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O que são os Inibidores de PARP no tratamento do câncer de ovário?

O tratamento do câncer de ovário em estágios avançados tem evoluído significativamente nos últimos anos, especialmente com o desenvolvimento de terapias direcionadas.

Uma dessas inovações é a classe dos inibidores de PARP (Poli ADP-ribose polimerase), medicamentos que revolucionaram o manejo do câncer de ovário, principalmente em casos associados a mutações nos genes BRCA1 e BRCA2.

O que são inibidores de PARP?

Os inibidores de PARP são medicamentos que interferem no mecanismo de reparo de DNA das células. Normalmente, quando ocorrem danos no DNA, a enzima PARP é ativada para reparar quebras de fita simples. No entanto, em células cancerígenas com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2, o sistema de reparo de DNA já apresenta deficiência, o que as torna vulneráveis a danos adicionais. Ao bloquear a ação da PARP, esses medicamentos impedem que células tumorais “consertem” o DNA danificado, acumulando quebras irreparáveis, resultando na morte celular seletiva das células cancerígenas. Em contrapartida, as células normais, que possuem mecanismos de reparo alternativos, conseguem sobreviver, o que torna a terapia mais específica para células tumorais.

O papel dos inibidores de PARP no câncer de ovário

Os inibidores de PARP, como o olaparibe e o niraparibe, têm mostrado benefícios significativos no tratamento do câncer de ovário e são utilizados em dois principais contextos:

Tratamento de manutenção: Após a quimioterapia, os inibidores de PARP podem ser administrados para prolongar a remissão e reduzir o risco de recorrência. Um dos estudos mais relevantes foi o estudo SOLO-1, publicado em 2018, que demonstrou que olaparibe como terapia de manutenção prolonga significativamente arecidiva de doença em mulheres com câncer de ovário avançado com mutação BRCA, após resposta à quimioterapia inicial. Olaparibe reduziu em cerca de 70% o risco de progressão ou morte, com 48,3% das pacientes ainda sem progressão da doença após cinco anos, em comparação a 20,5% no grupo placebo. Temos ainda o estudo PRIMA, publicado no The New England Journal of Medicine, que incluiu 733 mulheres nesse mesmo contexto. Nesse estudo, um grupo recebeu niraparibe como terapia de manutenção, enquanto o outro recebeu placebo. Os resultados mostraram uma redução no risco de progressão da doença em 38% no grupo que utilizou o niraparibe.

Tratamento em pacientes com recorrência: Quando o câncer retorna após o tratamento inicial, os inibidores de PARP têm sido utilizados para controlar a doença e prolongar a sobrevida das pacientes. No estudo SOLO-2 foi avlaiado a eficácia de olaparibe como terapia de manutenção em mulheres com câncer de ovário recorrente BRCA-mutado que responderam positivamente à quimioterapia baseada em platina. Publicado em 2017, o estudo mostrou que o uso de olaparibe reduziu significativamente o risco de progressão da doença em cerca de 70% em comparação ao placebo, com uma mediana de sobrevida livre de progressão de 19,1 meses no grupo olaparibe contra 5,5 meses no grupo placebo. O estudo NOVA, publicado no The New England Journal of Medicine, 553 pacientes com recidiva foram incluidas. Entre as pacientes com mutação no gene BRCA que receberam o inibidor de PARP, houve uma redução de 73% no risco de progressão ou morte em comparação ao grupo placebo. Para as pacientes sem mutações BRCA, a redução foi de 55%.

Para quem os inibidores de PARP são indicados?

Inicialmente, os inibidores de PARP foram desenvolvidos para tratar pacientes com mutações nos genes BRCA. Contudo, estudos mais recentes mostram que essa classe de medicamentos também pode beneficiar outras pacientes com câncer de ovário que apresentam deficiências no reparo de DNA, mesmo sem mutações em BRCA. Essa expansão das indicações permite que mais pacientes com câncer de ovário avancem para essa abordagem terapêutica.

É importante salientar que os inibidores de PARP não são recomendados para todas as pacientes. Uma avaliação detalhada do perfil genético do tumor, realizada pelo oncologista, é fundamental. Testes como a análise das mutações nos genes BRCA e a identificação de outras deficiências no mecanismo de reparo de DNA ajudam a determinar a elegibilidade para o tratamento.

Efeitos colaterais e benefícios dos inibidores de PARP

Os inibidores de PARP, como olaparibe, niraparibe e rucaparibe, apresentam efeitos colaterais característicos, mas geralmente são melhor tolerados do que as terapias convencionais, como a quimioterapia. Os efeitos colaterais mais comuns incluem fadiga, náuseas, vômitos, anemia e distúrbios gastrointestinais, como constipação e diarreia.

Fadiga é um dos efeitos mais relatados e pode ser debilitante, muitas vezes influenciando a qualidade de vida das pacientes.

Náuseas e vômitos são sintomas comuns que, em muitos casos, podem ser gerenciados com medicamentos antieméticos.

Anemia é uma consequência relevante, já que os inibidores de PARP podem impactar a produção de células vermelhas no sangue, tornando-se necessária a monitoração regular dos níveis de hemoglobina e, ocasionalmente, tratamentos para anemia.

Trombocitopenia (baixa contagem de plaquetas) e leucopenia (diminuição de leucócitos) são efeitos hematológicos menos comuns, mas possíveis. Essas alterações exigem ajustes de dose e monitoramento rigoroso para evitar complicações graves.

Em termos de eficácia, o grande benefício dos inibidores de PARP é que eles representam uma opção de tratamento prolongado para pacientes que responderam bem à quimioterapia, mantendo a remissão e melhorando a qualidade de vida, já que, ao preservar células saudáveis, seus efeitos colaterais são, geralmente, menos intensos que os observados em terapias citotóxicas tradicionais.

Revisão médica:

Dra. Fernanda Frozoni Antonacio

Oncologista Clínica

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