A serotonina é um neurotransmissor essencial para diversas funções do corpo e do cérebro. Ela participa da regulação do humor, sono, apetite, motilidade intestinal, coagulação sanguínea e até da saúde óssea. Quando os níveis de serotonina estão equilibrados, contribuem para o bem-estar físico e emocional. No entanto, o excesso desse neurotransmissor pode trazer riscos à saúde. Mas o que significa ter serotonina alta, e qual seria a possível relação com o câncer?
O que significa serotonina alta?
Ter serotonina alta significa que há uma quantidade excessiva desse neurotransmissor circulando no organismo. Essa condição pode provocar sintomas como irritabilidade, ansiedade, tremores, diarreia, febre, hipertensão arterial e rubor cutâneo. Em situações mais graves, pode evoluir para a chamada síndrome serotoninérgica, uma emergência médica que pode causar agitação intensa, rigidez muscular, hiperreflexia, convulsões e, em casos extremos, coma e morte.
Causas da serotonina alta
A elevação dos níveis de serotonina pode ter diferentes causas, entre elas:
- Uso excessivo ou combinação de medicamentos que aumentam a serotonina, como antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) (por exemplo, fluoxetina e sertralina) e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) (como venlafaxina).
- Ingestão de suplementos naturais com ação serotoninérgica, como erva-de-são-joão (Hypericum perforatum) e ginseng.
- Uso de drogas recreativas, como MDMA (ecstasy) e anfetaminas.
- Presença de tumores neuroendócrinos, especialmente tumores carcinoides do trato gastrointestinal (intestino), que podem secretar grandes quantidades de serotonina.
Serotonina alta e câncer: qual a relação?
A principal associação entre serotonina alta e câncer envolve os tumores carcinoides, um subtipo de tumores neuroendócrinos que se desenvolvem em células produtoras de hormônios, geralmente no trato gastrointestinal ou nos pulmões. Esses tumores podem produzir e liberar serotonina em excesso na circulação, provocando sintomas como diarreia crônica, rubor facial (flushing), broncoespasmo e alterações cardíacas. Esse conjunto de sintomas caracteriza a síndrome carcinoide.
Portanto, níveis elevados de serotonina podem ser um marcador indireto da presença desse tipo específico de câncer. No entanto, é importante reforçar que a serotonina alta não causa câncer — ela pode ser consequência de um tumor que a produz em excesso. A avaliação médica detalhada é fundamental para investigar a causa da elevação e indicar o tratamento adequado.
Como é feito o diagnóstico e tratamento?
O diagnóstico da serotonina alta envolve uma abordagem clínica e laboratorial. Os exames podem incluir:
- Dosagem de serotonina e de seu principal metabólito (5-HIAA) na urina de 24 horas ou no sangue;
- Exames de imagem, como tomografia, ressonância magnética ou PET-CT, para localizar possíveis tumores;
- Avaliação dos sinais clínicos característicos, especialmente quando há suspeita de síndrome carcinoide ou síndrome serotoninérgica.
O tratamento depende da causa subjacente:
- Ajuste ou suspensão de medicamentos que aumentam a serotonina, quando indicado;
- Controle da síndrome serotoninérgica, com medidas de suporte e uso de antagonistas serotoninérgicos, como a ciproeptadina;
- Tratamento do tumor carcinoide, que pode envolver cirurgia, terapia com análogos da somatostatina, quimioterapia, ou terapias-alvo e radionuclídeas, conforme o caso.
A melhor forma de lidar com a serotonina alta é buscar atendimento médico para investigar a origem do problema e receber orientação adequada. O diagnóstico precoce e o tratamento direcionado aumentam significativamente as chances de controle e recuperação.
Revisor científico
Dra. Fernanda Frozoni Antonacio
Oncologista Clínica
Rede D’or – Hospital Vila Nova Star e Hospital São Luiz Itaim
