A quimioterapia é um dos pilares no tratamento do câncer, sendo empregada em diversos tipos e estágios da doença. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse método consiste na administração de medicamentos que atuam de forma sistêmica, ou seja, circulam por todo o corpo com o objetivo de destruir ou inibir a multiplicação das células tumorais.
Entretanto, como a quimioterapia também afeta células saudáveis de rápida renovação — como as da medula óssea, mucosas e folículos capilares —, é comum o surgimento de efeitos colaterais. Esses efeitos variam de acordo com o tipo de fármaco utilizado, a dose, o esquema terapêutico e a resposta individual de cada paciente.
Principais efeitos adversos da quimioterapia
Náuseas e vômitos: São efeitos frequentes, com incidência entre 40% e 75% dos pacientes, podendo atingir até 89% das mulheres em determinados tipos de câncer. O pico de intensidade geralmente ocorre entre o 4º e o 5º dia após a administração da quimioterapia. A resposta depende da emetogenicidade do protocolo utilizado (alta, moderada ou baixa).
Fadiga: Trata-se de um dos efeitos mais comuns relatados, caracterizado por cansaço intenso, desproporcional ao esforço físico, e que pode persistir ao longo do tratamento.
Queda de cabelo (alopecia): Ocorre em até 81% das mulheres e 74% dos homens, especialmente com esquemas que incluem agentes como a doxorrubicina ou taxanos. A alopecia é geralmente reversível após o término do tratamento.
Anemia e leucopenia: A quimioterapia pode causar supressão da medula óssea, levando à diminuição de glóbulos vermelhos (anemia) e brancos (leucopenia), o que aumenta o risco de infecções e causa sintomas como fraqueza e palidez.
Diarreia: Relatada por até 70% dos pacientes em determinados esquemas, geralmente com pico por volta do 7º dia do ciclo. Pode estar associada a alterações diretas na mucosa intestinal ou ao uso de medicamentos específicos, como irinotecano.
Mucosite: Inflamações e úlceras na mucosa oral e faríngea são comuns, dificultando a alimentação e aumentando o risco de infecções locais. Pode surgir em poucos dias após o início do tratamento.
Efeitos emocionais: Ansiedade, depressão, alterações na autoestima e na imagem corporal são frequentes. A queda de cabelo e a limitação funcional contribuem para o impacto emocional do tratamento.
Outros sintomas: Dor muscular ou óssea, perda de apetite, alterações no paladar e olfato, constipação intestinal, insônia e irritabilidade também são relatados por muitos pacientes ao longo do tratamento.
Efeitos da primeira sessão de quimioterapia
A primeira sessão de quimioterapia pode desencadear reações mais intensas, uma vez que o organismo ainda está em fase de adaptação ao tratamento. É comum a ocorrência de náuseas, vômitos precoces (até 24 horas após a infusão), fadiga e inapetência nas horas ou dias subsequentes.
Alguns pacientes podem desenvolver reações alérgicas aos fármacos, como erupções cutâneas, coceira, falta de ar e queda de pressão arterial, exigindo intervenção médica imediata. A queda de cabelo geralmente se inicia após a segunda ou terceira semana de tratamento, enquanto sintomas como alterações no paladar e insônia podem surgir já nas primeiras aplicações.
Efeitos da segunda sessão de quimioterapia
Na segunda sessão, os efeitos colaterais podem se manter, intensificar ou, em alguns casos, tornar-se mais toleráveis, dependendo da resposta individual. Alguns pacientes relatam que o corpo começa a se adaptar; no entanto, é comum observar uma intensificação da fadiga cumulativa.
As alterações hematológicas tendem a se tornar mais evidentes, com maior risco de anemia, leucopenia e neutropenia, o que exige monitoramento rigoroso e, em alguns casos, a administração de fatores estimuladores de colônia ou transfusões. A equipe médica avalia continuamente o estado clínico e os exames laboratoriais para prevenir e manejar complicações.
Quando a quimioterapia exige mais atenção?
Apesar de ser um tratamento amplamente seguro e supervisionado por equipes especializadas, a quimioterapia pode, em situações específicas, levar a complicações graves. Entre as mais importantes estão:
- Reações alérgicas graves (anafilaxia),
- Desidratação severa por diarreia ou vômitos intensos,
- Infecções bacterianas ou fúngicas, especialmente em pacientes com neutropenia,
- Toxicidades cardiopulmonares, como insuficiência cardíaca induzida por antraciclinas ou pneumonite por agentes como bleomicina.
Diante de sinais como febre persistente, dificuldade respiratória, dor torácica, tontura, manchas avermelhadas na pele ou sangramentos incomuns, o paciente deve procurar atendimento médico imediatamente. A notificação precoce permite intervenções eficazes e evita a progressão de eventos adversos.
Manejo dos efeitos colaterais
O controle dos sintomas é parte fundamental da oncologia moderna. A equipe médica dispõe de diversas estratégias para minimizar os efeitos colaterais e preservar a qualidade de vida do paciente durante o tratamento. Entre elas:
- Medicamentos antieméticos: Utilizados para prevenir náuseas e vômitos. Podem incluir antagonistas da serotonina (ondansetrona), antagonistas da neurocinina-1 (aprepitanto) e corticosteroides.
- Suporte nutricional: Dietas adaptadas à tolerância e preferência do paciente, considerando sintomas como inapetência, mucosite ou alterações no paladar.
- Monitoramento hematológico: Exames regulares de sangue para avaliar a contagem de células e ajustar o tratamento, incluindo o uso de antibióticos profiláticos ou fatores estimuladores da medula óssea, quando necessário.
- Acompanhamento psicológico: O suporte emocional, oferecido por psicólogos ou grupos de apoio, ajuda o paciente a lidar com o estresse do diagnóstico e os efeitos físicos e sociais do tratamento.
- Orientações práticas: Cuidados com a pele, cabelos e higiene bucal (uso de escovas macias e enxaguantes específicos) são importantes para reduzir complicações como mucosite, dermatite e infecções.
Revisor científico
Dra. Fernanda Frozoni Antonacio
Oncologista Clínica
Rede D’Or – Hospital Vila Nova Star e Hospital São Luiz Itaim


