Fique atento aos sinais: cansaço, falta de ar e inchaço podem indicar insuficiência cardíaca
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A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração perde a capacidade de bombear sangue de forma eficiente para o restante do corpo. Isso significa que os órgãos e tecidos não recebem oxigênio e nutrientes na quantidade necessária, comprometendo seu funcionamento.
Dados epidemiológicos indicam que cerca de 57 milhões de pessoas vivem com insuficiência cardíaca em todo o mundo, e a estimativa é que esse número cresça 34% nas próximas décadas.
O Relatório para a Sociedade do Conitec, emitido pelo Ministério da Saúde, para incorporação de novos medicamentos e tecnologias no SUS, informa que a insuficiência cardíaca está entre as três principais causas de morte por doenças cardiovasculares ao lado do infarto e do derrame cerebral, sendo responsável por cerca de 7% dos óbitos no país. A condição afeta aproximadamente 2 milhões de brasileiros, com cerca de 240 mil novos casos registrados todos os anos, segundo publicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
No dia 9 de julho é celebrado o Dia Nacional de Alerta contra a Insuficiência Cardíaca, uma data criada para chamar a atenção da população sobre essa doença silenciosa, que é uma das principais causas de internação no Brasil e no mundo. Continue lendo e saiba os sinais de alerta que podem indicar insuficiência cardíaca.
O que é insuficiência cardíaca?
A insuficiência cardíaca é uma doença resultante da incapacidade do coração fornecer a quantidade de sangue necessária para suprir as condições que o organismo necessita no momento, podendo ser a via final de múltiplas doenças que envolvem o coração, como ocorre no caso dos infartos, alterações valvares, miocardites e várias outras.
De acordo com o Dr. Vitor Agueda Salles, supervisor da Unidade Cardiointensiva do Hospital Copa Star, a insuficiência cardíaca é dividida em quatro estágios:
- no primeiro o paciente apresenta apenas os fatores de risco, como pressão alta e diabetes;
- no segundo, já há alteração no coração, mas sem sintomas;
- no terceiro, surgem os sintomas, que podem ser controlados com remédios e tratamentos;
- e no quarto estágio, a doença se torna mais grave e os remédios comuns já não são suficientes, podendo ser necessário até um transplante de coração.
Quais são os principais sinais de insuficiência cardíaca?
Médico de rotina da equipe de transplante cardíaco da Rede D´Or – Rio de Janeiro, Dr. Agueda destaca um sintoma que deve chamar a atenção das pessoas para possibilidade de insuficiência cardíaca: o cansaço para atividades habituais e o edema ou inchaço. “O inchaço em especial das pernas e alguns casos do abdome, principalmente na situação em que a pessoa amanhece com inchaço”, alerta.
É muito importante estar atento aos sinais e sintomas, que muitas vezes são confundidos com cansaço comum ou outras condições do dia a dia. Os principais sinais de insuficiência cardíaca são:
Aumento rápido de peso:
“Podendo ou não estar associado ao inchaço e, em especial, quando ele acontece em rápida velocidade (mais de 2-3kg em menos de 1 semana), nos casos mais graves o paciente chega a ganhar 15-20 quilos de líquido em menos de 15 dias”, explica.
Falta de ar, ou dispneia:
“Quando o paciente chega na Emergência ou no consultório, é sempre perguntado sobre falta de ar (dispnéia), porém nem sempre ele compreende esta sensação, que só se torna clara nas fases mais avançadas. Uma forma objetiva e simples de explicar seria o fenômeno que ocorre quando o paciente tenta puxar o ar e não consegue, ficando com muita dificuldade de respirar, a chamada fome de ar”, destaca.
Cansaço excessivo:
“O surgimento do cansaço para atividades que a pessoa realizava sem problemas há pouco tempo. Por exemplo, paciente há 2 meses ia ao mercado e voltava com 2 sacolas de compras, hoje ele para 2 ou 3 vezes para descansar fazendo o mesmo trajeto”, exemplifica.
Alterações no padrão do sono:
“Alterações no sono relacionadas ao padrão de respiração podem ser associadas à insuficiência cardíaca. Como exemplo: o paciente ao deitar precisa colocar muitos travesseiros ou algum calço na cama e assim elevar a cabeceira para conseguir dormir sem sufocar. Outra situação: só consegue dormir sentado na cadeira senão tem falta de ar, ambos indicam muito provavelmente uma insuficiência cardíaca importante”, descreve Dr. Agueda.
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Outros sintomas são mais gerais e podem estar presentes em outras doenças, cardiológicas ou não, como tosse, em especial seca e prolongada, tonteiras, desmaios e sonolência excessiva súbita, estas últimas podendo significar menor perfusão (chegada de sangue) ao cérebro.
A insuficiência cardíaca pode afetar vários órgãos do corpo, causando sintomas bem diferentes. Além do cansaço e da falta de ar, é comum a pessoa perceber que está urinando bem menos que o normal. Também podem surgir inchaço na barriga ou dores abdominais fortes, que acontecem quando o fígado é sobrecarregado pela dificuldade do coração em bombear corretamente.
Diagnóstico e tipos de insuficiência cardíaca
O diagnóstico da insuficiência cardíaca é realizado através dos sinais e sintomas, de acordo com alguns protocolos internacionalmente aceitos. “Uma vez cogitado seu diagnóstico, o médico deverá realizar exames para identificar o tipo de insuficiência cardíaca, sua causa e possíveis fatores de descompensação”, explica.
Os tipos de insuficiência cardíaca são:
Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP)
O coração contrai normalmente, mas não relaxa direito para se encher de sangue. É mais comum em idosos e pessoas com doenças como hipertensão, diabetes e problemas respiratórios.
Insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER)
O coração fica dilatado, perde força para contrair e bombeia menos sangue para o corpo. É o tipo mais conhecido e pode causar até aumento do tamanho do coração.
Insuficiência cardíaca com fração de ejeção moderadamente reduzida (ICFmR)
É um meio-termo, que apresenta características dos dois tipos anteriores, tanto dificuldade na contração quanto no relaxamento do coração.
O eletrocardiograma (ECG), apesar de simples, é fundamental e já traz pistas sobre o tamanho do coração, arritmias e até se há necessidade de marca-passo. Depois do ECG, o ecocardiograma é o principal exame, pois confirma o diagnóstico, indica o tipo de insuficiência cardíaca e orienta o tratamento.
Alguns exames de sangue mais específicos ajudam a confirmar o diagnóstico, além de avaliar rins, fígado, tireoide, colesterol e outros parâmetros importantes. Outros exames, como ressonância cardíaca, angiotomografia de coronárias e cateterismo, ajudam a descobrir se há entupimento nas artérias ou outros problemas no músculo do coração.
“A medicina nuclear vem nos últimos anos aumentando seu papel, pois além da cintilografia miocárdica de repouso e estresse, mais um exame na busca de doenças de coronárias, temos um protagonismo atual da cintilografia com pirofosfato para investigação de algumas doenças que podem depositar substâncias no músculo do coração”, ressalta Dr. Agueda.
Tratamento da insuficiência cardíaca
O tratamento da insuficiência cardíaca inclui o uso de medicamentos específicos que ajudam o coração a funcionar melhor e controlam os sintomas, além de mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável, exercícios orientados, controle do peso, parar de fumar e evitar álcool.
Embora a doença geralmente não tenha cura, os avanços na medicina permitem frear sua progressão e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Em casos mais avançados, podem ser necessários dispositivos implantáveis, como marca-passos ressincronizadores e desfibriladores, ou até o transplante cardíaco.
“A área da insuficiência cardíaca vem apresentando cada vez mais destaque nos congressos e revistas cardiológicas, com grande progressão no tratamento medicamentoso. Hoje a grande maioria das sociedades médicas no mundo já reconhece o papel de um grupo de medicamentos de 4 classes diferentes, que alguns chamam “quarteto fantástico” na interrupção de progressão da doença, até com algum grau de recuperação ventricular nos pacientes que têm o tipo de insuficiência cardíaca com alteração de função contrátil (ICFER)”, destaca Dr. Agueda.
Em pacientes sem alteração de função contrátil cada vez mais drogas vêm sendo testadas, e algumas já fazem parte da prescrição com sucesso na redução de hospitalizações.
“Além do tratamento geral, faz-se necessário tratar a causa base que levou à insuficiência cardíaca, daí a importância de buscarmos os métodos diagnósticos. Podemos conseguir grandes ganhos em termos de qualidade de vida com tratamento de lesões das coronárias, correção de lesões nas válvulas cardíacas e implante de marca-passo nos pacientes com contração não uniforme do coração”, destaca.
Nos estágios iniciais da insuficiência cardíaca, o paciente não tem sintomas, mas exames como o ecocardiograma já mostram alterações no coração. Nesse momento, o tratamento com remédios e controle de doenças como pressão alta, diabetes e arritmias pode evitar que o quadro evolua, além da recomendação de hábitos saudáveis.
Como prevenir a insuficiência cardíaca?
Pessoas mais idosas e aquelas com problemas de saúde, como pressão alta, diabetes, infarto, doenças nas válvulas do coração e arritmias (especialmente fibrilação atrial), têm maior risco de desenvolver insuficiência cardíaca. Além disso, hábitos como sedentarismo, tabagismo, uso excessivo de álcool e drogas, como cocaína, aumentam esse risco. Por isso, adotar um estilo de vida saudável é fundamental.
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Dr. Vitor Agueda Salles orienta a adoção de alguns hábitos:
– Interromper o consumo de álcool e substâncias como tabaco;
– Redução de peso corporal;
– Controlar a pressão arterial, colesterol e diabetes;
– Adotar um acompanhamento nutricional correto;
– Praticar atividade física.
“O exercício físico orientado pode trazer excelentes benefícios ao paciente, de maneira superficial, acaba por estimular os outros músculos a trabalharem com uma função cardíaca comprometida, observamos em especial isso quando vemos os resultados impressionantes da reabilitação cardíaca“, salienta Dr. Agueda.
O paciente que tem insuficiência cardíaca muitas vezes não tolera ingestão de grandes volumes de líquido e sal, no Brasil, inclusive, esta é a maior causa de internação por descompensação da insuficiência cardíaca.
“Recomendamos de forma sumarizada: atividade física regular 3 a 5 vezes por semana, de 30 a 60 minutos, acompanhada de restrição de líquidos e sódio na dieta (maioria das vezes entre 1,5 litros/dia, com carga de sódio de 2-2,5gramas), além de cessação de hábito tabágico e alcoólico, controle rigoroso da pressão arterial e diabetes”, reforça Dr. Agueda.
Se você sente falta de ar, cansaço fora do normal ou percebe inchaço no corpo, não ignore. Esses podem ser os primeiros sinais de insuficiência cardíaca. Agende uma consulta com um cardiologista D’Or e deixe seus exames em dia.