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Pancreatite e câncer: existe alguma relação?

A pancreatite é a inflamação do pâncreas, uma glândula situada atrás do estômago que produz enzimas digestivas e hormônios, como a insulina. O quadro ocorre quando o pâncreas sofre algum dano, por exemplo, por cálculos biliares, consumo excessivo de álcool, determinados medicamentos, ou por causas genéticas e autoimunes, e leva à ativação das enzimas dentro do próprio órgão, com dor e inflamação.

Quando o pâncreas inflama, suas funções podem ser comprometidas e surgem sintomas que variam de leves a intensos: dor abdominal (frequentemente em faixa epigástrica irradiando para as costas), distensão abdominal, náuseas, vômitos e febre. A gravidade depende da extensão do dano e da presença de complicações locais ou sistêmicas.

Muitos pacientes têm dúvidas sobre a possibilidade de a pancreatite evoluir para câncer. Essa preocupação é razoável, pois inflamação crônica em qualquer órgão pode, em alguns contextos, aumentar o risco de alterações celulares que culminem em tumores. Abaixo, explicamos melhor essa relação.

Tipos de pancreatite

Antes de discutir a associação com câncer, é importante entender as formas clínicas de pancreatite:

  1. Pancreatite aguda
    É uma inflamação súbita, de início rápido, frequentemente muito dolorosa. Na maioria dos casos a pancreatite aguda é reversível com tratamento adequado (suporte hídrico, controle da dor, jejum temporário e correção da causa). As causas mais comuns são cálculos biliares e uso excessivo de álcool. Em alguns episódios graves pode haver necrose pancreática e complicações que exigem intervenção.
  2. Pancreatite crônica
    Trata-se de um processo persistente ou de episódios repetidos que levam a destruição progressiva do tecido pancreático, com formação de fibrosis, perda de função exócrina (enzimática) e endócrina (insulina). Clinicamente manifesta-se por dor abdominal crônica, perda de peso e má-absorção; há também maior probabilidade de diabetes secundária (diabetes tipo 3c). O consumo crônico de álcool é uma das causas mais frequentes, mas existem outras etiologias. Pacientes com pancreatite crônica apresentam risco aumentado de desenvolver carcinoma ductal pancreático em follow-up prolongado.
  3. Pancreatite hereditária
    Forma rara associada a mutações (por exemplo, em genes como PRSS1 e outros) que predispõem a episódios recorrentes desde idade jovem. Esses pacientes têm risco acumulado significativamente maior de câncer de pâncreas ao longo da vida e requerem vigilância especializada.

Relação entre pancreatite e câncer

  • Pancreatite crônica e câncer: a evidência epidemiológica mostra que a pancreatite crônica aumenta o risco de câncer de pâncreas. A magnitude do risco varia entre estudos e tende a ser maior nos anos imediatamente seguintes ao diagnóstico de pancreatite, embora exista associação em follow-up prolongado. Fatores concomitantes, como tabagismo, consumo de álcool e predisposição genética amplificam essa probabilidade.
  • Pancreatite hereditária: pacientes com pancreatite de origem genética apresentam risco aumentado de câncer pancreático ao longo da vida e, por isso, geralmente são considerados de alto risco e monitorados de forma mais intensiva.
  • Pancreatite aguda: o risco de que uma pancreatite aguda “evolua” para câncer é baixo; porém, em alguns casos o diagnóstico inicial de pancreatite aguda pode ser a forma como um câncer pancreático se manifesta (o tumor obstrui ductos ou provoca inflamação). Estudos mostram que episódios de pancreatite aguda identificados pouco antes do diagnóstico de câncer podem indicar que a neoplasia já estava presente. Assim, episódios atípicos ou recorrentes sem causa aparente merecem investigação cuidadosa. PMC+1

Em resumo: nem toda pancreatite vira câncer, mas a pancreatite crônica e a pancreatite hereditária elevam o risco; e, por outro lado, uma pancreatite aguda sem causa aparente pode, ocasionalmente, ser a primeira apresentação de um tumor pancreático oculto.

Sinais e sintomas do câncer de pâncreas

O câncer de pâncreas costuma ser silencioso nas fases iniciais; reconhecer sinais sugestivos ajuda na investigação precoce. Os sinais e sintomas mais frequentes incluem:

  • Dor abdominal e irradiação para as costas;
  • Perda de peso inexplicada;
  • Fraqueza e astenia;
  • Icterícia (pele e olhos amarelados): especialmente se o tumor obstrui o colédoco;
  • Náuseas e perda de apetite;
  • Urina escura e fezes mais claras (por colestase).

Além disso, o aparecimento repentino de diabetes em pessoa sem fatores de risco estabelecidos (especialmente quando surge perto do início dos sintomas digestivos) pode ser um sinal associado ao câncer de pâncreas e merece avaliação. Entretanto, a maioria dos pacientes com diabetes não terá câncer; trata-se de um sinal que, em conjunto com outros fatores, orienta a investigação.

Nódulo no pâncreas é câncer?

Não. Nem todo nódulo pancreático é maligno. Muitas lesões são benignas ou indolentes: cistos simples, cistoadenomas, neoplasias mucinosas intraductais (IPMN) e tumores neuroendócrinos (menos comuns) podem aparecer como “nódulos” em exames de imagem. Contudo, por se tratar de uma região onde a diferenciação entre lesão benigna e maligna pode ser difícil, qualquer nódulo identificado no pâncreas geralmente requer investigação especializada para caracterização e seguimento.

Leia também: Todo tumor ou nódulo é câncer?

Diagnóstico diferencial

A diferenciação entre pancreatite (especialmente formas crônicas) e câncer pode exigir uma combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e exames de imagem:

  • Exames laboratoriais: dosagem de enzimas pancreáticas (amilase e lipase) em episódios agudos; marcadores tumorais como CA 19-9 podem ser úteis no acompanhamento, mas têm limitações de sensibilidade e especificidade e não servem isoladamente para triagem ou diagnóstico.
  • Imagem: ultrassonografia abdominal, tomografia computadorizada com contraste (TC), ressonância magnética (RM), incluindo colangiopancreatografia por ressonância (CPRM/MRCP), e ecoendoscopia (EUS), que permite avaliação detalhada e, quando indicado, biópsia guiada por agulha. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE/ERCP) tem papel mais terapêutico, mas também pode ser usada diagnostically em cenários selecionados. Em muitos casos, a combinação de TC ou RM com EUS oferece o melhor rendimento diagnóstico.

Em situações duvidosas, a biópsia por punção guiada (por EUS) pode ser necessária para confirmar malignidade. A decisão sobre quais exames realizar depende do quadro clínico, do risco individual e da aparência das lesões em imagem.

Tratamentos disponíveis

O tratamento depende do diagnóstico (pancreatite versus câncer), do tipo histológico, da extensão da doença e do estado geral do paciente. Tanto para pancreatite quanto para câncer, a atuação multidisciplinar (gastroenterologista, cirurgião, oncologista, endocrinologista, nutrição clínica) melhora resultados.

Pancreatite

O objetivo é controlar a inflamação e tratar a causa desencadeante: hidratação venosa, analgesia, jejum temporário ou suporte nutricional enteral, correção de distúrbios eletrolíticos e suspensão de medicamentos potencialmente causadores. Em pancreatite crônica, manejo nutricional, reposição de enzimas pancreáticas e controle do diabetes secundário são fundamentais. Procedimentos endoscópicos ou cirúrgicos podem ser indicados para complicações (pseudocistos, estenoses de ducto, obstrução biliar) ou para remover a causa (por exemplo, litíase biliar).

Câncer de pâncreas

  • Cirurgia: quando o tumor é ressecável e o paciente tem condição clínica adequada, a cirurgia com intenção curativa (por exemplo, duodenopancreatectomia cefálica procedimento de Whipple, para lesões no cabeça do pâncreas) pode ser indicada.
  • Quimioterapia: em doença localizada, frequentemente há uso de quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante; em doença avançada/metastática, regimes como FOLFIRINOX ou gemcitabina + nab-paclitaxel são opções padrão para pacientes com bom desempenho. A escolha depende do estágio, comorbidades e objetivo do tratamento.
  • Terapias direcionadas e imunoterapia: em subgrupos selecionados, há opções de terapia-alvo. Por exemplo, pacientes com mutação germinativa em BRCA1/2 podem beneficiar-se de inibidor de PARP (olaparibe) como tratamento de manutenção após resposta a quimioterapia à base de platino, evidência demonstrada no ensaio POLO. Imunoterapia tem indicação em tumores com alta instabilidade de microssatélites (MSI-high), situação rara no adenocarcinoma pancreático, mas importante de ser pesquisada.

Em todos os casos, a decisão terapêutica deve ser individualizada e tomada em contexto multidisciplinar, levando em conta prognóstico e qualidade de vida.

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A Oncologia D’Or transforma o cuidado com o câncer por meio de uma rede integrada de clínicas e centros de tratamento presentes em diversos estados do país. Com um corpo clínico especializado e equipes multidisciplinares dedicadas, proporciona uma jornada de atendimento que une tecnologia avançada, diagnóstico ágil e tratamentos personalizados.

Como parte da Rede D’Or, a maior rede de saúde da América Latina, garante acesso às estruturas hospitalares mais modernas e aos avanços científicos que fazem a diferença na vida dos pacientes.

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Revisor científico
Dra. Fernanda Frozoni Antonacio
Oncologista Clínica
Rede D’or – Hospital Vila Nova Star e Hospital São Luiz Itaim

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