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Entenda a relação entre hormônios, distúrbios hormonais e o câncer

Distúrbios hormonais podem aumentar o risco de desenvolvimento de diversos tipos de câncer, além de influenciar a resposta do corpo aos tratamentos oncológicos.

Nesta matéria, você entenderá como os hormônios afetam o câncer, os mecanismos biológicos envolvidos, e o papel crucial da hormonioterapia no controle e prevenção da doença..

Distúrbios hormonais e o risco de câncer

Os hormônios são mensageiros químicos que regulam funções essenciais do organismo, como crescimento, metabolismo e reprodução. O risco de certos tipos de câncer, como mama, próstata e endométrio, pode aumentar com uma exposição prolongada a hormônios específicos ou devido a alterações na sensibilidade das células aos hormônios. Essa exposição prolongada ou a presença de receptores hormonais nas células tumorais cria um ambiente que pode favorecer o crescimento tumoral.

Câncer de mama: o estrogênio, hormônio envolvido na regulação do ciclo menstrual, está ligado ao risco de câncer de mama, especialmente em exposições prolongadas. Fatores como menarca precoce, menopausa tardia e terapias de reposição hormonal aumentam essa exposição. Além disso, aproximadamente 80% dos tumores de mama são receptores hormonais positivos, o que significa que crescem em resposta ao estrogênio e/ou progesterona, tornando a hormonioterapia uma ferramenta crucial nesses casos.

Câncer de próstata: o hormônio testosterona também desempenha um papel significativo no desenvolvimento da doença. O crescimento de tumores prostáticos pode ser estimulado pela presença de testosterona, razão pela qual tratamentos hormonais buscam bloquear sua ação ou reduzir sua presença no organismo.

Câncer endometrial: o excesso de estrogênio sem a oposição da progesterona pode levar ao aumento do risco de câncer endometrial. Mulheres que não ovulam regularmente, como aquelas com síndrome dos ovários policísticos (SOP), têm maior risco devido à exposição prolongada ao hormônio.

A hormonioterapia, ou terapia hormonal, é um dos pilares essenciais no tratamento oncológico de determinados tipos de câncer, como os de mama e próstata, que dependem de hormônios para crescer. Este tipo de tratamento atua de duas maneiras principais: bloqueando a ação dos hormônios que estimulam a proliferação tumoral ou reduzindo a produção desses hormônios no organismo. A hormonioterapia cumpre diferentes funções no tratamento do câncer:

  1. Inibição da ação hormonal e redução de produção: A terapia hormonal pode bloquear receptores específicos nas células tumorais ou inibir a produção de hormônios. No câncer de mama, por exemplo, medicamentos como os inibidores de aromatase reduzem a produção de estrogênio em mulheres pós-menopáusicas, privando as células tumorais de um estímulo para o crescimento. Em pacientes com câncer de próstata, agentes antiandrogênicos bloqueiam os efeitos da testosterona, desacelerando a progressão do tumor.
  2. Redução do risco de recorrência: A hormonioterapia é amplamente usada como tratamento adjuvante após a cirurgia, com o objetivo de reduzir a probabilidade de recidiva tumoral. Em câncer de mama com receptores hormonais positivos, estudos mostram que o uso de tamoxifeno ou inibidores de aromatase pode diminuir significativamente as taxas de recorrência, contribuindo para o aumento da sobrevida livre de doença. De forma semelhante, a terapia de privação androgênica no câncer de próstata mostrou reduzir o risco de recidiva e aumentar a sobrevida geral em pacientes de alto risco.
  3. Personalização e precisão no tratamento: Um dos grandes avanços na hormonioterapia é a capacidade de personalizar o tratamento conforme o perfil molecular do tumor. Cânceres como o de mama são testados para a presença de receptores hormonais, como os de estrogênio e progesterona, permitindo que os médicos adaptem a terapia conforme a expressão desses receptores. Essa abordagem maximiza a eficácia e permite um direcionamento específico, que minimiza os efeitos colaterais em tecidos que não expressam esses receptores.
  4. Uso em contexto paliativo: A hormonioterapia é também uma ferramenta eficaz no tratamento paliativo de cânceres avançados ou metastáticos, ajudando a controlar o crescimento tumoral e reduzir sintomas em pacientes para os quais outros tratamentos se mostram limitados. No câncer de próstata metastático, a redução da testosterona e o uso de antiandrogênicos são recursos que, em muitos casos, melhoram a qualidade de vida ao estabilizar a doença.
  5. Avanços e combinações terapêuticas: Estudos clínicos exploram o potencial de combinar hormonioterapia com iimunoterapia e terapias-alvo, investigando novas formas de superar a resistência que alguns tumores desenvolvem a longo prazo. Abordagens combinadas têm o potencial de aumentar a resposta ao tratamento e de atacar o câncer em várias frentes, oferecendo uma opção promissora para pacientes com cânceres hormônio-dependentes mais agressivos ou avançados. Além disso, a personalização da terapia hormonal, com base nas características genéticas de cada paciente e no perfil do tumor, demonstra ser uma estratégia promissora na melhoria dos resultados.

Riscos dos tratamentos hormonais

Embora seja um tratamento essencial no combate a certos tipos de câncer, a hormonioterapia apresenta riscos e desafios que podem impactar a eficácia e a qualidade de vida dos pacientes a longo prazo. Entre os principais desafios estão a resistência ao tratamento, os efeitos colaterais complexos e as necessidades de acompanhamento especializado. Entenda mais sobre esses pontos críticos:

  1. Desenvolvimento de resistência ao tratamento: A resistência à hormonioterapia é um problema significativo, especialmente em tratamentos prolongados. Células cancerígenas podem desenvolver mutações ou alterar vias de sinalização para se adaptar ao ambiente com níveis hormonais reduzidos. Por exemplo, no câncer de mama com receptor hormonal positivo, algumas células tornam-se capazes de proliferar independentemente da presença de estrogênio, tornando o tratamento ineficaz. Essa resistência representa um grande desafio e requer o desenvolvimento de estratégias terapêuticas combinadas, como a adição de terapias-alvo e imunoterapias, para superar o problema.
  2. Efeitos sobre a saúde óssea: A redução dos níveis de estrogênio ou testosterona pode levar a uma diminuição significativa na densidade mineral óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas. Mulheres em hormonioterapia para câncer de mama, especialmente aquelas em pós-menopausa, e homens com câncer de próstata submetidos à privação de androgênios estão entre os mais afetados. A perda óssea progressiva não só compromete a mobilidade e a qualidade de vida, mas também requer tratamentos de suporte, como suplementos de cálcio e vitamina D, além de medicamentos para fortalecer os ossos, como bifosfonatos e denosumabe.
  3. Impacto cardiovascular: A hormonioterapia pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, especialmente em pacientes que já apresentam fatores de risco, como hipertensão, diabetes ou histórico de doença cardíaca. No caso do câncer de mama, os inibidores de aromatase podem elevar os níveis de colesterol, enquanto a privação de androgênios no câncer de próstata está associada ao aumento de pressão arterial e risco de infarto. O acompanhamento cardiovascular regular, incluindo exames de sangue e avaliação da pressão arterial, é essencial para monitorar e prevenir esses efeitos.
  4. Alterações metabólicas e ganho de peso: A terapia hormonal pode levar a mudanças no metabolismo, favorecendo o acúmulo de gordura e a resistência à insulina, o que pode contribuir para o desenvolvimento de síndrome metabólica e diabetes tipo 2. Pacientes submetidos à terapia de privação hormonal no câncer de próstata, por exemplo, frequentemente apresentam aumento de peso e alterações na composição corporal, o que agrava o risco cardiovascular e pode impactar negativamente a saúde geral.
  5. Efeitos colaterais psicológicos e emocionais: A hormonioterapia também está associada a sintomas psicológicos, como ansiedade, depressão e alterações de humor, que podem ser intensificados pelo impacto físico dos tratamentos. Mudanças nos níveis hormonais afetam não apenas a fisiologia, mas também o bem-estar emocional, exigindo suporte psicológico adequado. Em alguns casos, a terapia hormonal pode resultar em efeitos como fadiga crônica e problemas no sono, agravando o estresse psicológico.

A importância do acompanhamento médico

Como qualquer terapia de longo prazo, a hormonioterapia requer monitoramento contínuo para ajustar o tratamento e controlar potenciais efeitos colaterais, como alterações na densidade óssea, metabolismo e saúde cardiovascular. Um acompanhamento médico rigoroso é essencial para avaliar a eficácia e adaptar o tratamento conforme a resposta do paciente e o perfil de resistência do tumor.

Revisão médica:

Dra. Fernanda Frozoni Antonacio

Oncologista Clínica

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