Fatores psicológicos envolvidos na amamentação

A questão do aleitamento materno envolve um intenso processo físico e psicológico, que a mulher vivencia antes mesmo da chegada do bebê. Estar bem preparada e bem orientada é fundamental. Mas, somente quando o momento chega, essas informações fazem sentido.

De acordo com a Dra. Anna Miha, psicóloga hospitalar do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, a mulher pode e deve ser preparada para a amamentação durante a gestação. No entanto, nessa fase, ela ainda não está vivendo o momento de forma concreta. Então, sobretudo no pós-parto, a mulher precisa de orientações e do apoio de equipes preparadas para promover e facilitar a amamentação.

A amamentação não se restringe apenas a questões biológicas e à necessidade de alimentação. O aleitamento materno é a primeira forma de satisfação de prazer do bebê, o que instaura o psiquismo da criança. Na psicologia e na psicanálise, a amamentação é um momento importante da relação entre mãe e bebê. “Em termos psicológicos, é fundamental que esse bebe seja aleitado da forma que puder, mas sempre com muito amor e muito carinho”, completa Dra. Anna.

Quando a mãe e o bebê ainda estão internados no hospital, um está aprendendo com o outro. Este é de fato o momento inaugural e uma boa experiência de cuidado pode ser determinante para a amamentação ter sucesso no futuro. “Essa boa experiência não significa necessariamente que o bebê vai ter uma boa pega e a mãe vai estar tranquila logo na primeira tentativa”, explica Dra. Anna.

A experiência vem no sentido do apoio multidisciplinar para facilitar o momento da amamentação. Uma equipe de enfermagem obstétrica, grupos de apoio à amamentação, psicólogos e toda rede necessária: eles precisam ser treinados e sensibilizados para reconhecer as questões psíquicas que cercam o puerpério e possam estar favorecendo ou desfavorecendo a amamentação.

O estado emocional da mãe pode interferir de fato na produção de leite e a linha entre psíquico e físico tem um limite muito tênue. A Dra. Anna explica que é preciso estar atento se existem elementos em torno da mãe que estão gerando algum estresse que possa ser cuidado. Como, por exemplo, se a mãe está em um quadro de baby blues ou se existe uma instalação de depressão pós parto.

“Em geral, as pequenas dificuldades que possam acontecer durante a internação, como ansiedade, insegurança ou algum estresse, conseguem ser resolvidas por equipes bem treinadas e sensíveis a essas questões a partir do acolhimento e orientação”, afirma Dra. Anna.

E se a dificuldade de amamentar persistir ?

Existem casos em que a dificuldade de amamentação começa a interferir na relação entre mãe e bebê gerando sofrimento psíquico. Por vezes, é necessário um acompanhamento psicológico após o parto e após a alta da gestante.

Um profissional experiente vai ajudar a reconhecer o afeto, as fantasias. Ele ajuda a atravessar a amamentação em relação à história pregressa dessa mulher, história de filiação. Tudo isso de forma personalizada, indo de caso a caso.

Os benefícios são inúmeros para mãe e filho. Uma vez que a mulher reconhece os motivos que a estão levando a ter dificuldade para amamentar, ela pode decidir romper ou não a amamentação.

É importante lembrar que o desejo de não amamentar também pode partir da mulher. “Diferentemente dos animais, a gente não se move unicamente pelos instintos, nós somos atravessados pela linguagem, pelos instintos, pelos símbolos, pela nossa história pregressa. Tudo isso vai mover a gente para lugares diferentes e não só para os lugares da necessidade”, explica Dra. Anna.

Então, é fundamental escutar as mulheres e ajudá-las a entender o que as move. A partir desse reconhecimento, elas podem decidir se querem mudar de direção ou se querem continuar nessa posição.

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