Dispositivo de assistência ventricular (DAV): o que é, como funciona e quanto é indicado?
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Os dispositivos de assistência ventricular (DAV) são tecnologias avançadas usadas para ajudar o coração a bombear sangue quando ele já não consegue desempenhar essa função sozinho. Eles fazem parte de um conjunto de tratamentos modernos disponíveis para pacientes com insuficiência cardíaca grave, oferecendo mais qualidade de vida, segurança e estabilidade hemodinâmica. Em muitos casos, o DAV permite que o paciente aguarde um transplante cardíaco em melhores condições.
Um artigo dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia mostra que no país, cerca de 1,1% dos adultos maiores de 18 anos diz ter insuficiência cardíaca. Entre aqueles com mais de 60 anos, a prevalência aumenta para 3,3%, mostrando como essa condição se torna mais comum com o envelhecimento.
O levantamento sobre o perfil epidemiológico das internações por insuficiência cardíaca no Brasil registrou 941.576 hospitalizações entre 2019 e 2023, reforçando a importância de terapias avançadas, como os DAVs, para oferecer suporte circulatório em casos graves.
Neste artigo, você vai entender de forma simples como funcionam os dispositivos de assistência ventricular, quando são indicados, seus principais benefícios e como é a vida após o implante. Continue a leitura para saber mais.
O que é um dispositivo de assistência ventricular (DAV)?
O DAV é um equipamento mecânico implantado por cirurgia que auxilia o ventrículo, geralmente o esquerdo, na função de bombear o sangue para o resto do corpo, em casos de mau funcionamento do coração.
“O DAV não substitui o coração por completo, ele apenas auxilia o funcionamento de um ou dos dois ventrículos, dependendo da necessidade do paciente. O coração continua no corpo e ainda participa, em menor grau, do bombeamento do sangue”, explica a cardiologista Dra. Jacqueline Sampaio S. Miranda, coordenadora da cardiologia do Hospital Copa Star, da Rede D’Or.
A médica afirma que o coração artificial total (SynCardia), ainda não disponível no mercado brasileiro, já foi implantado em cerca de 2.000 pacientes nos EUA com aprovação do FDA. “Muitas plataformas diferentes estão em teste no mundo, mas ainda não disponíveis em larga escala”, frisa.
Os DAVs geralmente são implantados cirurgicamente, podendo ser temporários até a recuperação do coração ou permanentes, em casos específicos nos quais o paciente não é candidato a transplante cardíaco. “Os temporários são usados no hospital em pacientes graves e têm curta duração. Os permanentes permitem que o paciente tenha alta com o aparelho para casa”, diz Dra. Jacqueline.
De acordo com a cardiologista, os DAVs temporários mais usados são o Balão intra-aórtico e a ECMO. Dos permanentes, o HeartMate 3 é o único liberado para uso no Brasil. “Ele é implantado cirurgicamente e com bons resultados em longo prazo, em torno de 58% de sobrevida em 5 anos. Sendo uma boa opção para pacientes com contraindicação ao transplante cardíaco”, salienta.
“Também podem ser usados enquanto se aguarda um transplante, especialmente em pacientes que têm a perspectiva de ficar muito tempo em fila, porém essa é uma prática pouco usada no nosso meio”, complementa.
Os avanços tecnológicos recentes tornaram os DAVs menores, mais leves e mais seguros. “Os novos modelos apresentam menos riscos de coágulos e infecções e funcionam de forma mais silenciosa. Além disso, pesquisas estão desenvolvendo dispositivos totalmente implantáveis, que funcionam sem fios externos, aumentando o conforto e a liberdade do paciente”, esclarece Dra. Jacqueline.
Para que servem os DAVs?
Os dispositivos de assistência ventricular servem para pacientes com insuficiência cardíaca terminal, que não respondem mais aos medicamentos apropriados. Podendo ser dividido em dois grandes grupos, pacientes agudos (previamente hígidos) e crônicos (portadores de cardiopatia).
“Nos casos agudos ocorre um grande insulto no coração (infarto, miocardite), sendo necessário o implante do DAV para manter o paciente vivo até a estabilização. Nos crônicos, na grande maioria das vezes, o implante do dispositivo ajuda a manter o paciente até o transplante”, destaca Dra. Jacqueline.
Os DAVs têm como principal objetivo garantir que o sangue circule de forma eficiente, mesmo quando o coração está muito enfraquecido. “Os dispositivos, em geral, ajudam o coração a levar sangue para o corpo. A depender da máquina, o funcionamento será diferente. Mas o objetivo é facilitar o esvaziamento do coração esquerdo, melhorar o fluxo sanguíneo e o fornecimento de oxigênio aos órgãos.”
Os DAVs podem ser usados para:
Ponte para transplante cardíaco
Pacientes que aguardam um transplante podem usar o dispositivo enquanto esperam na fila, evitando complicações e mantendo a estabilidade clínica.
Terapia de destino
Em casos em que o transplante não é possível, o DAV pode ser usado como tratamento permanente, melhorando sintomas e aumentando a expectativa de vida.
Recuperação cardíaca
Em algumas situações, o dispositivo auxilia o coração temporariamente até que ele se recupere, como após cirurgias cardíacas ou certas doenças graves.
“O DAV pode ser usado como uma ‘ponte’ até o transplante de coração, mantendo o paciente estável até receber o novo órgão, ou como uma terapia definitiva para quem não pode ser transplantado. O tempo de uso varia dependendo de outros fatores (idade e comorbidades), podendo durar meses ou até vários anos”, enfatiza Dra. Jacqueline Sampaio S. Miranda.
Quais são os benefícios do DAV?
Por aumentar o fluxo de sangue para o corpo, o dispositivo oferece benefícios como:
- Redução significativa dos sintomas, como falta de ar e cansaço;
- Melhora da circulação sanguínea e da oxigenação do corpo;
- Aumento da qualidade de vida, permitindo atividades cotidianas;
- Maior estabilidade clínica enquanto o paciente aguarda um transplante;
- Redução do risco de internações frequentes;
- Em muitos casos, aumento da sobrevida.
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Riscos e cuidados na implantação do DAV
Como qualquer procedimento complexo, o uso do DAV também envolve riscos, como infecções, sangramentos ou trombose. “A cirurgia é complexa e exige internação e monitoramento intensivo após o procedimento”, pontua a médica.
De acordo com a cardiologista, os principais riscos imediatos no pós-operatório são:
- Sangramento;
- Arritmias;
- Infecção.
“Na fase mais tardia, o sangramento, a trombose, o mau funcionamento da bomba e a infecção, especialmente no local de saída do cabo, são as mais frequentes. Para isso, o paciente precisa seguir cuidados rigorosos”, aponta a médica, que aconselha:
- Manter o curativo limpo;
- Usar corretamente a anticoagulação;
- Fazer acompanhamento regular com a equipe médica.
Como é a vida depois da implantação do DAV?
“Após a recuperação, o paciente pode retomar as suas atividades normalmente. A reabilitação física é feita de rotina e o exercício é estimulado como prática de promoção de saúde, obviamente individualizada para cada paciente”, diz a cardiologista.
Também é possível viajar, desde que leve baterias extras e mantenha o equipamento protegido. No entanto, de acordo com a especialista, esportes de contato, atividades aquáticas e ambientes sem acesso à energia elétrica devem ser evitados.
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“Um dos mitos mais comuns é acreditar que o DAV substitui totalmente o coração, o que não é verdade, ele apenas auxilia o bombeamento. Outro equívoco é pensar que o paciente precisa ficar restrito à cama; na realidade, com o devido acompanhamento, muitos voltam a ter uma vida ativa e independente”, ressalta.
Se você ou um familiar apresenta sintomas persistentes de insuficiência cardíaca, como falta de ar, inchaço, cansaço intenso ou piora progressiva mesmo com o tratamento, é importante buscar avaliação especializada.
Em muitos casos, o DAV pode ser a melhor alternativa para recuperar a estabilidade e a qualidade de vida. Com acompanhamento adequado e estrutura especializada, os pacientes podem viver melhor e com mais segurança. Agende sua consulta com um cardiologista da Rede D’Or.