Primeiros socorros nos primeiros anos de vida do bebê

Prevenção e primeiros socorros nos primeiros anos de vida: quando a informação pode valer uma vida.

O processo de descoberta do mundo à sua volta é uma aventura incrível nos primeiros anos de uma criança. Mas, certamente para os pais, essa fase causa temores quase impossíveis de serem evitados. Natural, pois para os pequenos a noção de perigo é zero, uma percepção inexistente, cabendo aos pais a missão de permanecerem atentos o tempo todo.

Listar os perigos que cercam a criança não é tarefa difícil, pois tudo pode oferecer riscos, seja dentro de casa, no parquinho, na escola, na praia ou no campo; enfim, em todo lugar. Criança é “ligada no 220W”. Aliás, tomadas, fios e cabos elétricos devem ser isolados. Janelas e escadas, evitadas. Objetos e utensílios pontiagudos e cortantes, e ainda produtos químicos e remédios que muitas vezes vêm em cores alegres e atraentes, geralmente são alvos para uma criança. É preciso focar nos riscos e o que é necessário fazer em casos de emergência.

Para o pediatra da Rede D’Or São Luiz, Dr. Carlos José Rodrigues, “Basicamente os acidentes até o primeiro ano de vida estão divididos em 3 grandes categorias (não exclusivas): queda, acidentes domésticos quando a criança começa a explorar o ambiente, e engasgo. Os acidentes se dividem por períodos no primeiro ano de vida, mas podemos notar nos últimos anos que alguns destes acidentes aconteciam em períodos diferentes, devido a uma maturação cada vez mais precoce dos bebês, e isso significa que os bebês estão conseguindo se movimentar cada vez mais cedo.”

Portanto, se os bebês estão se desenvolvendo mais rápido do que podemos imaginar, então, mais do que nunca, os adultos à sua volta devem se desdobrar em manter os olhos na criança, e também ao seu redor, pois esse mundo novo para o bebê tem muitas armadilhas que precisam ser observadas. E às vezes, são lugares ou momentos onde quase nunca percebemos um perigo. “Próximo ao sexto mês, o bebê começa a ficar sentado, e já começam os riscos, por exemplo, quando se usa alguns tipos de cadeirões. E da mesma forma, conforme o desenvolvimento da criança, quando ela começa a se levantar sozinha, aumentando as chances de quedas. ”, alerta Dr. Carlos José.

Prevenção é importante. Conhecimento e preparo também.

Sem nenhuma sombra de dúvidas o que mais causa temor nos pais são os primeiros dias e meses de vida. Afinal, um bebê é frágil e não tem a mínima condição de sinalizar se alguma coisa está errada. Conhecer os sinais de que alguma coisa não vai bem será fundamental e pode, dependendo do caso, salvar a vida do pequenino. Um grande risco que pode causar óbito é a interrupção das vias aéreas, provocando insuficiência respiratória grave, normalmente ocasionada ao engasgar com alimentos, líquidos e até pequenos objetos, bloqueando a passagem do ar para os pulmões.

Esse acidente impede o movimento da epiglote – uma espécie de porta no início da laringe, por trás da língua, cujo movimento permite a passagem do ar para os pulmões e dos alimentos para o esôfago. Com o bloqueio dessa via acontece o sufocamento. Outro fator que provoca essa ocorrência é o refluxo de leite quando o bebê não arrota logo depois de mamar. Por isso, a necessidade básica de manter o bebê na posição recomendada para o arroto por até 10 minutos.

No caso do bebê já ingerir alimentos mais sólidos, é importante cortá-los no menor tamanho possível para que sejam engolidos sem maiores dificuldades. Mas o mais importante aqui é o que fazer nesses casos. Os primeiros-socorros são cruciais nesse momento por se tratar de um bebê.

“Mesmo com todos os cuidados, se ocorrer um imprevisto, a melhor forma de dar os primeiros socorros é colocar a criança de bruços e realizar ´esfregões nas costas´ até ocorrer a parada do engasgo. Não é recomendado colocar o dedo dentro da boca, pois o engasgo pode ter sido devido a ingestão de objeto, e ao fazer isso pode-se empurrar o objeto para dentro; também não é recomendado sugar o nariz ou boca, porque você corre o risco de empurrar durante as paradas da sucção aquilo que está ocasionando o engasgo.”, Recomenda Dr. Carlos.

Esta ação emergencial é simples. Para aprender, basta procurar orientação e treinamento com especialistas em resgate ou profissionais de saúde. É bom salientar que casos de engasgamento são comuns e quase difíceis de evitar. O pronto atendimento é que fará realmente a diferença. Outra questão levantada pelo Dr. Carlos José tem a ver com um ambiente protegido para a criança.

Para evitar muitos tipos de acidente, é preciso uma rigorosa organização da casa, além de proteção do ambiente. Acidentes com produtos de limpeza em suas embalagens, ou mesmo no vaso sanitário, não apenas são possíveis, como acontecem com frequência. Nesses casos, oriento levar a criança para avaliação médica, pois trata-se de produto químico ou ingestão de conteúdo contaminado”.

Sabemos que manter a casa organizada com criança pequena é tarefa das mais difíceis. Mas o cuidado tem que existir. Por isso, é preciso observar os detalhes e imaginar que para uma criança pequena não existe limites.

Na medida em que crescem, aumentam os perigos

“Frente às quedas, é importante saber se a criança bateu a parte posterior da cabeça. Nesse caso, é necessário levar a criança para avaliação médica. Se a criança não bateu a parte posterior da cabeça e não tem alteração do comportamento, é possível manter a criança em observação por volta de 12 horas, avaliando se o bebê tem vômito, alteração da consciência, sonolência fora do horário normal do bebê. Caso estes sintomas apareçam, é indicado levar a criança para avaliação médica”.

Na medida em que os bebês começam a engatinhar ou andar, são movidos pelo instinto de querer se locomover e desenvolver demais habilidades motoras, como querer tocar e pegar. Essa fase, talvez, ofereça mais facilidade para controlar o bebê, mas será a partir dos 2 anos que os cuidados deverão ser intensificados pelo fato de apresentarem mais independência de movimentos e nenhuma ideia de perigo. A vigilância tem que ser constante, pois, sendo imprevisíveis, poderão correr para alguma escada, entrando em qualquer lugar em que caiba, como armários, ou qualquer eletrodoméstico, como geladeira ou um fogão.

Por falar em fogão, queimaduras são, infelizmente, os acidentes que acontecem com mais frequência nessa idade.

“Próximo do 1º ano, quando o bebê começa a engatinhar e começa a se levantar para tentar andar, existe uma sequência de riscos: ingerir coisas inadequadas que estão no chão, como brinquedos e produtos de limpeza. Outro acidente frequente é colocar o dedo na tomada e poder receber uma descarga de energia. Costumamos ver também queda de objetos sobre os bebês. Essa situação ocorre quando o bebê enrosca em fios de equipamentos e puxa fazendo com que o equipamento caia em cima dele. Neste período, o bebê também consegue alcançar as gavetas e pegar objetos dentro delas. Acidentes com o forno, quando a criança começa a se apoiar para levantar e a porta está quente, podendo causar queimadura, ou também quando consegue abrir a tampa do forno e subir em cima, podendo ocorrer a quebra da tampa.” Reforça o especialista.

Ocorrências de queimaduras não são provocadas apenas na cozinha. Além de apresentarem níveis de gravidade que vão do primeiro ao terceiro grau, podem também ser provocadas por produtos químicos, objetos quentes, corrente elétrica e até alguns animais e plantas. O primeiro atendimento deverá acontecer com lavagem do local com água corrente fria durante algum tempo até baixar a temperatura e, em seguida, compressas de gelo deverão ser feitas.

No caso de queimaduras mais graves, aquelas que apresentam bolhas e pele carbonizada, a área deverá ser envolta em compressa úmida e a criança encaminhada ao hospital mais próximo com urgência. Os primeiros socorros, nesse caso, incluem procedimentos que jamais devem ser executados, como tentar limpar o local ou mesmo tocá-lo, mesmo que exista algum corpo estranho sobre a pele. E jamais furar bolhas nem tentar retirar a roupa grudada à pele queimada. E o mais comum, jamais colocar produtos como pó de café, manteiga ou creme dental. Repetindo: deve-se buscar ajuda capacitada imediatamente, pois só assim o atendimento de emergência será feito por alguém treinado.

Segurança: fazer o básico é fundamental

Acidentes podem acontecer. A atenção dos pais e demais adultos em torno da criança pode significar a vida dela. Portanto, todos os cuidados devem ser observados, até mesmos os mais simples, como evitar brinquedos com partes móveis e pequenas que podem caber na boca. E jamais deixar a criança, ou deixar o acesso a lugares altos, como cama, pia, cadeiras, sofás, e principalmente janelas e terraços, sem nenhuma proteção. Uma queda nessas circunstâncias pode ser fatal.

Cuidados com o berço devem ser tomados. Limitar acessos a outros lugares da casa que ofereçam perigo, gradear janelas e portas, proteger tomadas, manter medicamentos e outros produtos em local alto, evitar brincadeiras com cães e gatos com temperamento imprevisível e, no caso de piscinas, cercá-la ou usar cobertura rígida. E ao caminhar, segurar no pulso da criança para que ela não se solte com facilidade.

Correr para o hospital ou chamar o resgate? Dr. Carlos José recomenda:

“As mães podem se questionar se devem levar ao hospital ou chamar o atendimento de socorro móvel. Por isso, é importante verificar como a criança está, se estiver comprometendo a respiração ou com rebaixamento importante da consciência. Nesse caso, é chamar o socorro móvel”.

Enfim, a prevenção nos primeiros dias e meses de vida é tão importante quanto os primeiros socorros. Procure sempre seguir as recomendações de segurança doméstica para que sejam evitados acidentes, desde um simples brinquedo inadequado até uma queda. Procure orientação especializada para entender os procedimentos emergenciais e sempre fale com o médico pediatra sobre como agir em situações de extrema urgência. Afinal, nunca é demais repetir: prevenção e informação devem andar sempre juntas.

Colaboração: Dr. Carlos José Rodrigues – Médico Pediatra do Hospital e Maternidade São Luiz

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