Câncer de próstata e risco cardíaco: fatores que devem ser monitorados
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O câncer de próstata é o tipo de câncer mais comum entre os homens, especialmente após os 50 anos. Graças aos avanços no diagnóstico e tratamento, as taxas de sobrevida têm aumentado. No entanto, junto com essa boa notícia, surge uma atenção importante, o impacto cardíaco que pode acompanhar a doença e seu tratamento.
Nos últimos anos, estudos têm mostrado que homens com câncer de próstata podem apresentar maior probabilidade de desenvolver doenças cardíacas, seja pela própria condição, seja pelos efeitos das terapias hormonais, radioterapia ou quimioterapia.
Embora, o câncer de próstata seja tratável, os cuidados não devem se limitar à glândula prostática. O coração também precisa de atenção especial, principalmente durante o tratamento. Monitorar pressão arterial, colesterol, peso e função cardíaca é essencial para reduzir o risco de complicações.
Continue lendo e entenda quais fatores devem ser monitorados para proteger o coração durante o tratamento do câncer de próstata.
Como o tratamento do câncer de próstata afeta o coração
O corpo humano funciona como um sistema interligado. Quando o homem é diagnosticado com câncer de próstata, todo o organismo passa a lidar com alterações físicas e emocionais que podem impactar a saúde cardiovascular.
Dr. Rodrigo Batista Rocha, cardio-oncologista da Rede D’Or Anália Franco e Villa Lobos, em São Paulo (SP), explica que há, sim, uma relação entre o câncer de próstata e o risco cardíaco. “De uma forma geral, os pacientes com câncer de próstata já se apresentam com idade mais avançada, um fator de risco clássico para doença do coração. Além disso, o tratamento para o câncer de próstata com bloqueadores androgênicos pode impactar negativamente no coração, aumentando o risco de doenças cardiológicas”, destaca.
Além disso, o tratamento oncológico com a terapia de privação androgênica (bloqueio hormonal), que reduz os níveis de testosterona, pode causar:
- Aumento do colesterol e dos triglicerídeos;
- Alterações na glicemia e resistência à insulina;
- Ganho de peso e acúmulo de gordura abdominal;
- Redução da massa muscular;
- Elevação da pressão arterial.
Essas mudanças elevam o risco de doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e insuficiência cardíaca.
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“Infelizmente o benefício do tratamento para o câncer de próstata compete com um efeito negativo no coração. O tratamento com bloqueador androgênico, muito utilizado nos pacientes com câncer de próstata, causa ganho de peso e aumento dos valores de colesterol e glicemia. Todos esses fatores são de risco para o surgimento de doenças no coração”, alerta Dr. Rodrigo Rocha, que também atua como cardiologista e médico intensivista da unidade coronariana da Rede D’Or Anália Franco.
Fatores de risco cardíaco que devem ser monitorados
Homens com câncer de próstata devem redobrar a atenção aos fatores de risco que afetam a saúde do coração, especialmente aqueles com histórico familiar de doenças cardiovasculares ou condições pré-existentes. Um estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology (JACC) apontou que muitos homens com diagnóstico de câncer de próstata já possuem fatores de risco cardiovascular, como tabagismo, obesidade e sedentarismo.
De acordo com Dr. Rodrigo Rocha, o tratamento com bloqueadores hormonais pode potencializar esses riscos. “O tratamento com bloqueadores hormonais pode elevar a pressão arterial, piorar os níveis de colesterol, principal causa da aterosclerose, e aumentar o risco de diabetes devido ao aumento da resistência insulínica. Portanto, monitorar valores de pressão arterial e realizar exames de sangue regulares são essenciais nos pacientes com câncer de próstata”, acrescenta.
A frequência ideal para medir pressão arterial, colesterol, glicemia e realizar avaliações cardiológicas durante o tratamento do câncer de próstata varia conforme o risco cardiovascular de cada paciente. “Por exemplo, se o paciente é hipertenso, pelo menos a cada 3 meses deve ser mensurada sua pressão arterial por um profissional visando ajuste de suas medicações. Exames de laboratórios podem ser coletados anualmente, porém, em caso de ajuste de medicações, essa avaliação é realizada em um intervalo menor. Esse monitoramento deve ser feito pelo cardiologista e por isso o seguimento em consultório é essencial”, destaca.
Os principais fatores de risco cardíaco que merecem atenção no tratamento do câncer de próstata são:
- Hipertensão arterial;
- Colesterol alto;
- Diabetes ou pré-diabetes;
- Sedentarismo;
- Tabagismo;
- Estresse crônico;
- Obesidade
Dr. Rodrigo Rocha reforça que essas condições, quando associadas aos efeitos do tratamento, elevam significativamente as chances de eventos graves, como infarto ou derrame cerebral. “Agora imagina que o tratamento do câncer de próstata leva a uma piora do colesterol e da obesidade. Dá para ter uma ideia do quanto de risco a mais os pacientes podem apresentar”, ressalta.
“Além de hipertensão e diabetes já aumentarem o risco de doenças no coração, os pacientes podem apresentar piora dos valores de pressão e aumento da glicemia por causa do tratamento do câncer de próstata. Quem tem histórico de doença cardíaca pode ter seu sistema cardiovascular já comprometido e isso pode piorar com o tratamento do câncer”, destaca o cardio-oncologista.
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O papel do acompanhamento multidisciplinar
O cuidado com o paciente com câncer de próstata deve ir além do controle tumoral, pois é acompanhado de muitos efeitos colaterais. Um acompanhamento integrado entre o oncologista, o cardiologista e o urologista é fundamental para garantir segurança e qualidade de vida.
“O seguimento do paciente com cardio-oncologia visa identificar, estabilizar e tratar esses efeitos colaterais em todo o sistema cardiovascular e dessa forma reduz a chance de interrupção do tratamento. Assim, o paciente recebe todo o tratamento oncológico em sua plenitude”, explica o Dr. Rodrigo Rocha.
Da mesma forma ocorre quando o urologista planeja o procedimento cirúrgico. “A avaliação pré-operatória com cardiologista visa otimizar condição clínica e ajuste das medicações regulares, o que leva o paciente ao melhor status clínico para a cirurgia proposta”, complementa o especialista.
Como reduzir o risco cardiovascular
Cuidar do coração é parte essencial da jornada contra o câncer de próstata. Mudanças simples no estilo de vida podem ajudar a reduzir o risco de complicações cardíacas durante e após o tratamento.
O tratamento oncológico pode levar à perda de massa muscular e ao ganho de peso, diminuindo o condicionamento físico. Por isso, segundo o cardio-oncologista, manter uma rotina de exercícios e alimentação balanceada durante todo o tratamento e também após o término é fundamental para preservar a saúde geral.
“Introduzir hábitos saudáveis como dieta equilibrada e atividade física regular, além de reduzir o risco cardiovascular, também combate os efeitos colaterais do bloqueio hormonal causado pelas medicações que tratam o câncer de próstata”, destaca Dr. Rodrigo Batista Rocha.
“Durante o tratamento oncológico, o paciente pode ficar mais cansado, com fadiga, desânimo, apresentar inchaço no corpo e até mesmo começar a referir desconforto na região do peito. Todos esses sintomas devem ser relatados ao médico que está acompanhando o paciente”, alerta.
Na Rede D’Or, a cardio-oncologia, urologia e oncologia realizam um grande trabalho em conjunto com foco no cuidado integral do paciente em tratamento do câncer de próstata. A avaliação breve é realizada reduzindo interrupções do tratamento e proporcionando uma melhor assistência ao paciente. Agende sua consulta com um de nossos especialistas.