Doença vascular periférica: quando os sintomas nas pernas indicam risco para o coração
Publicado em:
A doença vascular periférica (DVP) é uma condição silenciosa, mas perigosa. Ela compromete os vasos sanguíneos fora do coração e do cérebro, especialmente os que irrigam as pernas.
Segundo o Dr. Elias Gouvea, coordenador da Cardiologia no Hospital Rios D’Or, a DVP é uma das doenças mais negligenciadas da atualidade. “Dizer que até 20% dos adultos têm essa doença pode ser uma estimativa conservadora. Estamos falando de uma das três manifestações principais da aterosclerose — ao lado do infarto e do AVC”, alerta.
O mecanismo por trás da obstrução dos vasos nas pernas, coração e cérebro é o mesmo: a aterosclerose. “Existe uma regra conhecida como ‘1/3’: uma em cada três pessoas com obstrução nas pernas também tem problemas nas artérias do coração — o que as coloca em risco elevado de infarto e morte súbita. O infarto e o AVC continuam sendo as principais causas de morte nessas pessoas”, explica o médico.
O Dia Nacional de Combate à Doença Vascular Periférica, celebrado em 14 de julho, reforça a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. Afinal, dores nas pernas podem ser mais do que desconforto passageiro: elas podem ser o primeiro sinal de um risco grave para o coração. Neste artigo, vamos mostrar como reconhecer esses sinais e o que fazer. Continue a leitura
O que é a doença vascular periférica?
A doença vascular periférica acontece quando há um estreitamento ou bloqueio das artérias periféricas — geralmente devido ao acúmulo de placas de gordura (aterosclerose).
“Esse processo começa ainda na infância e se agrava com o tempo. O colesterol relacionado ao entupimento da aorta, dos vasos da pelve e das pernas têm forte componente genético”, afirma Dr. Elias Gouvea, que também atua em um projeto de aterosclerose na Rede D’Or São Luiz.
O especialista destaca a importância de conhecer, já aos 6 anos de idade, os níveis de colesterol LDL e de lipoproteína(a). “Pessoas com LDL acima de 180 e Lp(a) acima de 150 devem ser acompanhadas de perto e adotar um estilo de vida rigorosamente saudável.”
LEIA TAMBÉM: Testes genéticos para prevenir as cardiopatias
Segundo o cardiologista, quanto maior o tempo de exposição ao colesterol LDL alto, maior o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. “Existe até uma medida de risco conhecida como “colesterol-ano”: “Uma pessoa com LDL de 200 pode atingir o limiar crítico de 8000 colesterol-ano aos 40 anos, o que aumenta muito o risco de eventos graves”, calcula.
Alguns fatores aceleram esse processo: o cigarro lidera a lista, seguido por diabetes, hipertensão e sedentarismo. Com o tempo, essas condições favorecem a formação de placas de gordura nas artérias, muitas vezes sem provocar sintomas — o que torna a doença silenciosa e traiçoeira.
Além disso, a maioria das pessoas com doença arterial periférica (DAP) também apresenta obstruções nas artérias coronárias. Isso ocorre porque tanto a DAP quanto a coronariopatia têm a mesma causa: o acúmulo de placas de gordura. E, nesse cenário, a coronariopatia é a principal ameaça à vida, por estar diretamente associada a infartos e outras complicações cardíacas
Sintomas da doença vascular periférica
Muitas pessoas com DVP não apresentam sintomas. Outras sentem algo diferente, mas ignoram — e é aí que mora o perigo. Esses sinais podem indicar que o sangue não está circulando bem pelas pernas.
“Apenas 20% dos pacientes percebem algum sintoma. O mais clássico é a claudicação intermitente — dor na perna ao caminhar, que melhora ao repousar — mas é bem menos comum do que se imagina”, explica Dr. Gouvea.
A doença progride de forma silenciosa. Placas de gordura se acumulam ao longo dos anos, até que a obstrução se torne significativa e os sintomas, inevitáveis.
Os sinais mais comuns incluem:
- Dormências nas pernas ou pés;
- Dor ao movimentar a perna;
- Dor de origem incerta;
- Sensações parecidas com neuropatia periférica;
- Câimbras frequentes;
- Dores musculares persistentes.
“Nos casos mais avançados, pode haver frieza nos pés, palidez e até feridas causadas por falta de circulação”, destaca o cardiologista.
Frequentemente, esses sintomas são confundidos com problemas musculares ou nervosos. Por isso, muitas pessoas só recebem o diagnóstico quando a doença já está em estágio avançado — exigindo intervenções mais complexas.
Diagnóstico e tratamento da doença vascular periférica
O diagnóstico começa com uma avaliação clínica cuidadosa, histórico familiar de aterosclerose e exames laboratoriais — como os níveis de LDL e lipoproteína(a).
O médico também avalia os pulsos periféricos e pode solicitar exames como o Doppler arterial, angiotomografia e arteriografia digital dos membros inferiores.
“As pessoas com maior risco são aquelas com LDL colesterol elevado — especialmente quem tem hipercolesterolemia familiar heterozigótica, lipoproteína(a) alta, fumantes, diabéticos e com histórico familiar de infarto ou AVC precoce”, pontua o Dr. Gouvea.
O tratamento é indicado quando surgem sintomas ou sinais de isquemia ativa — ou seja, quando a circulação sanguínea está seriamente comprometida. As intervenções podem incluir:
- Angioplastia (procedimento minimamente invasivo com cateter);
- Cirurgias com enxertos vasculares (em casos mais graves).
Além disso, o uso de medicamentos é essencial. Entre eles:
- AAS (ácido acetilsalicílico) — para evitar coágulos;
- Rivaroxabana associada ao AAS — em casos específicos, para aumentar a proteção contra eventos cardíacos.
Segundo o cardiologista, o controle dos lipídios é a parte mais crítica — e mais negligenciada — do tratamento. “Para casos sintomáticos, a meta é manter o LDL abaixo de 50mg/dl. Isso não se consegue com dieta e exercícios apenas. É necessário usar estatina em dose máxima com ezetimiba”, orienta.
Para pacientes que não toleram estatinas, uma opção é o uso de inibidores da PCSK9. “Hoje temos o inclisirana, uma medicação de RNA de interferência, aplicada a cada seis meses, que mantém o colesterol LDL sob controle”, afirma.
Prevenir da doença vascular periférica
A prevenção começa pela manutenção da chamada Zona Segura: manter o colesterol LDL sob controle. Esse é o primeiro passo tanto para evitar o surgimento quanto para impedir a progressão da doença.
Adotar um estilo de vida saudável é essencial:
- Alimentação equilibrada.;
- Atividade física regular (mínimo de 150 minutos por semana);
- Abandono do tabagismo;
- Controle do estresse;
- Monitoramento da pressão e glicose.
“A atividade física não é opcional para quem tem DAP”, reforça Dr. Gouvea. “Embora dieta e exercício reduzam apenas 10 a 15% do colesterol, quando combinados ao controle do estresse, a redução no risco de novos eventos pode chegar a 40%”.
Essas mudanças simples têm impacto direto na prevenção de infartos, AVCs e complicações nas pernas.
Se você sente dor ou desconforto ao caminhar, não ignore esses sinais. Agende uma consulta com um cardiologista da Rede D’Or e comece a cuidar do seu coração — a partir das pernas.