Doenças cardíacas em crianças: o que os pais precisam saber
Cardiopatias infantis podem ser silenciosas. Fique atento aos sinais que exigem avaliação médica
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As doenças cardíacas em crianças podem parecer um assunto distante, mas são mais comuns do que se imagina. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 130 milhões de crianças no mundo têm algum tipo de cardiopatia congênita.
No Brasil, os números do Ministério da Saúde indicam que a cada mil nascidos vivos, dez apresentam cardiopatia congênita. Isso equivale a cerca de 29 mil crianças por ano, sendo que, infelizmente, cerca de 6% delas morrem antes de completar o primeiro ano de vida. Nos casos mais graves, a doença pode ser responsável por até 30% das mortes no período neonatal.
Saber identificar sinais precoces e entender os tipos de problemas cardíacos infantis pode fazer toda a diferença no diagnóstico e no tratamento. Neste artigo, explicamos o que são doenças cardíacas em crianças, seus sintomas, causas, formas de tratamento e quando os pais devem procurar um especialista.
O que são doenças cardíacas em crianças?
As doenças cardíacas infantis são alterações no funcionamento ou na estrutura do coração que afetam crianças desde o nascimento ou se desenvolvem durante a infância. Elas podem ser congênitas (presentes desde o nascimento) ou adquiridas (desenvolvidas após o nascimento, por infecções ou outras causas).
Integrante da equipe de Cardiologia do Hospital São Luiz Morumbi, em São Paulo (SP), a Dra. Vivian De Biase explica que as cardiopatias congênitas são alterações que ocorrem durante a formação do coração e da circulação cardíaca do feto enquanto ele ainda está sendo formado no útero da mãe. “São condições que ocorrem em cerca de 1% da população mundial”, aponta.
Por outro lado, as cardiopatias adquiridas se desenvolvem ao longo da vida, geralmente como consequência da exposição a fatores de risco como colesterol elevado, diabetes, hipertensão arterial e hábitos de vida.
A médica explica que nem todas as cardiopatias congênitas exigem intervenção. “Algumas cardiopatias congênitas como a Comunicação Interatrial (CIA), dependendo da localização no músculo cardíaco, pode se corrigir naturalmente até a idade pré-escolar. Mas a grande maioria não desaparece com o crescimento”, diz Dra. Vivian De Biase.
Algumas cardiopatias podem ser monitoradas apenas com acompanhamento clínico regular por um cardiologista. Já outras demandam procedimentos como o cateterismo cardíaco, uma técnica minimamente invasiva, realizada por meio da inserção de um cateter pela virilha, que permite corrigir determinadas malformações do coração. “Em alguns casos, a cirurgia realmente é necessária uma ou mais de uma vez, dependendo da gravidade e da anatomia do paciente”, ressalta.
Principais tipos de doenças cardíacas em crianças
A Dra. Vivian De Biase salienta que, entre as doenças cardíacas mais comuns na infância, é fundamental investigar as malformações congênitas. Essas alterações podem afetar o músculo cardíaco, as válvulas do coração, assim como os vasos sanguíneos que transportam o sangue para os pulmões e para o restante do corpo.
Entre as cardiopatias congênitas mais comuns na infância, destacam-se:
- Comunicação Interventricular (CIV): abertura anormal entre os ventrículos do coração.
- Comunicação Interatrial (CIA): abertura entre os átrios, que permite a passagem de sangue entre as duas câmaras superiores.
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- Persistência do Canal Arterial (PCA): é caracterizada por uma falha no fechamento do canal que conecta a aorta à artéria pulmonar, presente na vida fetal.
- Tetralogia de Fallot: é uma combinação de quatro defeitos cardíacos que afetam o fluxo sanguíneo.
- Defeito do Septo Atrioventricular: má formação entre as câmaras superiores e inferiores do coração.
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- Coarctação da Aorta: ocorre o estreitamento de parte da aorta, dificultando a passagem do sangue.
- Insuficiências Valvares: funcionamento inadequado das válvulas cardíacas, que prejudica a circulação sanguínea.
Diagnóstico de doenças cardíacas em crianças
“É possível realizar o diagnóstico das cardiopatias congênitas mais complexas (alterações mais importantes) durante a realização do ecocardiograma fetal (um ultrassom do coração do feto enquanto a mãe ainda está grávida)”, descreve Dra. Vivian.
De acordo com ela, o ecocardiograma é um excelente e necessário exame de rastreio, pois muitas alterações severas necessitam de intervenções precoces e um planejamento do parto. “Outras cardiopatias congênitas mais leves e menos importantes muitas vezes podem não ser diagnosticadas nesse exame e ser necessária a realização do rastreio após o nascimento”, ressalta.
Além do ecocardiograma, o diagnóstico de doenças cardíacas em crianças é realizado por meio de exames clínicos e de imagem, como:
“Cada um tem a sua indicação correta e não são todos os pacientes que necessitam de todos os exames. A história clínica e a avaliação médica definem os exames necessários”, pontua Dra. Vivian.
Sintomas mais comuns de doenças cardíacas em crianças
Os sintomas das cardiopatias congênitas podem variar bastante, já que existem diferentes tipos de malformações cardíacas. A manifestação clínica depende diretamente da região do coração afetada e da gravidade da alteração.
A Dra. Vivian De Biase afirma que alguns sintomas de doenças cardíacas em crianças são comuns a diferentes tipos de cardiopatias congênitas, podendo aparecer isoladamente ou em conjunto, dependendo do caso.
Entre os sintomas mais comuns, estão:
- Cansaço;
- Choro ao mamar;
- Interrupção das mamadas;
- Cianose (coloração arroxeada da boca ou dedos);
- Aumento do suor;
- Aumento do número de infecções respiratórias;
- Baixo ganho de peso e estatura.
Em muitos casos, especialmente nas cardiopatias congênitas leves, a criança pode não apresentar sintomas evidentes. Por isso, o acompanhamento pediátrico é essencial.
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Como prevenir doenças cardíacas em crianças
As cardiopatias congênitas não podem ser totalmente prevenidas, mas alguns cuidados ajudam a reduzir os riscos. Segundo Dra. Vivian, há uma tendência genética para doenças cardíacas em crianças. “Atualmente já temos genes detectados e podemos submeter irmãos a testes genéticos ou, pelo menos, a uma avaliação cardiológica com exames de imagem.”
Como as cardiopatias congênitas são doenças em que a criança já possui desde o nascimento, o foco é evitar piora, agravamento ou surgimento de outras cardiopatias adquiridas.
Veja alguns hábitos que ajudam na saúde do coração desde cedo:
- Adotar uma alimentação saudável;
- Manter o peso adequado;
- Realizar check-up sempre que necessário.
Dra. Vivian destaca que esses cuidados formam uma barreira de segurança para o desenvolvimento de outras doenças que possam agravar as cardiopatias congênitas.
“Cada vez mais estamos percebendo as melhorias que as atividades físicas exercem mesmo em casos de cardiopatias mais complexas. Uma vez que o paciente tenha passado por uma avaliação cardiológica, realizado exames que imitam a situação do exercício físico, que sejam descartadas arritmias ligadas ao esforço físico, ele pode ser liberado para a prática de atividade física”, complementa.
Nos casos mais graves, é possível realizar a reabilitação cardíaca, que consiste na prática de atividade física com monitorização hemodinâmica contínua durante o exercício. “Atualmente tentamos preservar ao máximo a qualidade de vida do paciente, visando não só que eles cheguem à idade adulta, mas que cheguem bem e saudáveis a essa fase”, enfatiza.
Existem também cardiopatias congênitas extremamente leves, que podem permitir uma vida normal, com ou sem necessidade de correção. “Outras cardiopatias, principalmente as mais complexas ou as que não tenham sido corrigidas a tempo e necessitem de múltiplas cirurgias, podem deixar pequenas sequelas em relação à qualidade de vida do paciente”, ressalta.
Quando procurar um cardiologista pediátrico?
É de fundamental importância que todas as crianças pelo menos uma vez durante a infância realizem um exame que rastreie algum tipo de malformação cardíaca. “Como muitas cardiopatias congênitas podem ser silenciosas, não apresentar sintomas durante a infância, ou apresentar sintomas que se confundam com asma, rinite, bronquite, uma avaliação cardiológica pode mudar o rumo e o destino da cardiopatia de forma precoce, não perdendo o tempo correto de intervir e corrigir, sendo com medicações ou com procedimentos”, aconselha Dra. Vivian De Biase.
Os pais devem procurar um cardiologista pediátrico sempre que notarem sintomas suspeitos em seus filhos, como cansaço excessivo, dificuldade de crescimento ou alterações respiratórias sem causa aparente. A avaliação especializada também é indicada caso o pediatra identifique sopros cardíacos persistentes ou suspeite de alguma alteração no funcionamento do coração.
Além disso, a presença de histórico familiar de doenças cardíacas deve acender um sinal de alerta. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de um tratamento eficaz e de garantir uma boa qualidade de vida para a criança. Agende uma consulta com um cardiologista D’Or.