No Brasil, o câncer é a principal causa de morte entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, com aproximadamente 12 mil novos casos diagnosticados anualmente, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Apesar de representar apenas 1% a 3% de todos os casos de câncer, as neoplasias infantis demandam atenção especial devido à sua rápida evolução. O Dia Internacional do Câncer Infantil, celebrado em 15 de fevereiro, é uma data crucial para reforçar a necessidade de ações voltadas à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento especializado da doença.
A relação do câncer infantil com fatores genéticos e sintomas
Embora o câncer infantil não seja frequentemente associado a fatores ambientais, como ocorre em adultos, aspectos genéticos desempenham um papel significativo. Algumas síndromes hereditárias, como a síndrome de Li-Fraumeni, aumentam o risco de certos tipos de câncer em crianças. Diferente do rastreamento em adultos, a detecção precoce em crianças depende principalmente do reconhecimento de sintomas iniciais, que frequentemente se assemelham a doenças comuns da infância.
Principais sintomas do câncer infantil
- Febre persistente por mais de sete dias sem causa aparente;
- Dor óssea progressiva e duradoura por mais de um mês;
- Manchas arroxeadas na pele (petéquias ou equimoses) e palidez;
- Leucocoria (reflexo branco na pupila), estrabismo e protrusão ocular;
- Distúrbios visuais;
- Aumento de linfonodos;
- Dor de cabeça persistente, geralmente noturna ou ao acordar, acompanhada de vômitos e sinais neurológicos.
Esses sinais são indicativos de doenças oncológicas e requerem investigação imediata para aumentar as chances de diagnóstico precoce.
Tipos de câncer mais comuns na infância
Os tipos mais frequentes de câncer infantil incluem leucemias, tumores do sistema nervoso central (SNC) e linfomas.
- Leucemias: representam cerca de 30% dos casos, sendo a leucemia linfoblástica aguda (LLA): o subtipo mais comum. A LLA apresenta maior incidência em crianças de 2 a 4 anos e, quando diagnosticada precocemente, tem altas taxas de cura com o tratamento adequado.
- Tumores do sistema nervoso central: correspondem a 20% das neoplasias pediátricas, predominantemente tumores infratentoriais, que surgem após a primeira infância. Os sintomas típicos incluem cefaleia, vômitos e alterações motoras.
- Linfomas: representam 15% dos casos. O linfoma de Hodgkin é mais comum em adolescentes, enquanto os linfomas não Hodgkin tendem a ser mais agressivos e afetam crianças mais jovens.
O diagnóstico precoce é essencial para melhorar o prognóstico. Quando detectado em estágios iniciais, o câncer infantil pode apresentar taxas de cura superiores a 80%.
Disparidades no tratamento
As taxas de sobrevida no câncer infantil variam consideravelmente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Enquanto nações como os Estados Unidos e o Canadá registram taxas de sobrevivência de até 85%, países como o Brasil ainda enfrentam desafios, com índices inferiores a 70%. Essas disparidades estão relacionadas a dificuldades no acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos especializados.
O tratamento do câncer pediátrico exige uma abordagem multidisciplinar, que inclui quimioterapia, radioterapia, cirurgia e suporte psicológico. Protocolos padronizados têm demonstrado ser eficazes em elevar as taxas de cura, mas a falta de acesso igualitário a esses recursos limita os avanços em regiões de menor desenvolvimento.
Iniciativas para melhorar o diagnóstico e tratamento
Para reduzir a mortalidade e aumentar o diagnóstico precoce, o Brasil tem implementado políticas como a Política Nacional de Atenção à Oncologia Pediátrica, que busca oferecer atendimento integral às crianças e adolescentes com câncer. Essa iniciativa abrange desde a detecção precoce até o suporte psicossocial, promovendo um tratamento mais humanizado e eficiente.
Estratégias fundamentais incluem:
- Educação e capacitação profissional: pediatras e profissionais da Estratégia Saúde da Família devem ser treinados para identificar rapidamente sinais de câncer infantil. O INCA tem desenvolvido programas de formação para garantir que esses profissionais estejam preparados para encaminhar os casos suspeitos a serviços especializados.
- Acesso a centros de tratamento especializados: o Brasil conta com 76 centros habilitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar câncer pediátrico. Além disso, a criação de redes regionais pode melhorar o acesso ao tratamento em áreas mais remotas.
- Apoio psicológico às famílias: o impacto emocional do câncer infantil é significativo e afeta toda a família. Programas que oferecem suporte psicológico ajudam as famílias a enfrentar o tratamento de forma mais estruturada, promovendo maior adesão ao plano terapêutico.
Conclusão
O câncer infantil, apesar de raro, é uma das principais causas de morte entre crianças e adolescentes. No entanto, quando diagnosticado precocemente e tratado de forma adequada, as chances de cura são altas. O Dia Internacional do Câncer Infantil é uma oportunidade para mobilizar esforços em torno da prevenção, detecção precoce e acesso a tratamentos especializados, promovendo um futuro mais saudável para as crianças.
Garantir o treinamento de profissionais, a expansão de centros especializados e o apoio integral às famílias são passos essenciais para reduzir as taxas de mortalidade e melhorar a qualidade de vida das crianças com câncer. A prevenção e o diagnóstico precoce exigem um esforço conjunto entre profissionais da saúde, famílias e políticas públicas para que os avanços no combate ao câncer infantil se tornem realidade.



