Hipertensão, colesterol e diabetes: um trio de risco para o AVC
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O Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame, é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo. Entre os fatores que aumentam o risco de um AVC, três merecem atenção especial: hipertensão arterial (pressão alta), colesterol elevado e diabetes mellitus.
Essas condições são perigosas individualmente, mas quando ocorrem juntas, ampliam de forma significativa o risco de complicações cardiovasculares graves, incluindo o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Um estudo do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), vinculado ao Ministério da Saúde, mostra que cerca de 30% dos adultos brasileiros vivem com hipertensão arterial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 800 milhões de adultos em todo o mundo têm diagnóstico de diabetes.
A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) também alerta que mais de 40% dos brasileiros apresentam colesterol elevado, e cerca da metade dessas pessoas não sabe que tem o problema.
Além disso, uma pesquisa publicada na Biblioteca Nacional de Medicina destacou que a hipertensão é duas vezes mais comum entre pessoas com diabetes do que entre aquelas sem a doença, reforçando a conexão perigosa entre esses fatores e o aumento do risco de complicações cardiovasculares graves, como o AVC. Continue lendo e entenda mais sobre essas condições e como diminuir os riscos ao coração.
Por que esse trio é tão perigoso?
Os três fatores, hipertensão, colesterol alto e diabetes, afetam diretamente a saúde dos vasos sanguíneos.
- A hipertensão força as paredes das artérias, tornando-as mais rígidas e suscetíveis a rompimentos.
- O colesterol alto, especialmente o LDL (“colesterol ruim”), se acumula nas paredes dos vasos, formando placas de gordura que estreitam e endurecem as artérias (aterosclerose), reduzindo o fluxo sanguíneo.
- O diabetes, por sua vez, promove inflamação, rigidez vascular e alterações no sangue que favorecem trombos.
Quando essas três condições estão presentes, o organismo sofre um ataque conjunto à circulação, aumentando muito a probabilidade de entupimentos, coágulos e AVCs.
Coordenador médico da Cardiologia do Hospital Caxias D’Or, Dr. Bruno Cruz explica que a hipertensão, o colesterol alto e o diabetes constituem os principais fatores de risco para a ocorrência do AVC.
“Eles atacam as artérias do corpo por caminhos diferentes e complementares. Juntos, aceleram o processo que pode levar à obstrução (ou à ruptura) de vasos cerebrais — se manifestando como AVC isquêmico ou mesmo hemorrágico”, destaca.
“Estudos e revisões mostram que cada condição aumenta o risco individualmente (por exemplo, diabetes aumenta o risco de AVC em cerca de 1,5–2 vezes comparado a não diabéticos) e que combinações aumentam o risco de forma substancial — estudos clássicos e meta-análises relatam aumento de risco muito maior quando fatores se associam (a magnitude varia com população, idade e tratamento). Em termos gerais: hipertensão é o fator com maior peso isolado, e a coexistência com diabetes e dislipidemia eleva o risco de forma multiplicativa, não apenas aditiva”, relata.
Ter apenas um desses problemas já aumenta o risco, mas quando os três aparecem juntos, o impacto no corpo é muito maior. Os efeitos negativos se somam, acelerando o entupimento e o envelhecimento das artérias, tornando os vasos mais frágeis e aumentando bastante as chances de infarto e AVC. “Em termos práticos, a combinação multiplica a chance de um evento vascular mais precoce e mais grave”, alerta Dr. Cruz.
Esses fatores costumam aparecer juntos em muitos pacientes por várias razões como:
- Características genéticas;
- Alimentação rica em calorias e gorduras;
- Sedentarismo;
- Obesidade central;
- Envelhecimento.
“Esses fatores criam um ambiente em que pressão, glicemia e lipídios se alteram em paralelo — a chamada síndrome metabólica. Além disso, fatores socioeconômicos, falta de atividade física, dieta com excesso de sódio e açúcar e até certos medicamentos ou condições (p.ex. apneia do sono) favorecem essa associação. Ou seja, hábitos e condições biológicas tendem a agrupar esses problemas”, destaca.
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Como a pressão alta aumenta o risco de AVC?
O cardiologista ressalta que a hipertensão é o principal fator de risco para AVC, portanto é a principal causa evitável de AVC. Quando a pressão do sangue dentro das artérias se mantém elevada por muito tempo, as paredes dos vasos sanguíneos ficam sobrecarregadas.
“A tensão elevada faz com que as paredes das artérias sofram lesão crônica: ficam mais finas, rígidas e com o endotélio (revestimento) danificado. Isso facilita tanto o aparecimento de placas e coágulos que bloqueiam o fluxo (causando AVC isquêmico) quanto a ruptura de pequenos vasos fracos (causando AVC hemorrágico). Controle adequado da pressão reduz claramente o risco de AVC”, aponta o Dr. Cruz.
A hipertensão arterial é classicamente uma doença silenciosa, ou seja, assintomática. “Apesar de existir forte cultura popular que seria uma causa comum de cefaleia (dor de cabeça), na grande maioria das vezes, a cefaleia é que causa a hipertensão e não o contrário. Isso é um mito muito importante de se corrigir e combater”, ressalta o médico, que atua na Rede D’Or há 20 anos.
Aguardar sintomas para o diagnóstico e tratamento da hipertensão constitui falha grave. Alguns sinais merecem checagem imediata e incluem:
- Dor de cabeça intensa e súbita;
- Visão embaçada;
- Tontura forte;
- Palpitações;
- Falta de ar;
- Sangramento nasal recorrente;
- Sensação de confusão.
“Fora de crise, sintomas vagos como cansaço, cefaleias matinais ou zumbido podem também ocorrer. A melhor prática é medir regularmente a pressão em casa/consultório. Metade dos pacientes hipertensos não tem ciência do diagnóstico e, desses, menos da metade está tratada e dentro da meta de tratamento”, destaca Dr. Bruno Cruz.
Como o colesterol alto pode levar a um AVC?
O colesterol alto contribui para o acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias, processo conhecido como aterosclerose. Com o tempo, essas placas tornam os vasos mais estreitos e rígidos, dificultando a passagem do sangue.
Quando esse bloqueio ocorre em artérias que levam sangue ao cérebro, o fluxo sanguíneo pode ser interrompido total ou parcialmente, provocando um acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, se uma dessas placas se romper, pode formar um coágulo que também impede a circulação adequada, aumentando ainda mais o risco de AVC.
“O LDL (colesterol ruim) transporta colesterol para as paredes arteriais. Em excesso, ele é depositado na camada íntima dos vasos e, com inflamação, forma placas de ateromas que estreitam as artérias ou geram trombos que podem viajar para o cérebro. Já o HDL (colesterol bom) ajuda a ‘remover’ colesterol da parede arterial e tem um papel protetor — por isso é conhecido como ‘bom’. Em suma: LDL alto = maior risco de aterosclerose e AVC isquêmico; HDL baixo também é desfavorável. Reduzir LDL mostrou diminuir eventos isquêmicos, incluindo infarto do miocárdio e AVC”, aponta.
Por que o diabetes é um fator de risco importante para o AVC?
O diabetes, quando não está bem controlado, pode danificar os vasos sanguíneos com o tempo. Isso acontece porque o excesso de açúcar no sangue altera as proteínas, causa inflamação, prejudica o funcionamento das paredes dos vasos e aumenta o risco de formação de coágulos.
“Isso aumenta aterosclerose de grandes artérias, doença de pequenos vasos cerebrais e também o risco de problemas cardíacos que geram êmbolos (por exemplo, fibrilação atrial). Pessoas com diabetes têm risco substancialmente maior de AVC do que quem não tem”, destaca Dr. Bruno Cruz.
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Segundo o cardiologista, a glicose elevada em longo prazo afeta os vasos sanguíneos e causa:
1) Dano direto ao endotélio (revestimento das artérias);
2) Formação de produtos finais de glicação que tornam a parede vascular rígida;
3) Maior deposição de lipídios e inflamação local;
4) Aumento da agregação plaquetária e fatores de coagulação.
“O resultado são artérias mais estreitas, frágeis e com maior propensão a formar trombos — cenário que eleva risco de AVC e outras complicações vasculares”, complementa Dr. Cruz.
De acordo com o médico, a fase conhecida como pré-diabetes ou intolerância à glicose (glicemia levemente elevada, mas ainda sem fechar o diagnóstico de diabetes) já está associada a maior risco cardiovascular em comparação com glicemias normais. “Nem todo pré-diabético terá AVC, mas é uma janela valiosa para intervenção: mudanças no estilo de vida e monitoramento podem impedir a progressão para diabetes e reduzir risco cardiovascular futuro”, ressalta.
Como reduzir o risco de AVC?
A maioria dos casos de hipertensão, colesterol alto e diabetes pode ser controlada e até evitada, com mudanças simples no estilo de vida. Dr. Bruno Cruz destaca que várias são as práticas que em conjunto podem contribuir para a redução desse risco e somatório de fatores negativos, sendo as principais:
- Alimentação: alimentação balanceada, evitando especialmente ultraprocessados, rica em verduras, frutas, grãos e fibras. Classicamente a dieta padrão mediterrâneo/DASH tem papel de destaque (frutas, vegetais, grãos integrais, peixes, azeite; reduzir sal, gorduras saturadas e ultraprocessados).
- Atividade física: pelo menos 150 min/semana de exercício moderado (ex.: caminhada rápida) + fortalecimento 2x/semana. A combinação de exercícios aeróbicos com exercício de força parece ser o melhor modelo atualmente.
- Controle do peso: reduzir 5–10% do peso corporal já melhora pressão, glicemia e lipídios.
- Sono e estresse: sono adequado (7-9 horas) e manejo do estresse reduzem pressão e melhoram saúde metabólica.
- Exames/monitoramento: verificar pressão em casa, medir glicemia/HbA1c e perfil lipídico conforme orientação; seguir prescrições médicas.
- Parar de fumar e limitar álcool: cada vez mais a dose segura de bebida alcoólica vem perdendo terreno, mudando o conceito antigo de baixa dose com efeito protetor. A conduta ideal nesse momento é evitar.
De acordo com o cardiologista, todas essas medidas juntas têm grande impacto preventivo, evitando não somente AVC e infarto do miocárdio como depressão, síndromes demenciais e diversos tipos de câncer.
“Evidências clínicas de boa qualidade nos mostram que mudanças de estilo de vida (dieta saudável, atividade física, cessação do tabagismo, controle do peso, redução de sal) reduzem claramente fatores de risco como pressão, colesterol e glicemia e, por consequência, diminuem o risco de AVC”, destaca.
“As novas diretrizes enfatizam que uma grande parcela de AVCs pode ser evitada com medidas de prevenção e rastreio adequados. Em pacientes já com múltiplos fatores, combinar medidas de estilo de vida com medicação quando indicada é a forma mais eficaz de reduzir risco”, conclui Dr. Bruno Cruz.
A hipertensão, o colesterol alto e o diabetes formam um trio perigoso, mas são condições que podem ser controladas. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado reduzem muito o risco de AVC e de outras complicações cardiovasculares. Agende sua consulta com um cardiologista D’Or.