câncer cerebral pode se manifestar de diversas maneiras, dependendo da localização e do tamanho da lesão. Os principais sinais de alerta incluem:
● Dores de cabeça persistentes e progressivas, especialmente mais intensas ao acordar;
● Náuseas e vômitos inexplicáveis;
● Convulsões, mesmo sem histórico anterior;
● Alterações visuais ou auditivas, como visão dupla ou zumbidos;
● Mudanças cognitivas ou de comportamento, como lapsos de memória, irritabilidade ou confusão mental;
● Déficits motores, incluindo fraqueza em membros ou perda de equilíbrio.
Especialistas alertam que qualquer sintoma neurológico persistente por mais de duas semanas deve ser investigado com urgência. Em oncologia neurológica, o tempo é um fator crítico para o sucesso terapêutico.
Diagnóstico: precisão para salvar vidas
Quando há suspeita clínica de tumor cerebral, os exames de imagem são a principal ferramenta diagnóstica. A ressonância magnética com contraste é o padrão-ouro, pois oferece uma visão detalhada da estrutura cerebral e identifica alterações sutis. A tomografia computadorizada, embora menos precisa para pequenas lesões, é útil em situações de emergência, como trauma craniano ou suspeita de hemorragia.
Em casos selecionados, uma biópsia estereotáxica — procedimento minimamente invasivo guiado por imagens 3D — é realizada para coletar uma amostra do tumor e confirmar o diagnóstico histológico, fundamental para definir a melhor estratégia terapêutica.
Vale ressaltar que aproximadamente 20% dos tumores cerebrais são na realidade metástases de outros cânceres. Por isso, ao identificar um tumor cerebral, é indispensável buscar o foco primário em órgãos como pulmão, mama, rim e pele.
Prevenção e autocuidado: o que está em nossas mãos
Embora não exista uma forma comprovada de prevenir tumores cerebrais primários, algumas práticas podem contribuir para reduzir o risco geral de câncer e favorecer o diagnóstico precoce:
1-Reduza a exposição desnecessária à radiação ionizante:
- Evite exames como tomografias sem indicação médica rigorosa;
- Profissionais expostos à radiação devem seguir protocolos de proteção.
2-Adote hábitos de vida saudáveis:
- Dieta rica em antioxidantes (frutas vermelhas, vegetais verde-escuros) e ômega-3 (peixes);
- Atividade física regular, que reduz a inflamação crônica;
- Controle do estresse através de técnicas como mindfulness ou yoga.
3-Atenção à hereditariedade:
- Pessoas com síndromes genéticas associadas a câncer, como neurofibromatose e síndrome de Li-Fraumeni, devem manter acompanhamento rigoroso com neurologistas e oncologistas.
4-Avaliações médicas regulares:
- Mesmo sem sintomas, quem tem histórico familiar relevante deve considerar consultas anuais, incluindo exames neurológicos.
O papel crucial da consulta médica regular
As principais sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), orientam que não há um programa de rastreamento populacional para câncer cerebral. No entanto, a recomendação é clara: persistência de sintomas neurológicos = consulta médica imediata.
Neurologistas podem identificar sinais precoces que passam despercebidos no dia a dia. Já os oncologistas definem condutas para investigar metástases cerebrais em pacientes oncológicos já diagnosticados.
O Maio Cinza é mais do que uma campanha simbólica: é um chamado à ação. A detecção precoce ainda é a melhor estratégia para melhorar a sobrevida dos pacientes. Conhecer os sintomas, buscar orientação médica qualificada e valorizar a saúde cerebral pode fazer toda a diferença.
Se você ou alguém próximo apresenta sinais neurológicos que não desaparecem, não espere: procure um especialista. Informação e atitude salvam vidas.