Biópsia líquida: rastreando alterações genéticas do tumor circulantes no sangue
Biópsia líquida é um termo geral utilizado para um conjunto de métodos que permitem a avaliação de células tumorais circulantes (CTCs, do inglês circulating tumor cells) ou pequenos fragmentos de material genético (ctDNA/RNA, do inglês circulating tumor DNA/RNA), liberados isoladamente ou em vesículas por células tumorais no sangue ou outros fluidos corpóreos de um paciente com câncer.
Publicado em:
A primeira utilização de biópsia líquida na prática clínica foi a pesquisa de mutações no gene EGFR em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células que progrediram após o tratamento de primeira linha ou, ainda, que não apresentavam tecido disponível para a testagem molecular. Mutações em EGFR são preditivas de resposta ao tratamento, sendo que atualmente diversos inibidores de tirosina quinase podem ser utilizados para pacientes com tumores EGFR mutado. No câncer de mama metastático receptor de estrogênio positivo (RE+), pacientes frequentemente desenvolvem resistência ao tratamento com terapia endócrina. Essa resistência pode ser explicada por mutações em diversos genes, incluindo o próprio receptor de estrogênio (ESR1).
As moléculas de ctDNA/RNA provenientes das células neoplásicas representam uma parcela pequena do DNA circulante de um paciente oncológico. Em geral, essa proporção, conhecida como fração alélica ou fração tumoral, está abaixo de 10%. Na grande maioria dos pacientes, a maior proporção do material genético circulante (DNA e RNA) tem origem nas células não neoplásicas do indivíduo. No entanto, em algumas situações, a fração destas moléculas provenientes do tumor pode ultrapassar 50%.


A biópsia líquida pode estar indicada quando:
-
- Sítios tumorais anatomicamente difíceis de serem biopsiados.
- Amostra tecidual insuficiente.
- Avaliação molecular em tecido inconclusiva.
- Questões médicas em que a realização de uma biópsia tecidual acarretaria riscos para o paciente (exemplo: uso de anticoagulante).
- Busca de mecanismos de resistência. Exemplos: mutação EGFRT790M no adenocarcinoma de pulmão, mutações de ESR1 no câncer de mama e mutações de reversão de BRCA1 e BRCA2 no câncer de ovário.

Na última década, a avaliação de ctDNA/RNA vem revolucionando a prática oncológica, com inúmeras aplicações clínicas em diferentes cenários.
Inúmeros estudos recentes já demonstraram a utilidade clínica da busca destas mutações através do uso de ctDNA no sangue (plasma, principalmente).
Mais recentemente, biópsias líquidas começaram a ser aplicadas em outras fases da jornada oncológica. Pesquisa de ctDNA para detecção de doença residual mínima após um tratamento cirúrgico ou, ainda, monitoramento da resposta a um determinado medicamento são novas aplicações destas tecnologias.
Ainda em desenvolvimento e investigação, o uso de ctDNA para detecção precoce de câncer tem se tornado uma área de grande interesse científico, com promessas de nortear e revolucionar o rastreamento do câncer nas próximas décadas.
Autor:
Dr. Gabriel de Souza Macedo
Patologia Molecular – Rede D’Or