Tenho doença reumática: o que preciso saber para ter uma gestação tranquila?

Osteoporose, fibromialgia, artrite reumatoide, gota, tendinites: essas são algumas das mais de cem doenças reumáticas que existem. Conhecidas popularmente como reumatismo, essas condições afetam o aparelho locomotor, ou seja, ossos, articulações, cartilagens, músculos, tendões e ligamentos.

Há ainda as doenças que podem impactar diretamente alguns órgãos, como rins, pulmões, olhos, ossos, intestinos e até a pele. Normalmente, essas condições causam muita dor nas regiões citadas, provocando um grande comprometimento na vida do paciente.

Entretanto, tanto o diagnóstico precoce como o tratamento adequado são capazes de evitar os incômodos e a incapacidade física. Por isso, é importante procurar atendimento médico caso surja algum dos sintomas abaixo:

  • dor nas articulações (“juntas”), sobretudo se durar mais de seis semanas;
  • vermelhidão na região;
  • inchaço e calor nas articulações;
  • dificuldade para movimentar as articulações, principalmente pela manhã.

O que preciso saber para ter uma gestação tranquila?

Segundo Adriana Waissman Lipi, ginecologista obstetra do Hospital São Luiz Unidade Itaim (SP), da Rede D’Or São Luiz, as doenças reumatológicas tendem a afetar as mulheres mais jovens, que estão vivenciando o período reprodutivo. Por isso, a gravidez pode ocorrer ao mesmo tempo em que a paciente trata o quadro de reumatismo.

No entanto, Adriana Lipi esclarece que, atualmente, é possível engravidar mesmo a pessoa sendo diagnosticada com uma doença reumatológica – com algumas exceções. “Houve um grande avanço na medicina, tanto no diagnóstico, como no tratamento. Também tivemos uma melhoria no acompanhamento neonatal, permitindo uma boa gestação para pacientes com essas doenças”, conta.

Além disso, a ginecologista explica que o aconselhamento pré-concepcional, ou seja, antes de a paciente optar por engravidar, é de extrema importância. Isso envolve um atendimento multiprofissional, com obstetra, reumatologista ou o clínico que trate da doença em si – se for algo relacionado ao rim, por exemplo, seria o nefrologista.

“Elas devem ser aconselhadas a engravidar, por exemplo, pelo menos após seis meses da última crise. Essas doenças têm muitos altos e baixos, ora estão controladas, ora descontroladas, então elas devem esperar esse período sem crises”, explica Adriana Lipi.

Doença reumática e gravidez: quais os riscos?

Doença reumática e gravidez: quais os riscos?

A depender da doença, o quadro pode piorar durante a gestação, e vice-versa. Isso porque, naturalmente, a gravidez já diminui a imunidade da mulher – mesmo em uma pessoa que não tenha diagnóstico de reumatismo.

“Imagine, então, no caso de uma doença que já acomete a imunidade. Os riscos podem envolver aborto espontâneo, bebês prematuros ou que, no geral, nascem pequenos. Há ainda maior incidência de cesárias”, explica a médica, também assistente da clínica obstétrica da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Além disso, as doenças reumatológicas podem causar pré-eclâmpsia, que é o aumento da pressão arterial na gravidez, além de trombose – já que essas condições tendem a afetar o sistema de coagulação.

“Por isso, o aconselhamento pré-concepcional é importante. Nós precisamos mostrar os riscos aos quais a paciente será submetida”, diz.

No entanto, conforme explicado anteriormente, isso não quer dizer que essa pessoa não possa engravidar. Tendo os acompanhamentos médicos adequados, respeitando os seis meses após uma crise, os riscos de complicações diminuem.

“Há também as contraindicações absolutas: são as pacientes que têm hipertensão pulmonar grave, as que têm insuficiência renal grave e estão passando por diálise, e casos de insuficiência cardíaca grave. Não aconselhamos a gravidez às mulheres que sofreram complicações recentes da doença reumática, como infarto ou AVC”, explica.

Engravidei, e agora?

O acompanhamento deve ser multiprofissional: obstetra, reumatologista (ou outro médico que faça acompanhamento da doença), nutricionista, fisioterapeuta, – já que as enfermidades reumatológicas, geralmente, envolvem muitas dores e isso pode piorar na gestação – psicólogos e as enfermeiras para orientar a amamentação.

Adriana Lipi também ressalta que não necessariamente essa mulher terá um parto cesárea. É, sim, possível ter o parto normal: “A menos que ela tenha alguma doença que acometa a parte óssea, limitando a região da bacia”, diz.

No mais, a obstetra explica que as medicações devem ser reorganizadas pelo reumatologista e o obstetra em trabalho conjunto para evitar qualquer comprometimento na saúde do feto ou do bebê.

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