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O que é a Síndrome de Lynch?

A síndrome de Lynch é uma condição hereditária causada por mutações em genes responsáveis pela reparação de erros no DNA, durante o processo de replicação celular. Essas alterações genéticas comprometem a correção natural desses erros, favorecendo o acúmulo de mutações que podem levar ao desenvolvimento de câncer.
Essa síndrome aumenta significativamente o risco de diversos tipos de tumores, especialmente os cânceres colorretal, de endométrio e de ovário, além de neoplasias no estômago, intestino delgado, trato urinário e sistema nervoso central. Estima-se que cerca de 1 em cada 300 pessoas carregue uma mutação associada à síndrome de Lynch, sendo essa a principal causa hereditária de câncer colorretal no mundo.

Como os genes da Síndrome de Lynch funcionam?

Os genes mais comumente afetados na síndrome de Lynch são MLH1, MSH2, MSH6, PMS2 e, indiretamente, EPCAM. Esses genes fazem parte do sistema de reparo por incompatibilidade de pares de bases do DNA (mismatch repair — MMR), funcionando como “corretores” que identificam e corrigem erros espontâneos que ocorrem durante a divisão celular.
Quando há mutações nesses genes, o mecanismo de reparo falha, permitindo que erros se acumulem no genoma, o que aumenta o risco de formação de tumores. A síndrome é herdada de forma autossômica dominante: se um dos pais possui a mutação, há 50% de chance de transmiti-la a cada filho. No entanto, nem todos os portadores desenvolverão câncer, pois fatores ambientais, epigenéticos e hábitos de vida também exercem influência.

Principais riscos e sintomas

Indivíduos com síndrome de Lynch têm risco cumulativo de até 80% de desenvolver câncer colorretal ao longo da vida, frequentemente antes dos 50 anos de idade, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e de diretrizes internacionais.
Nas mulheres, o risco de câncer de endométrio chega a 39%, e o de ovário, a cerca de 9%. Os tumores colorretais relacionados à síndrome de Lynch tendem a ser mais agressivos e a se localizar, com maior frequência, no cólon direito.
Sinais de alerta incluem sangramento retal, dor abdominal persistente, mudanças nos hábitos intestinais, fadiga inexplicada ou perda de peso não intencional — especialmente em pessoas com histórico familiar de câncer gastrointestinal ou ginecológico precoce.

Diagnóstico: da suspeita à confirmação

A investigação da síndrome de Lynch inicia-se com a avaliação do histórico familiar, utilizando critérios clínicos como os de Amsterdã II ou Bethesda. Quando há suspeita, são realizados testes moleculares em amostras tumorais, como a imuno-histoquímica (IHC) e o teste de instabilidade de microssatélites (MSI), que identificam deficiência no sistema MMR.
A confirmação do diagnóstico requer testes genéticos germinativos (em sangue ou saliva), que identificam mutações nos genes MLH1, MSH2, MSH6, PMS2 ou grandes deleções no gene EPCAM.

Prevenção e acompanhamento

Pessoas diagnosticadas com síndrome de Lynch devem seguir um protocolo de vigilância rigoroso, que inclui:

  • Colonoscopia anual a partir dos 25 anos, ou 5 anos antes da idade em que o familiar mais jovem foi diagnosticado com câncer colorretal.
  • Para mulheres, ultrassonografia transvaginal e biópsia endometrial anual a partir dos 30-35 anos.
  • Endoscopia digestiva alta e exames de urina periódicos, conforme histórico e orientação médica, para rastreamento de outros tipos de câncer associados.

Em alguns casos, cirurgias profiláticas como a histerectomia (remoção do útero) ou a colectomia (remoção parcial ou total do cólon) são consideradas, especialmente após o término do planejamento reprodutivo. O acompanhamento deve ser multidisciplinar, com participação de oncologistas, geneticistas, gastroenterologistas e ginecologistas, visando a detecção precoce e a redução da mortalidade.

Tratamentos e avanços

Quando o câncer se manifesta, o tratamento segue os princípios oncológicos convencionais, como cirurgia, quimioterapia e, em determinados casos, imunoterapia.

Tumores com deficiência no reparo de DNA (dMMR), como os da síndrome de Lynch, tendem a apresentar alta instabilidade de microssatélites (MSI-H), o que os torna mais suscetíveis à ação de inibidores de checkpoint imunológico, como o pembrolizumabe. Esses medicamentos estimulam o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células tumorais com maior eficácia.

A incorporação da imunoterapia representa um avanço importante no manejo de pacientes com tumores MSI-H/dMMR, ampliando as opções terapêuticas e melhorando o prognóstico em muitos casos.

Revisor científico
Dra. Fernanda Frozoni Antonacio
Oncologista Clínica
Rede D’or – Hospital Vila Nova Star e Hospital São Luiz Itaim

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