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O Brasil já possui a maior média mundial de tempo gasto com o uso do celular: são quatro horas e 48 minutos segundo o portal alemão Statista. E as crianças, cada vez mais ligadas nas telas, estão seguindo o mesmo caminho. Oito em cada dez crianças usam a internet com frequência, segundo o Comitê de Gestão da Internet. São 23,7 milhões de crianças e adolescentes vidrados em celulares, computadores de mesa, tablets e videogames. Este uso excessivo causa inúmeros problemas para o desenvolvimento das crianças, segundo a fisioterapeuta do Hospital Aliança, Cindi Lessa. Um dos mais preocupantes está associado à postura delas.
“A criança que fica um tempo prolongado no uso de celular pode adquirir a posição cifótica (curvada para frente) com os braços e a cervical em flexão, pois ela não tem a maturidade para saber o que é uma postura adequada ou inadequada. Ficam muitas vezes no sofá, na cama e com o celular muito próximo ao rosto, afetando também a visão. É um prejuízo também para as habilidades manuais, já que os movimentos repetidos atingem também as articulações”, alerta.
O prejuízo dessa postura inadequada pode ocasionar sérios danos futuros para essa geração hiperconectada. “Se, nessa fase, a criança já adquire algum tipo de desgaste precoce articular, ela acaba criando um hábito vicioso de uma postura inadequada que ela acaba levando para a vida, podendo ocasionar sérios desvios na coluna, como a escoliose”.
Por isso, a fisioterapeuta indica aos pais um olhar criterioso quanto à postura dos filhos. “ A criança deve sempre ver a tela na mesma altura da cervical sentada a 90° em uma cadeira e com os braços elevados na mesa. É preciso sempre ficar de olho na postura e, a qualquer dor articular ou tendinite, encaminhar para uma conversa com um pediatra”.
Outros problemas
De acordo com Cindi, o uso excessivo dos dispositivos gera outros prejuízos ao desenvolvimento infanto-juvenil. “Este uso excessivo faz com que a criança não desenvolva adequadamente também a psicomotricidade, já que é nessa fase que outras habilidades básicas como tomadas de decisão e habilidades manuais são formadas através da socialização e da prática esportiva. O uso excessivo causa ainda irritabilidade, alteração na atenção, mau desempenho na escola e isolamento social”.
Estas consequências podem ser evitadas por um bom monitoramento dos pais. “É importante que os pais fiquem atentos ao tempo de uso e, prioritariamente, qual é o conteúdo que aquela criança está vendo. Entre as orientações, é preciso também não naturalizar o uso durante as refeições, porque isso pode desenvolver distúrbios de alimentação, e evitar o uso do celular a noite, porque não favorece o ciclo do sono e pode desencadear insônia e ansiedade. Hábitos como leitura, contação de histórias e massagens devem ser estimulados, aproximando a criança de toda a família”, orienta.