Radioisótopos no tratamento do câncer

Radioisótopos são elementos químicos instáveis, que para o rearranjo de suas partículas atômicas, emitem radiação ionizante, como: alfa, beta ou gama. Os radioisótopos podem ser produzidos artificialmente em reatores nucleares ou aceleradores de partículas, ou extraídos de fontes naturais, como minerais radioativos.

Radiofármacos são substâncias radioativas que em sua composição possuem um radioisótopo ligado quimicamente a uma molécula não-radioativa. Esta molécula não radioativa apresenta afinidade biológica por um determinado órgão ou sistema, com fins de diagnóstico ou terapêuticos.

Neste tipo de terapia, os radiofármacos irão se acumular nas células tumorais doentes, depositando doses letais de radiação nestas áreas e poupando os tecidos sadios ao redor. O fato de ser uma terapia alvo, direcionada às células doentes, é uma importante vantagem deste tipo de tratamento. Algumas dessas terapias já são aplicadas há décadas, contudo, novas substâncias têm sido desenvolvidas nos últimos anos com grande expectativa quanto à disponibilização em nosso meio, assim como dos seus benefícios. Os exemplos são:

– Terapia com iodo radioativo: É uma terapia que usa o iodo-131 (I131), um radioisótopo que emite partículas beta, ligado ao iodo inorgânico (iodeto). O iodeto é normalmente absorvido pelas células da tireoide normal para fabricação de seus hormônios. O iodeto- I131 é administrado por via oral e se concentra nas células tireoidianas que captam o iodo. A terapia com iodo radioativo é usada para tratar o câncer de tireoide diferenciado (chamados papilífero e folicular), após a cirurgia de remoção do tumor ou em casos de doença metastática. Normalmente é necessária internação em quarto com blindagens especiais para o tratamento, que é feito em uma dose.

– Terapia com metaiodobenzilguanidina (MIBG): É uma terapia que usa o I131 ligado ao MIBG, uma molécula orgânica que se assemelha à noradrenalina. O MIBG é administrado por via intravenosa e se concentra nas células neuroendócrinas, que produzem hormônios como a adrenalina e a noradrenalina. A terapia com MIBG é utilizada para tratar tumores neuroendócrinos, como feocromocitoma, neuroblastoma e carcinoides. Também é necessária internação pelas características e quantidade da radiação emitida.

Terapia Dotatato: A somatostatina é um hormônio produzido pelo organismo normal, mas os tumores neuroendócrinos costumam ter uma expressão exagerada dos receptores desta substância. O dotatato é um análogo da somatostatina utilizado para o tratamento de tumores neuroendócrinos. Esta terapia utiliza o dotatato marcado com lutécio-177 (Lu177), um emissor de radioação beta. O Dotatato- Lu177é um tratamento radioativo indicado para pacientes com tumores neuroendócrinos que não têm indicação de cirurgia ou que já não respondem mais ao tratamento com o octreotide (a injeção que inibe o crescimento e a produção do hormônio fabricado pelo tumor). Este radiofármaco é administrado por via endovenosa, habitualmente quatro doses, sendo uma a cada seis ou oito semanas, não sendo necessária internação.

Terapia com PSMA: O PSMA é uma proteína que está expressa de forma aumentada nos tumores de próstata. Esta terapia utiliza o Lu177 ligado ao PSMA para o tratamento do câncer de próstata avançado. Os tumores avançados são aqueles resistentes à terapia hormonal (castração) e metastáticos. Este radiofármaco também é administrado por via endovenosa, uma dose a cada seis semanas, sendo feitas até cerca de seis doses. Também não é necessária internação.

Terapia com Radium-223 (Ra223): o rádio-223 é uma substância semelhante ao cálcio e se distribui quase que exclusivamente nos ossos. Este tratamento está indicado para pacientes com câncer da próstata com metástases ósseas exclusivas e resistentes a métodos de bloqueio hormonal. São indicadas seis doses, realizadas a cada quatro semanas, em regime ambulatorial.

A terapia com radiofármacos, realizada pela especialidade médica Medicina Nuclear, é uma opção terapêutica em ascensão. Os resultados dos estudos clínicos com as terapias moleculares têm mostrado benefícios em termos de resposta, sobrevida e qualidade de vida dos pacientes com cânceres, especialmente aqueles com doenças refratárias ou recidivadas. No entanto, a terapia molecular também apresenta limitações, como a disponibilidade dos radioisótopos, a necessidade de infraestrutura adequada, a ocorrência de efeitos adversos e o alto custo. Por isso, é importante uma avaliação individual,com uma equipe multidisciplinar.

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