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CAR T Cell: entenda o que é, como funciona e seu papel no tratamento do câncer

A terapia com células CAR T vem se destacando como uma das mais inovadoras abordagens no tratamento oncológico dos últimos anos. Com potencial para proporcionar respostas duradouras e até mesmo curativas em determinados tipos de câncer, esta forma avançada de terapia tem transformado o cenário terapêutico de doenças hematológicas refratárias. Mas, afinal, o que é a terapia CAR T Cell, como ela funciona e quais são suas reais chances de cura?

O que é CAR T Cell?

CAR T Cell é a sigla para “Chimeric Antigen Receptor T cell” (em português, célula T com receptor de antígeno quimérico). Trata-se de uma modalidade de imunoterapia personalizada, na qual os linfócitos T — células do sistema imunológico do próprio paciente — são coletados, modificados geneticamente em laboratório e posteriormente reinfundidos para combater o câncer de forma direcionada e mais eficiente.

A modificação envolve a inserção de um receptor sintético na superfície dos linfócitos T, capaz de reconhecer antígenos específicos expressos pelas células tumorais. Assim, essas células passam a atuar como verdadeiras “caçadoras” de células malignas, promovendo uma resposta imune mais potente.

CAR T Cell: como funciona?

O processo começa com uma etapa chamada leucoaférese, em que os linfócitos T do paciente são separados do sangue. Essas células são, então, enviadas a um laboratório especializado, onde recebem, por meio de vetores virais ou outras técnicas de engenharia genética, um gene que codifica o receptor quimérico (CAR).

Esse receptor permite que as células T reconheçam antígenos tumorais específicos, como o CD19, presente em muitas leucemias e linfomas de células B. Após a modificação, essas células são cultivadas para se multiplicarem em larga escala. Em seguida, passam por rigorosos testes de controle de qualidade e são congeladas até o momento da reinfusão.

Antes da administração das células CAR T, o paciente geralmente recebe um regime de quimioterapia intenso, que prepara o organismo para a ação das novas células. A infusão das CAR T Cells é feita por via intravenosa, de forma semelhante a uma transfusão. Uma vez no organismo, essas células modificadas identificam, atacam e eliminam as células cancerígenas.

CAR T Cell e a chance de cura

Os resultados da terapia CAR T têm sido particularmente promissores em pacientes com leucemia linfoide aguda (LLA) de células B e linfoma difuso de grandes células B, principalmente naqueles que não responderam a terapias convencionais, como quimioterapia intensiva ou transplante de medula óssea. Em muitos desses casos, a resposta ao tratamento é duradoura e, em uma parcela significativa dos pacientes, este pode ser considerado potencialmente curativo.

Entretanto, a terapia não está isenta de riscos. Os efeitos colaterais mais frequentes e graves incluem a síndrome de liberação de citocinas (CRS) — resposta inflamatória sistêmica que pode causar febre alta, hipotensão, hipoxia e disfunção de órgãos —, além de toxicidade neurológica associada a células imunes efetoras (ICANS), que pode se manifestar com confusão mental, convulsões e outras alterações neurológicas. Essas complicações exigem monitoramento rigoroso e, frequentemente, cuidados em unidades de terapia intensiva (UTIs).

CAR T Cell no Brasil

No Brasil, a terapia CAR T já foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento de:

  • Leucemia linfoblástica aguda de células B em pacientes de até 25 anos, refratários ou em recidiva;
  • Linfoma difuso de grandes células B em adultos após falha de duas ou mais linhas de tratamento.

Apesar da aprovação regulatória, o acesso à terapia ainda é restrito a centros de referência com infraestrutura específica para coleta, manipulação e reinfusão das células, além de equipes treinadas para o manejo de seus efeitos adversos. No entanto, há avanços significativos em curso, com esforços conjuntos entre hospitais, laboratórios farmacêuticos, operadoras de saúde e órgãos reguladores, visando ampliar o acesso e a disponibilidade dessa tecnologia inovadora em território nacional.

Revisor científico
Dra. Fernanda Frozoni Antonacio
Oncologista Clínica
Rede D’Or – Hospital Vila Nova Star e Hospital São Luiz Itaim

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